20 - Ex-bruxa?

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Ali em Denfy, bairro onde Elias morava, as casas eram separadas por cercas, mas não em sua maioria. Eram todas iguais, uma ao lado da outra, diferenciadas apenas pela decoração de Natal própria. Childa e Thiar permaneceram sentadas na grama e já passava das 22 horas, hora das preguiças acordarem, bocejarem, e voltarem a dormir. A rua estava começando a ficar menos movimentada, apesar de algumas crianças brincando por perto. Parece que não se sabia nada sobre espectros. A rua onde Elias morava, Rua 8, tinha casinhas brancas com telhado marrom, assim como a dele, e possuíam um gramado mal cortado na frente. Culpa dos gnomos, que assim como os pombos, estavam em greve. E assim passaram aquela noite, olhando os fogos e a rua. O espetáculo foi simples, porém criativo. Havia efeitos que simulavam uma luta de espadas entre dois espadachins verdes, isso após as figuras em forma de dragão chinês. Dois quarteirões à frente, a multidão reunida vibrava à cada estouro. Após o espetáculo pirotécnico, Childa se prontificou a carregar os dois até suas respectivas camas. Anabel ficaria no quarto de Elias, enquanto ele dormiria com a mãe, no quarto dela. Ana e Elias ainda sentiam o cansaço da épica viagem até a casa do eremita Mud. Estavam às quedas de sono, aparentemente. Mas Anabel ainda tinha um plano...

- E então irmã, alguma coisa interessante para contar? - Perguntou Childa, após deixá-los nos quartos.

- Nada novo.

- Tem tido noticias de Cesar?

- Não. Aliás, não pronunciamos este nome aqui sabia? A pessoa à qual você se refere sumiu há muitos anos. Sabe disso!

- Eu notei que o rato chamou por seu nome de solteira. Lembro que Cesar tinha muito medo daqui.

- Medo?! - gargalhou Thiar, de maneira forçada. - Claro, ele nunca se sentiu bem com o jeito que as coisas ocorrem em Eivar. Mas isso não justifica o abandono de uma mulher e uma criança pequena.

Childa abriu uma latinha de cerveja.

- Mas o homem quis levar o filho. Você foi quem não deixou e ainda ameaçou de mandar o coitado para a Sibéria, via limo! O homem se apavorou mesmo. Você realmente o mandou para lá?

- Sim, mas foi só por duas horas.

- E quais as partes do corpo dele não congelaram? - disse Childa, tomando dois goles.

- Eu não gosto de me lembrar desta pessoa. Por favor, entenda.

- Tudo bem, não se chateie. Parece que as coisas aqui continuam do mesmo jeito. Estou enganada?

- Não. Tudo continua igual, igual a todos os outros anos comigo. E Elias sempre do mesmo jeito. Quieto, extrovertido, bobo, esperto demais... Sempre tenta me enganar de alguma forma, mas eu bem sei como descobrir suas armações.

- Ele não compartilha nada com você?

- Não. Agora por exemplo, a dona Laura, avó de Anabel, fez-me prometer que não iria pressioná-lo, não iria deixá-lo mais estressado do que já é. Aconteceu algo muito terrível com Ana, e Elias foi quem a salvou. Tudo indica que pode ter sido obra de um espectro.

- Nossa... Então aconteceu algo grave. Ou é impressão minha?

- Ainda não se sabe. Elias nem mesmo especula se deve me contar ou não alguma coisa, e eu não sei o que faço.

- O cabeção deve saber o que quer. Talvez você signifique um problema para ele, será que não reclama como uma louca?

- Não é motivo para deixar de confiar em mim!

- Não é uma questão de confiar ou não. Talvez nesse momento ele não esteja com tempo para lembrar.

- Não é isso.

O Sagitário De SamechOnde histórias criam vida. Descubra agora