Ápice.

3.7K 342 7
                                    

- Meus pais me tiveram cedo. Minha mãe com 15 anos e o meu pai com 21. - começou Thay. - Desde o começo os meus avós maternos cuidaram da gestação. - fez uma pausa. - Quando eu nasci os meus pais não sabiam como cuidar de uma bebê. Então os meus avós tomaram a frente e me criaram.

"Alguns anos depois, meus pais se separaram. Meu pai se casou e teve um filho. Meu irmão Ryan. E minha mãe se envolveu com um senhor de idade. Engravidou dele propositalmente, por causa do dinheiro. Alison nasceu saudável, mas não era desejado pelos pais, até então logo em seguida os dois se separaram. Meus avós não conseguiram pegar a guarda dele, porque a minha mãe queria o dinheiro da pensão do pai do Alison."

- O seu irmão teve algum trauma? - perguntei. Ela pensou e respirou fundo.

- Trauma? Não. - respondeu. - Ele cresceu revoltado com tudo e com todos. - respirou fundo. - Mas quando ele ia para casa dos meus avós, ele era outra pessoa. Era feliz, brincalhão e carinhoso. - disse com os olhos úmidos.

- E o que houve? - perguntei.

- O pai dele faleceu. O dinheiro foi para a conta da minha mãe. Ela se casou outra vez, e teve mais três filhos: Thiago e os gêmeos Alana e Sidnei. Thiago é autista, mas o nível não é tão grave. Os gêmeos são saudáveis. - deu uma pausa e tomou mais um gole de vinho.

- E o que aconteceu com o Alison?

- O meu padrasto nunca gostou de mim e dele. E com isso, conseguiu convencer a minha mãe colocar o Alison na rua. - sussurrou com a voz embargada. - Ele morou conosco durante um tempo. Mas os meus avós descobriram que ele estava envolvido com drogas. E eles deram duas opções para ele: largava essa vida ou...

- Iria para rua. - terminei. - Mas o dinheiro do Alison ficou a sua mãe?

-Não, o marido de uma amiga da família conseguiu passar o dinheiro para o nome do meu irmão. - comentou Thay. - Mas o Alison gastou tudo, e não pensamos que foi nas drogas.

- E qual foi a escolha dele?

- A rua. Ele foi criado liberto, e na casa dos meus avós tem regras, então ele não soube lidar.

- Isso acontece em muitas famílias. - lamentei. Thayná não demonstrou nenhuma emoção.

- Não tive contato com ele, mas sentia que algo iria acontecer, e eu tinha que alertá-lo. - murmurou. - Um dia fui atrás dele. Soube que ele estava morando numa casa pequena. Quando cheguei lá, ele me recepcionou muito bem. A casa estava limpa e bem arrumada. Almoçamos e ele me contou que conseguiu passar na prova militar.

- Ele quer seguir carreira na base militar? Isso é incrível, é uma história de superação. - comentei.

- Esse sonho não se concretizou. - ela deu mais uma pausa. - Nesse dia a polícia estava fazendo uma varredura nos locais. Só me lembro dos disparos e do meu irmão nos meus braços com dificuldade para respirar. - sua voz ficou trêmula. Fiquei sem palavras para o que eu estava escutando. - Eu não parava de dizer á ele que tudo iria acabar bem. E assim ele se foi... e vi a nossa infância juntos, brincando e ele sorrindo passando diante de mim. - fungou.

- Amor... eu sinto muito. - deixei a minha taça de vinho num canto e abracei-a. Thay ficou em silêncio por um tempo.

- Depois disso fui levada para a delegacia. A minha avó ficou uma fera quando soube o que eu fiz. - disse.

- Você tinha o direito de ver o seu irmão. - rebati.

- A minha avó é muito rígida com muitas coisas, e uma delas é a educação. - falou. - A semana passou devagar, e todos os dias eram brigas, e ela culpava o meu irmão por tudo. Nunca me deixava falar. - suspirou. - Até que um dia a minha tia me buscou para uma visita ao túmulo do meu irmão. A minha avó discutiu com ela, e com isso decidi sair da casa dos meus avós.

O RecomeçoWhere stories live. Discover now