Capítulo 3 - Melinda

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                                                                         ~ 03 ~

                                                                       Melinda

Após ser espremida durante minha viagem de trem em direção ao trabalho, eu deslizei sobre meu assento costumeiro, descansando minha bolsa no chão ao meu lado e notando que Christine estava atrasada.

Outra vez.

Ao que parecia, manter-se deslumbrante não era uma tarefa fácil nem mesmo para pessoas que já eram privilegiadas geneticamente.

Um par de horas se passou até que eu escutei a risada estridente de Christine soando pelo corredor e então ela adentrou nosso pequeno espaço, jogando seus cabelos ruivos de um lado para o outro.

— Bom dia! — ela me cumprimentou alegremente, deslizando na cadeira ao meu lado. — Você não vai acreditar no que aconteceu na noite passada!

Noite passada... noite passada...

— Tudo correu bem entre você e John? — inquiri, fingindo interesse.

Christine torceu o nariz em desgosto.

— Ele é passado agora! — anunciou. — Se fosse por ele, a noite de ontem teria sido um horror. Mas... eu encontrei Anthony Cooper — Christine me inteirou animadamente.

— Anthony Cooper? — testei, incrédula. — O chefe do RH?

— Exatamente! — confirmou com um sorriso largo. — Ele me pagou uma bebida e, bem, nós nos divertimos juntos ontem à noite — disse num tom malicioso.

— Ele não é velho demais para você? — inquiri um tanto quanto aturdida, pensando no homem de aparência elegante e na casa dos cinquenta anos de idade.

— Eu não ligo para essas superficialidades, Linda. Você já deveria saber.

Claro que não!, pensei comigo mesma. Não faria sentido algum pensar em algo tão superficial quando a conta bancária do senhor Cooper era tão... atraente.

Meneei a cabeça de um lado para o outro, tentando fazer com que toda a loucura de Christine se afastasse de meus pensamentos e permanecesse assim: a anos-luz de distância.

Voltei minha atenção inteiramente ao trabalho, esforçando-me ao máximo para deixar toda e qualquer outra ponderação longe da minha mente. Mas Christine não seria tão colaboradora assim. Claro que não.

— Melinda Calle, eu estou falando com você!

Estremeci.

Escutar alguém me chamando assim, utilizando meu vergonhoso sobrenome, era, no mínimo, humilhante e depressivo. Tentando ao máximo esconder meu desconforto, girei meu tronco minimamente para a direita, encarando Christine.

— Desculpe... eu não ouvi o que você disse.

— Muito oportuno — debochou erguendo os cantos de seus lábios. — Eu estava perguntando se você não gostaria de sair comigo esta noite. Quer dizer... você, eu, Anthony e um amigo dele.

— Acho que não vai dar — murmurei timidamente.

— Por que não? — Christine inquiriu franzindo o cenho. — Você tem algum tipo de compromisso com algum cara?

— Não é isso. Eu só... não saio muito. — Dei de ombros, fingindo indiferença.

— Não sai muito? — retrucou com ar de quem achava a afirmação absurda. — Você quer dizer que... não tem encontros com muita frequência?

Doce Amargo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora