Flor que cai

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Hana estava para receber alta do hospital, felizmente a pancada que recebeu na cabeça não havia afetado área alguma. Sim eu estava aliviado e agradeci à Deus por isso. Mais e mais meus olhos imploravam para serem fechados. Eu tinha muito medo, e pressentia que algo eu devia fazer ainda. Mas o quê?

Ainda estava incerto sobre o que estava acontecendo. Me tornei um desencarnado? Tudo parecia muito errado e eu sentia uma repulsa imensa de voltar ao meu quarto. É, eu nunca parei para imaginar o que aconteceria se eu entrasse lá. Respostas talvez, quem sabe até descubra que tudo isso não passou de um mal-entendido, ou eu encontraria meu corpo desconectado à mim. Caminhava enquanto pensava e imaginava com o que iria me deparar, foi então que algo pior me aconteceu. Sim, a enfermeira despreocupada que vinha, atravessou-me como se fosse uma brisa. Terror, foi o que senti. Eu morri.

Desisti de entrar em meu quarto, o pavor que sentia me impedira, corri à Hana e me tranquilizei ao seu lado. Enquanto contornava com meus olhos a bela face de minha noiva, chamei seu nome como um sussurro. Ela podia estar ao meu lado, mas como sentia falta dela.

— Taemin...?! — ela olhou às pressas em volta do quarto — É você?! Eu... eu posso sentir o seu perfume.

Sim, sou eu meu amor. Ah como eu queria falar, contudo me obriguei a calar-me, ela estava me sentindo, toquei seus dedos, e com o rápido reflexo que ela teve tive certeza.

— Você não pode... Está perdido?! — ela parecia em si confusa, não tinha uma direção para focar seu olhar — Como você está?! — ela transbordou em lágrimas — Sinto sua falta, sinto tanto... Não vá! Você tem que voltar!

Sim eu irei, me espere e tudo acabará bem.

A enfermeira lhe trouxe o jantar, acredito que o pouco da minha presença à tenha dado forças para viver, ela se alimentou bem ao mesmo que tentava explicar a outra presente no quarto, que eu nunca a deixaria, por eu ser um homem de palavra, nós iríamos nos casar afinal. De certa forma, mesmo que há dias eu não sentisse, meu coração palpitou. Foi uma sensação tão forte que eu não pude tomar fôlego. Minha visão escureceu e aos poucos meu ar foi faltando. Quando me dei por mim, senti as luzes fortes tocarem minhas pálpebras.

— Rápido! Estamos perdendo ele! — algumas vozes vinham de cada lado. Senti algo frio tocar meu peito — Se afastem! — A cada impulso que recebia, eu via uma luz quente envolver meu corpo, era dourada e tão acolhedora que chorei.

— Por favor, me deixe ir agora.

Acordei novamente em minha cama do hospital. Estava tendo apagões muito frequentes, encontrava-me cansado de dúvidas, então decidi me levantar e procurar respostas. Ao olhar para trás me atormentei. Sim, lá estava eu deitado sob a cama, ligado à uma grande máquina. Parecia tão horrível que quis tampar meus olhos. Foi assim que eu estive durante esses cinco dias? Como uma pancada eu desfaleci, rápido como apagar uma lâmpada, e num piscar de olhos me encontrei novamente naquele vasto vale. Refrescante, belo e confortável, meu coração antes esquecido estava enfim aquecido.

— Por que Deus, me faz participar de seus jogos? Por que caber a mim escolher algo tão difícil? — não esperava por uma resposta, assim como não tive uma, obviamente Ele sabia qual seria minha escolha. Ao ter contato novamente com àquelas águas claras e cristalinas, pude ver meu reflexo, quando notei algo estranho fui puxado para dentro d'água. Enquanto me afogava via tudo mudar. Calor que me deixava frio, tormento e gritos. Sim, o inferno. Estava preso enquanto encarava eu mesmo.

— Quem é você?! Por que se parece tanto... comigo?!

— Eu sou tu, tu és eu — ele riu com deleite e desapareceu. Com certeza àquela era a voz em minha cabeça.

— O que você quer de mim?! — por ser um local tão agonizante, quis fraquejar e fugir. Entretanto, para onde?

— Respostas — mesmo que estivesse oculto, sua voz ecoava em minha mente — Ficarás ou para sempre partirá?!

— Eu... eu não consigo entender! — ele riu de forma medonha e então surgiu bem à minha frente, com um toque seu em minha testa, eu finalmente alcancei a superfície.

Respirando com dificuldade, saí da água, inexplicavelmente eu estava completamente seco. Fitei as grandes montanhas e ilhas pelo horizonte. Que eu nunca mais saia do Paraíso.

Finalmente acordei. Estava debruçado na cama de Hana. Ela me olhava com tremor ao mesmo tempo que chorava de satisfação. Ela podia me ver? Sua mão tremula fora a mim, tentou me tocar. Recuei.

— Por que está aqui? — sua voz fraca era como um sussurro — Você está...?!

— Hana...! — aumentei minha voz com o intuito de fazê-la voltar a si, as luzes piscaram. Enquanto ela me encarava temendo o pior, me aprontei para auxiliá-la — Você precisa me escutar. Hana, eu tenho que — ela cobriu suas orelhas.

— Não, eu não quero escutar nada! — ela negava diversas vezes com a cabeça mantendo os olhos fortemente fechados.

Levei minhas mãos de encontro com as dela. Hana ainda tremia, mas consegui finalmente tocá-la. Ela permaneceu de olhos fechados ignorando qualquer contato visual comigo. Entrelacei nossos dedos.

— Eu te amo — com essa pequena e simples frase eu à fiz chorar, mas tive seu olhar voltado novamente à mim — Eu não posso mais ficar aqui, antes eu não queria enxergar a verdade, mas até quando vamos nos prender a uma realidade que já não existe mais?

— Não! Você está mentindo! Se me amasse não tentaria me deixar para trás!

— Não diga isso, você sabe que não é verdade. Hana é por eu te amar que estou te libertando, se eu ficar, você não vai seguir em frente. Você consegue compreender isso?

Se alguém está triste e sozinho, é igual quando não posso tocá-la.

— Não... eu, não... — ela soluçava enquanto se perdia em suas próprias palavras — Por que vai tirá-lo de mim?! — ela jogou sua fúria em Deus. Ela havia aceitado, mas precisava me deixar ir.

— Era mais fácil e feliz ver os nossos sonhos enquanto estávamos abraçados, mas aonde quer que o futuro nos leve, o tempo passará de forma monótona. Certamente, em um lugar distante, eu estarei lhe esperando e quando o momento chegar, virei te buscar, mas por agora só poderei caminhar olhando diretamente para frente. Tenho que ir, para que no futuro nós possamos nos abraçar novamente. Sorria como se sentisse saudade de alguém, mas não fique triste por estar sozinha. Neste mundo, você é uma flor que floresce em plena glória então espalhe-se — Mesmo que meu coração gritasse "Eu não quero dizer adeus", era por ela que eu vivia.

— Me abrace querido... só por um tempo — Eu a abracei forte e a beijei nosso último beijo.

Abracei meu destino naquela noite. Pude sentir chegando, e eu sabia o que era. Eu não tive medo de morrer, só queria que quando estivesse deitado de costas, pudesse sentir que consegui. Não quero vê-la chorar, mas quero que ela saiba que não precisa mais de mim. Não sei em qual direção o vento soprará, mas sei que isto não é o fim.

 Não sei em qual direção o vento soprará, mas sei que isto não é o fim

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