1-2 | E s s ê n c i a D a T r a i ç ã o

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Capítulo 2 | Essência da Traição

Agosto de 1764

Os saltos médios brancos da mulher produzem sons baixos no assoalho enquanto ela passa, se dirigindo a passos considerados rápidos e ao mesmo tempo compostos para uma dama de classe. A seda amarela alegre de seu vestido não combina com seu humor fechado e com o clima nebuloso do dia. As mãos torcem a manga do vestido apesar dela estar ciente da clara quebra de etiqueta ao fazer isto.

Chegando a porta do escritório de seu marido, o Visconde Griffith, ela hesita por dois minutos antes de dar dois toques suaves que na sua mente parecem ecoar por toda a extensão da casa de campo. Ouve um "Entre" rude que foi abafado pela madeira espessa, ela entra no cômodo, sendo recebida pela energia gélida que emana do homem.

- O que quer, mulher? Não vê que seu marido está trabalhando! - Ele brada enquanto gesticula exageradamente, Lady Griffith sempre achou esses modos de seu marido uma tentativa fútil de se fazer presente com seus 1,60 de altura e pança enorme, não que ela se atreva a dizer isto.

- Perdoe milordy pela interrupção, mas creio que o assunto é urgente demais para que eu o espere me chamar. - Diz resignada, não intimidada pela fala feroz, na verdade ainda mais determinada a levar o assunto adiante.

- Então diga! Diga logo e se vá!

- Milordy, sei que não devia questiona-lo, porém, não pensa que sou mulher suficiente para ti? Não se satisfaz quando se deita comigo todas as noites? Por que tens que procurar uma amante para aquecer seus lençóis, quando sua dama aqui está?

Furioso, Visconde Griffith bate com as mãos na sua mesa de madeira clara e levanta suas gorduras da cadeira que senta. Apontando o dedo maior em direção ao rosto de sua esposa, grita:

- Não ouse dizer mais nada! Saia! Saia agora antes que eu puxe meu cinto e lhe der a surra que merece!

Sem o que mais poder fazer, a viscondessa dar passos rápidos para trás, sua face preenchida com falso temor criado apenas para agradar seu marido que respira ruidosamente dando várias baforadas e a observa partir desolada.

Enquanto se afasta do escritório para chegar até seus aposentos do outro lado da casa, ela se mantém impassível e com a mente vazia a cada passo dado. Os brados de seu marido que ficou para trás foram mal abafados pela porta enquanto ele grita, sendo ouvido apenas pelos criados fofoqueiro que ali passam "Mulher burra questionando homem inteligente! Onde no mundo já se viu!".

Viscondessa Anastácia Nikolaevna Romanova Griffith, aos seus vinte e um anos se casou com o Visconde Griffith que já tinha trinta e nove, o homem se sentiu exaltado, especial quando se casou com a filha mais bonita da casa Romanova, e quem não se sentiria? A mulher de olhos azuis claros, cabelos loiros longos e corpo invejável.
Além de causar inveja a muitos outros homens da alta sociedade, eles também sentiam que foi um desperdício uma mulher como ela ter se entregado a tal homem. O que de fato não é uma mentira. Motivos? Inconclusivos, ainda há questionamentos em torno do por que a família permitiu tal matrimônio. Dinheiro? Não os falta. Prestígio? Não. Amor? Difícil escolher tal opção quando a repulsa estar presente em cada parte do ser de Anastácia quando a mesma é tocada pelo homem, seja acima ou fora da cama. A união ainda perdura mesmo que tenha se passado cinco anos agora.

Em frente ao espelho, ela cruza suas mãos em cima de seu colo e olha pela janela a extensão de seu jardim de rosas brancas, perdida em pensamentos. A suas costas penteia seus cabelos Mirtie, uma camponesa sem histórico prestigioso, sua recém escolhida a dedo pela viscondessa como dama de companhia. Faz duas semanas que a garota de cabelos negros foi posta nessa posição, dando um grande salto de servente na cozinha como ajudante pessoal.

- Cante para mim, menina. - Anastácia manda. Está ai o motivo de sua escolha, a voz hipnotizante da garota.

- Como deseja, milady. - Os olhos das duas se encontram no reflexo do espelho, o âmbar no azul mar, e a viscondessa vê nele o reflexo dela mesma, uma parte que ela esconde dentro de si em outra pessoa, e ela não teme isto, mas aprecia a ousadia e determinação ali contidos, o desejo e a ganância do "mais".

E Mirtie canta, levando assim as preocupações da outra mulher com sua voz que se desvanece aos poucos em cada palavra até o fim da música.

[...]

Os quartos dos dois são adjacentes, isto faz com que seja possível para Anastácia ouvir os sons de burburinho e arfar vindo do quarto ao lado onde seu marido passa outra noite com uma puta. Desconsiderando os clamores da sua mulher e trazendo vergonha para a mesma, imagina o que os criados pensam ou verbalizam enquanto ninguém estar por perto: "Ela é uma falha como esposa", "Coitada da viscondessa" ou o mais cruel "Ela merece, assim sabe como é não ter uma vida perfeita".
Anastácia permanece acordada a todo momento enquanto está deitada de costas na sua cama, os cabelos loiros esparramados ao seu redor, vestida com sua camisola verde cintilante favorita ela fita o teto abobadado do seu quarto, contando os minutos.

Os sons param ao lado, ela continua contando. os sons voltam agora mais altos e mais finos, a Lady continua contando. Até que perde as contas dos números, e as formas se tornam distorcidas, sua visão pesa e suas pálpebras descem pedindo que sejam fechadas e seladas, a respiração dela se torna uniforme, sua luta para se manter acordada e na sua derrota a viscondessa não percebe que os sons no quarto ao lado finalmente cessaram a alguns minutos. Não até que a maçaneta de sua porta é girada e o brilho de uma vela acessa ilumina o quarto escuro, criando sombras assustadoras nas paredes.

A senhora Griffith se levanta na cama, agora mais desperta do que nunca, sentada ela fita a figura que adentra seu quarto na calada da noite silenciosamente como um assassino que não deixa rastros ou um ladrão astuto.

- Milady Romanova. - A voz rouca sopra e apesar de longe o dono da voz estar, ela ouve como se soprasse em todo o seu ser, da cabeça aos dedos dos pés.

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