4 - Agridoce

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Ele não acreditava em perdão, porém seus pais sim, e era por conta deles que se encontrava agora adentrando o saguão do hospital, indo em direção aquele que amou, disposto a escutá-lo.

Porém não foram palavras que o receberam, mas sim o terrível som de regurgitação. O som lhe enojara, porém a cena de flores deixando os belos lábios de Oliver o apavorou. A pontada, antes leve, tornou-se moderada, e James precisou se sentar para recuperar o oxigênio e ter ar suficiente para se pronunciar. Ar este que o abandonou novamente ao ouvir a triste história da adolescência de Oliver.

― O caso foi arquivado, jamais registraram algo grave em meu nome porque eu era inocente perante a lei. ― Oliver finalizou com um suspiro pesado, tentando controlar outra crise de tosse ― Eu não matei por diversão, nem por vingança, nem por ser um psicopata; eu matei por uma infelicidade do destino, porque eu não podia ver alguém que amo sofrendo. Fui inocentado perante o juiz, e impedido de comentar a respeito, mas não me importei com a proibição: afinal, o importante é que eu havia sido perdoado. Mas nossa natureza não perdoa, Jimmy, e muito menos esquece: cinco anos se passaram, eu sofri na minha antiga cidade com a injustiça e julgamento dos demais, mas nada daquilo me machucou tanto quanto te ver fugindo de mim.

E as lágrimas que tomavam os olhos de Oliver agora eram as mesmas que escorriam pelo rosto de James, que se sentia duplamente angustiado e sufocado. A culpa por julgar o amado o consumia quase da mesma forma que a dor interna de Oliver acabava com os dois: fisicamente com seu portador, emocionalmente com sua alma gêmea.

― Me perdoa! ― James jogou seus braços ao redor de Oliver, abraçando-o com força, esquecendo-se da dor que os causava. ― Eu sou um idiota rancoroso, e eu te machuquei tanto. Eu sou pior que seu pai, eu sou o pior tipo de alma gêmea que alguém poderia ter: eu te deixei pra morrer e nem estaria aqui se não tivesse sido arrastado. Eu sou o pior tipo de pessoa, pedindo seu perdão quando sequer o mereço, ou acredito em tal coisa.  

Soluços e os bips dos aparelhos se tornaram a trilha sonora daquela cena tão bela e amarga, em que havia tantas dores envolvidas: a dor de perder um ente querido, a dor de ver um familiar se transformar em um monstro, a de ser tido como um monstro até mesmo porque aquele que amava, e especialmente a dor do reencontro. Porque a dor da partida só se é sentida quando se volta.

― Você jamais conseguiria ser como meu pai, mesmo que me destruísse em mil pedaços e os juntasse para repetir o ato! ― Oliver murmurou, apertando o noivo contra si, sentindo o perfume de seu shampoo. ― Eu entendo porque se sente incapaz de perdoar, eu lembro o que me contou sobre sua irmã... E eu queria ter lhe contado a verdade naquele momento, mas eu não poderia infringir a lei mais uma vez, além do que... Senti-me envergonhado.

― Me desculpe por isso também! ― James deu uma risada amarga, ainda abraçado a Oliver, acariciando seus cabelos. ― Eu sou um merdinha!

― Às vezes! ― Oliver ri, mas sem sentir peso algum em seu corpo. ― O fato, meu amor, é que ambos temos nossos traumas, e está tudo bem: cada um lida com suas dores de uma forma, afinal só quem está vivendo o martírio sabe o que sente.

― Eu não sei como acabamos sendo a alma gêmea um do outro quando, claramente, você merece alguém melhor que eu! ― James se afasta, encarando os olhos brilhantes de Oliver. ― Como consegue se sentir feliz comigo aqui se está doente por minha causa?

― Porque agora que você está aqui, tudo vai ficar bem!

Lírios Vermelhos Where stories live. Discover now