Capítulo 1

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Abaixei o vidro do carro e coloquei a cabeça para fora a fim de encarar melhor a paisagem. Era como estar dentro de um romance da Jane Austen aquela visão. O carro passando pelo caminho ladeado por plantas bem cuidadas, enquanto uma mansão de construção antiga surgia a frente, o terreno se expandindo ao fundo. Consegui ver um jardineiro cuidando das flores de frente da casa quando o carro fez a curva e estacionou diante das escadas que davam na porta entalhada da entrada, por onde um mordomo surgiu.

Apesar de tudo que devia ter naquela casa, que poderia possivelmente me proporcionar diversão, não me sentia nada animada de estar ali. Não era uma escolha minha aquele lugar, e eu claramente não me encaixava ali, o que ficou claro quando desci do carro e o tal mordomo me olhou de cima a baixo, subindo novamente. Seu semblante era impassível, mas só o jeito de me analisar disse que meu look rock despojado não era algo que ele via todo dia, e muito menos que curtia. Bom, isso era um problema dele, não meu.

— Senhorita Klein, é um prazer recebe-la. — disse o homem com uma breve reverência de cabeça, o sotaque britânico acentuado, indicando que era do norte do país. — Entre, sua presença já é aguardada na sala do chá. — indicou a porta aberta com um movimento da mão.

Dei um sorriso forçado e subi as escadas até ele, ajeitando a alça da minha bolsa preta de couro no ombro.

— Pode deixar seus pertences aqui. — diz o velho homem notando minha bolsa. — Iremos levar ao seu aposento, junto de suas malas.

— Ah! Não, tô de boas. — dou um sorriso mais simpático dessa vez.

Um leve arquear de uma de suas sobrancelhas cinzas foi tudo o que indicou que aquela não era a resposta que ele esperava, e eu não estava ali para me importar com o que ele pensava ou deixava de pensar a respeito da minha atitude. Ok que minha mãe havia me enviado para "aprender a me comportar melhor. Ser menos rebelde", segundo suas palavras, mas as pessoas quem eu devia convencer disso não eram as que trabalhavam na casa.

Entrei na residência e meus lábios foram se abrindo conforme eu olhava a decoração do lugar. Eu nunca entrei no palácio real, mas podia apostar que tem uma decoração nesse estilo. Um piso brilhante e impecável cor de creme se estendia por todo o enorme hall, que devia ser praticamente o tamanho da casa onde eu vivia com minha mãe. As paredes também tinham um tom de creme, feitas de pedra que eu não fazia ideia de qual era, com arandelas douradas fixadas, além dos lustres, que eu apostava serem de cristal, no teto. Uma grande e redonda mesa estava no centro do hall, com um lindo arranjo de orquídeas brancas encima. Ao fundo de tudo havia duas escadas que se curvavam de forma crescente até se encontrarem no segundo andar, o que fazia o teto do hall ser absurdamente alto, e ricamente decorado nas bordas com arabescos que brilhavam como ouro — o que talvez fosse mesmo.

— Senhorita? — o mordomo chama minha atenção.

Olho para ele e dou um assobio longo, girando e indicando a decoração.

— Foda, hein.

— Er... Acredito que sim. — diz confuso, logo se recompondo a uma expressão impassível. — Poderia me acompanhar agora? Pode conhecer mais da residência depois.

Dei de ombros. Eu até poderia visitar tudo, mas esperava não passar tempo suficiente para decorar todos os cômodos que haviam.

O segui até uma das duas entradas que haviam, à da esquerda, que dava em uma ampla sala bem iluminada pela luz do dia. A decoração era refinada, com papel de parede com pequenas flores, mais arabescos dourados como ouro (isso se não fossem mesmo), moveis clássicos com cara até de confortáveis.

No fundo do cômodo, próximo às janelas amplas que estavam abertas e por onde entrava uma leve brisa que balançava as cortinas finas azuladas como o céu, havia uma mesa com todo um refinado jogo de chá, bolinhos e frutas servidos. E sentadas ao redor dela há duas mulheres e duas garotas, que ergueram os olhos ao notar eu entrando.

Confusões no ReinoWhere stories live. Discover now