Prólogo

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O som tranquilo das ondas quebrando a beira-mar me despertam calmamente. Alguns pequenos raios solares atravessam a cortina e iluminam timidamente o meu quarto. Como é bom estar em casa novamente! A empolgação toma conta de mim, e resolvo me levantar sem perder mais tempo em minha cama. Já são 9:30hrs da manhã! Espero que papai e mamãe ainda estejam na mesa do café.

Já estava quase saindo do quarto quando me lembrei que Alice — minha irmã — estava em casa com Julio, seu namorado. E com sorte, só seriam eles a essa hora. Até porque, mais tarde, a casa estará completamente cheia com meus famíliares. Um sorriso brota em meus lábios ao lembrar do caos que eu chamo de família, e que virá em peso hoje a noite!

Eu deveria estar feliz, afinal, todos eles se deslocarão de suas casas para vir até Búzios por mim. Aliás, estou morrendo de saudades de todos, até por que ano passado não consegui vir para o Rio passar o natal com eles. Já tem quase dois anos que não os vejo! E essa é a pior coisa de não morar no Brasil.

— Olívia meu amor, que bom que acordou! Precisava falar com você! — disse meu pai.

Meu pai estava sentado na mesa, lendo — tipicamente — o seu jornal de todo dia. Algumas coisas nunca mudam. Seu cabelo grisalho contrasta com seus olhos escuros. Ao observá-lo, um amor gigante enche meu peito, e a saudade que eu estava dele me atinge. Mesmo porque, só estava aqui fazia um dia! Não houve tempo para mata-la.

  — Tudo bem pai, estou aqui. O que posso fazer pelo senhor? — digo sentando a mesa ao seu lado.

Papai dobra seu jornal e põe ao lado da mesa, ele coloca meus pulsos apoiados na ponta e levanta o olhar em minha direção. Com certa cautela, ele diz:

  — Eu sei minha filha, que você veio pra cá apenas para passar férias. Mas... — ele pausa — Eu gostaria muito de pedir que você prolongasse a sua partida.

Aí tem alguma coisa, eu só não sei o que é...  Uma preocupação toma conta de mim e já me adianto:

  — O que foi? Aconteceu alguma coisa? Mamãe está bem de saúde, não está?!

Minha cabeça já viaja a mil, e milhares de coisas passam por ela nesse momento, desde a coisas bobas a casos de morte.

  — Calma Liv! Não é nada disso! — disse ele erguendo os lábios em um sorriso tranquilo  — Lembra-se do Russell?

Russell? O nome não me é completamente estranho, mas não é plenamente familiar. Busco em minha memória de onde vem e me lembro que vem da Russell's Company, o amigo de papai era o dono. Paulo Russell, um senhor muito simpático que tive a oportunidade de ver apenas uma vez.

—  Sim papai, me lembro! Mas o que tem?

— Então... — ele hesita —  Ele falaceu faz alguns meses... E agora seus três filhos tocam os negócios da família. Mas depois que ele partiu as coisas não são as mesmas... As ações da empresa no Brasil estão caindo, e levando com isso também a filial de Londres junto!

Agora sim... eu já até sabia onde ele gostaria de chegar. Mas é claro que ele quer a minha ajuda, do contrário, ele não tocaria nesse assunto. 

  — Sinto muito pela perda! Então o senhor acha que eu posso ajudá-los...

— Sim Liv, eu prometi ao pai deles que eu os ajudaria quando ele falecesse, mas você sabe que eu não tenho o mesmo vigor que antes, e não sou nem de perto tão bom ou qualificado para fazer isso como você é!

Como era bom receber um elogio desses dele. Eu sei que ele fala isso em uma parte para me agradar, mas também sei que ele não mentiria de forma alguma para inflar o meu ego. Saber que ele me considera melhor, até que ele, é uma alegria, não que eu me ache ser melhor, mas porque eu sei o quanto ele é bom e o quanto é exigente em níveis profissionais.

  — Papai, vou ver o que posso fazer. Dependendo do estrago na empresa, eu poderia precisar de meses aqui para resolver. — digo com certo desânimo.

— Isso não me incomodaria nem um pouco. Afinal, eu e sua mãe teriamos você aqui por perto por mais tempo. Mas acho que você não aguentaria ficar conosco tanto tempo...

  — Erick Stirling, que velho sem vergonha é você! — digo levantando e me sento em seu colo —  eu ficaria com vocês para sempre, e vocês sabem disso! Só que minha vida toda é em Sydney hoje, e eu já disse para vocês irem morar lá comigo!

Meu pai me abraça, e beija minha testa. Eu sei que ele só falou aquilo para colocar mais peso em minha decisão de ajudar a Russell's Company. Para ele fazer tudo isso para conseguir minha ajuda, deve ser muito importante para ele ajudar essa empresa. Então por ele, resolvo avaliar.

— Enfim papai — digo me levantado — Eu vou avaliar a situação, e ver o que posso fazer em pouco tempo ok?

Meu pai acena com a cabeça e me confirma que entendeu. Ele se levanta de seu lugar e sai andando em direção ao aparador que tinhamos perto da mesa. Ao chegar lá, observo ele tirar dois cartões de dentro de algum agenda, e vem em minha direção. Já até imagino o que seja. E realmente são, cartões da Russell's.

— Aqui, este é o cartão do Heitor, o filho do meio. Ele é co-presidente junto com Estevão. E este —  disse ele oferencendo-me outro cartão —  É o de Estevão, o mais velho e o com a maior parte das ações, o ideal seria tratar com ele, mas nessa semana ele não se encontra no Brasil, foi resolver algumas coisas na sede de Londres com a Katherine, irmã mais nova e responsável pela filial de Londres. Então você terá que falar a principio com o Heitor, que a essa hora, já deve ter lhe enviado um email.

Nossa, não sei porque meu pai fez questão de me dar esse relatório tão detalhado. Mas entendo, as coisas com ele sempre são BEM explicadas mesmo.

  — Tudo bem papai, falarei com o sr. Russell, mas por favor, você não me colocou nessa só por ser sua filha né? Aliás, eles podem não sentir confiança no fato de você ter me posto.

Meu pai solta um gargalhada e me deixa com cara de pastel. Porque ele está rindo assim?

  — Minha doce Olívia! Não fui eu quem sugeri você... Foi o próprio Heitor que ouviu falar dos seus méritos e me procurou, pedindo para eu interceder por eles, já que sua agenda é tão difícil!

— Papai! — o repreendi —  Até parece que é assim...

Com um sorriso, ele se vira e vai saindo em direção ao jardim, e lá longe consigo escutar quando ele diz:

— Mas é minha filha... pro seu bem, e meu orgulho é!

Eu olho para os cartões em minhas mãos e observo os nomes. Não sei o porque, mas posso sentir que alguma coisa vai acontecer em relação a isso, só me resta pedir a Deus que não seja tão ruim assim quanto eu penso que será...

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyWhere stories live. Discover now