Conselho

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Não houve comentários, vozes e nem o som da respiração das lunares. Um silêncio dominante tomou toda a fortaleza da lua. Os corpos do salão de Elinor foram cobertos por véus brancos. Todas as baixas foram para os seus devidos aposentos. Aubrey se despediu de Meg com um abraço de solidariedade. Terez era sua companheira de quarto, afinal.
Começou a chover. Aos poucos, a chuva foi se intensificando, até o vento fazer barulho pelos corredores. Aubrey voltou para o aposento de Garva, onde ficou sentada na escrivaninha, chocada. Três mortes em um mesmo dia. Ninguém conseguiu impedir. Ninguém. A verdade agora estava estampada e só não veria quem não quisesse. Ysmatiz, a lunar mais cruel de todas, estava de volta. Em espírito ou em corpo, disso ninguém sabia. Após alguns instantes, a porta se abriu e Garva entrou.
- Se arrume. - Ela disse a Aubrey, que usava as roupas de treinamento. - O grande Conselho vai se reunir. Assistentes de altas estarão presentes.
Aubrey assentiu, indo para o seu quarto sem dizer uma palavra. O seu coração doía. Na fortaleza da lua ela sempre se sentiu em casa. Não queria que isso acabasse. Queria viver ali como uma lunar até o fim de seus dias. Era esse seu objetivo primordial. Colocou o vestido branco e se reuniu a Garva, indo em direção a Torre do Conselho. Garva andou o caminho todo em silêncio, assim como Aubrey. Não havia nada para comentar. Ysmatiz assassinou três lunares. Era um fato.
As duas chegaram ao grande lance de escadas que daria para a Torre do Conselho. A porta já estava aberta.
- Estamos atrasadas. - Garva disse, começando a subir, sendo seguida de perto por Aubrey.
A sala do Conselho era uma grande sala em forma oval com uma grande mesa redonda no centro. Um enorme lustre de cristal estava disposto em cima da mesa. As chamas brancas iluminavam todos os rostos que ja estavam ali sentados. Elinor, Kelene e várias outras médias se sentavam ali. Ryan, que também se sentava, encarou Aubrey quando entrou. Depois de todos estarem sentados, Kelene se levantou.
- Declaro iniciada a reunião do Conselho da fortaleza da lua. - Ela disse com a voz baixa, o que não era normal dela. - Ysmatiz voltou.
- Não há provas disso. - Ryan disse sem pedir para falar. - Os solares saberiam se ela voltasse.
- Os solares só se preocupam com seus próprios narizes. - Garva encarou Ryan com seus olhos cortantes. - Três lunares foram mortas, Ryan. Sabia disso?
Ryan ruborizou. Parecia estar ali no Conselho somente por estar.
- Eu... - Ele tentou dizer mas pareceu gaguejar.
- Voltando ao assunto principal. - Elinor tinha os olhos vermelhos. - Não podemos continuar assim. É crucial que tenhamos uma estratégia de defesa. E rápido. Não quero mais perder nenhuma lunar.
- Não vamos. - Kelene colocou sua mão sobre a de Elinor, em um sinal de apoio. - Na última vez que Ysmatiz voltou, os solares ajudaram. Eles devem ajudar novamente.
- A fortaleza do sol fica a três dias daqui. - Garva disse. - Não temos tempo. Se Ysmatiz souber que receberemos ajuda, ela agiria pior.
- E o que vamos fazer, Garva? - Kelene alterou sua voz. - Deixar a lunar mais poderosa aqui na fortaleza e fugir? É isso que Ysmatiz quer que fazemos.
- Vamos todas enfrenta-la. - Garva respondeu. - Não sabemos como ela voltou dos mortos, mas sabemos que está usando magia.
- Magia do sol e da lua. - Ryan disse, depois de ficar o tempo todo calado. - Por isso os solares devem se unir a vocês. Somente a lua não pode derrotar sua própria força combinada com a do sol.
- Vocês não estão ouvindo a voz da razão. - Elinor limpou uma lágrima. - Não temos força para combater Ysmatiz. Já a vencemos uma vez, mas...
Elinor começou a chorar. Uma média ao seu lado a abraçou. Todas as lunares sabiam da história de Elinor. Tinha a família mais conhecida composta por solares e lunares a gerações. Ysmatiz em uma só noite, dizimou a todos, deixando viva somente ela.
- Todas as lunares vão para a arena. - Kelene disse com a voz forte de sempre. - Quero somente as altas e Ryan aqui. Decidiremos o destino da fortaleza.
Todas as lunares, inclusive Aubrey, se levantaram e saíram.
- Aubrey. - Garva disse. - Fique.
- Eu disse todas as lunares, Garva. - Kelene estava séria, impassível.
- Disse. - Garva sorriu. - Mas não disse a grande Sacerdotisa.
Aubrey sentiu a espinha se arrepiar. Na sala, só haviam ela, Garva, Kelene, Ryan e Elinor. Elinor parou de chorar e a encarou.
- Sacerdotisa? - Ela disse, com lágrimas ainda frescas nos olhos. - Garva, a última sacerdotisa morreu há muitos anos atrás. É impossível que...
- Aubrey tem todos os indícios. - Garva fez um sinal com a mão para Aubrey se sentar. - O último indício é o motivo de Ysmatiz estar de volta. Eu tenho certeza.
Ryan riu. Um ato totalmente desnecessário. Aubrey o encarou, se lembrando do murro que ela já lhe deu.
- Me desculpem, senhoras... - Ele parou a risada mas continuou com o sorriso no rosto. - O sacerdote dos solares é um homem idoso e sábio. Não seria possível a sacerdotisa das lunares ser uma lunar baixa.
- Eu discordo, Ryan. - Garva parecia estar desesperada. Precisava provar seu ponto. Aubrey estava muito envergonhada. - Os solares sempre foram diferentes das lunares. Impulsivos, pouco pensantes e muito... improváveis.
- Garva. - Kelene se interessou pelo assunto. - Apesar de ter a possibilidade de Aubrey ser a grande Sacerdotisa, ela ainda é uma baixa. Sacerdotisas são do mais alto nível na fortaleza.
- Você acha que Ysmatiz se importa com isso? - Garva se levantou. - Por isso ela quer que deixemos Aubrey aqui na fortaleza. Ela é a mais forte entre as lunares.
- Eu voto em lutar. - Elinor se levantou, assustando a todos, sua expressão de choro mudada para confiança. Esperança. - Aubrey, vi sua força na arena. Acredito que se todas as lunares se juntarem, venceremos novamente.
- Também voto em lutar. - Ryan ficou de pé também. - Apesar de não quererem a ajuda de todos os solares, pelo menos um pode lhes ajudar.
- Lutaremos. - Kelene se levantou por último. - Cada média defenderá três baixas. Uma estratégia será formada por toda a fortaleza. Iremos vencer Ysmatiz mais uma vez.
Garva sorriu.
- Vamos para a arena. - Garva abriu a porta. Era isso que ela queria. Todas unidas. Fortes. Não fugiriam. - Que mãe lua nos guie nas batalhas futuras. Todos foram rumo a saída. Elinor ficou.
- Podem ir na frente. - Elinor disse andando até Aubrey. - Gostaria que Aubrey me aguardasse. Preciso me recompor...
- Eu fico, Elinor. - Aubrey fez um sinal de sim com a cabeça para os outros, que saíram, deixando as duas sozinhas na sala. - Esta se sentindo bem?
- Ótima. - Ela disse. A porta se fechou com um estrondo nas costas de Aubrey. A tranca fazendo barulho. - Melhor agora, Aubrey Moon.
Estavam presas.
















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