Você É O Próprio Tempo

1.1K 138 4
                                    

Azkan, em sua soberania, olhava risonho para Rhea, que ao contrário dele, estava apavorada com toda a situação. Tudo era muito novo.

O mais poderoso Celestial, se aproximou com cuidado da jovem frágil, que repousara em cima de uma maca, cansada, indefesa e confusa.

Suas mãos fortes e quentes seguraram a cabeça de Rhea D'onson, firmemente. Os dois polegares alcançaram o centro da testa da garota com firmeza. Azkan respirou fundo e fechou seus olhos faiscantes e brancos. Com leveza ele pressionou seus polegares sem machucar a viajante.

A garota um pouco nervosa, foi perdendo gradativamente sua visão. Enxergando apenas um breu. Uma escuridão estranha. Não era como apenas fechar os olhos. Ela se sentia em uma sala com as luzes totalmente apagadas.

Bem no centro, uma luz sútil iluminava o topo da cabeça de Rhea. E um dragão da cor verde musgo, com os olhos também brancos apareceu. Rhea sentiu seu coração disparado e um arrepio em sua espinha. Um medo absurdo a atingira rapidamente.

O dragão parecia ter a pele feita de esmeraldas, e de fato era mesmo. Uma voz estridente percorria toda a sala, ecoando de uma forma amedrontadora. Era a voz de Azkan.

O dragão andava nas quatro patas, arqueando suas asas luminosas ,chegando cada vez mais próximo de Rhea. A garota não conseguia se mover do lugar onde estava. Ela suava frio e tremia cada vez mais :

- Concentração... - a voz repetia.

- Azkan? - disse a garota, trêmula, chamando pelo Celestial - Onde você está?

- Ora.. Eu estou aqui! - ele respondeu. Ao perceber, o dragão estava bem a sua frente. Uma fumaça que exalava em suas narinas era quente e cheirava como fogo em brasa.

- Concentração... - dizia a voz. Mas não parecia que saia do dragão. Era algo mental e claramente doloroso. Pois a voz era tão estridente, que Rhea sentia seus tímpanos latejarem.

- Eu não...

- Sinta o animal dentro de você. Concentre-se no rugido que ouviu em seus pensamentos. Visualize o tigre branco em seus detalhes. Sinta seu corpo formigar e deixe que isso tome conta de você. Deixe-o vir.

Rhea concentrou-se no tigre que viu em seu sonho. Conectou-se aos poucos em seus detalhes. Logo seus coração começou a bater ainda mais forte. Suas pernas tremiam e sua cabeça começou a latejar fortemente.

Ela urrou de dor e se ajoelhou ao chão. Rhea gritava com as mãos na cabeça. Logo e instantaneamente, seu corpo mudou em milésimos. Um rugido alto e claro, o tigre surgiu lindo e majestoso. Era Rhea em sua transformação.

- Ótimo... - disse Azkan. Ao voltarem, Rhea abriu os olhos e se viu novamente sentada em cima da maca. Azkan a olhava seriamente mas depois um sorriso de canto apareceu brevemente :

- Eu... Eu.. Eu virei um.. Um ti.. ti.. - ela tentava dizer, eufórica, mas falhava ao estar incrédula.

- Tente meditar quantas vezes for possível. Seu animal interior vai ajuda-la em sua doutrina. Alimente-o com energias e ele irá fortalecer suas habilidades.

- Eu não me transformo em um tigre, não é? - perguntou a garota, séria. - Quer dizer.. Aqui e agora?

- Só os Celestiais conseguem. - respondeu Azkan, sorrindo - Isso apenas acontecerá em sua meditação.

- Então ninguém tem o poder de se transformar em seu animal interior?!

- Eu não disse isso... Você não pode se transformar em seu animal interior no plano astral. Eu sou o próprio dragão de esmeralda. Me transformo quando eu bem entender.

- Plano astral? Como assim?

- Imagine que vivemos em duas realidades ao mesmo tempo. Em uma o seu corpo físico está presente e em outra o seu espírito em que está no comando. O plano astral é onde o sobrenatural está evidente, onde seu espírito tem o poder mais elevado. Lá somos mais fortes. Mais firmes e poderosos.

- Uau... Isso é tão...

- Surreal? - Perguntou Azkan - Ora, senhorita D'onson, o que é normal para você ?

- Nunca pensei que o que eu conseguia fazer fosse um dom.. Sempre enxerguei como uma maldição - disse Rhea, de cabeça baixa. - Uma doença, anomalia ou sei lá.

- Esta na hora de amadurecer seus pensamentos, minha criança. - disse Azkan, cutucando a testa de Rhea - Você é muito mais importante do que pensa. Você pode ser nova mas sua alma é velha como a de um ancião. Está na hora de deixar os hábitos humanos de lado e focar em quem você realmente é.

- Raj...

- Exatamente. - Azkan concordava.

- Não sei se consigo.

- Pois você está aqui e agora. O que falta para você se convencer?

Rhea desceu da maca e andou até a porta, de cabeça baixa. Pensando no que acabara de ouvir. Ao olhar para trás, Azkan havia sumido e então, ela sentiu um arrepio na espinha. A presença daquele ser era mística demais e poderosa demais para ela.

A garota saiu da sala e percorreu até o jardim de meditação. Lá havia vários Monges em suas posições. Silencioso ela via em suas feições a serenidade que eles exalavam.

Ela andou ainda que meio afastada, pelo jardim, dentre as pedras que percorriam um caminho por todo o monastério. Já um pouco longe da área de meditação, Rhea avistou uma escada de pedra. Ela caminhou até lá e notou que aquilo a levaria em um local repleto de estátuas.

Ela reverenciou em sinal de respeito e andou dentre as diversas estatuas. Com os olhos percorria os nomes cravados nos pés de cada um. Eram guerreiros e guerreiras do monastério de Azkan.

Bem ao longe ela viu uma mulher em posição de Muay Thai. Rhea sentiu um arrepio em sua nuca, de imediato e ao passar por ela, reconheceu a estátua de seu antepassado. Raj.

As vestes talhada na pedra trazia algo que era um tanto nostálgico. A estátua era de Raj. Uma moça de semblante lindo. Rosto angelical mas também corajoso e imponente. Ela carregava uma ampulheta tatuada em sua mão esquerda. E na outra, uma espada com pedras brilhantes. - Nossa! - Exclamou Rhea, ao se admirar.

A garota ficara ali mais de uma hora, sentada em frente a estátua que ela tanto passou a admirar. Era como se olhar no espelho, já que coincidentemente (ou não) as duas se pareciam muito.

Pela primeira vez em sua vida, Rhea se sentiu extremamente especial. Como se ela fizesse parte, finalmente, de algo que fosse relevante. Era muito boa aquela sensação única.

Rhea sorriu e então, uma lágrima percorreu seu rosto. Sentiu uma felicidade única invadir o seu peito. Ela estava livre.

- EU SOU O PRÓPRIO TEMPO! - ela gritou, com os braços abertos. O vento que cortara as árvores agora estavam mais fortes, como se a natureza a abraçasse naquele exato momento.

A Filha Do Tempo - A queda de GazuOnde histórias criam vida. Descubra agora