O Inimigo

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Outubro de 2015

O pequeno artefato reluzia sobre a mesa, confrontando-a silenciosamente.

- Luna.

- Por que? – suas palavras soam entrecortadas.

- Seja lá o que estiver passando pela sua mente agora, eu tenho uma explicação completamente diferente.

- Você não precisa me explicar nada. Eu já entendi.

- Não. Você não entendeu. – os olhos azuis cintilam, correndo de um lado para o outro. O desespero está escancarado em cada traço do belo rosto, assim como nas trêmulas mãos que apontam para o delicado objeto. – Luna, esse pingente...

- Você não devia ter jogado isso fora. – acusa-o, enquanto as primeiras lágrimas começam a escorrer. – Não devia ter me dito tudo o que disse ontem à noite, sabendo o que eu sinto. – cada sílaba sai brutalmente carregada de sinceridade, revelando aquilo que tanto tinha dificuldade de assumir em alto e bom tom. – Você sabe o quanto eu me importo, o quanto... – desiste. Falar abertamente só aumenta a dor, o que a leva a se calar. Agora está na posição mais vulnerável possível, totalmente fraca e exposta, como nunca se sentira.

- Eu não peguei de volta, Luna. Eu juro pra você. Pelo amor de Deus, você precisa me escutar! – apressa-se.

- E como foi que esse pingente veio parar aqui? Como foi que ele caiu bem em cima dessa mesa, Gabriel? Qual é a sua brilhante explicação?! – a raiva que exalava por seus olhos era aterrorizante ao olhar do rapaz. Nunca a vira assim.

- Moça...

- Não! Não me chame assim! Não tente me fazer me sentir especial quando nós dois sabemos que isso não é verdade.

- Você é especial! – seus olhos começam a marejar. – Você é única!

- Mas não sou o bastante. – retruca. – Eu devia ter ouvido a minha consciência quando ela me gritou que você seria um erro.

- Um erro? – repete, magoado.

- Sim. – frustrada, ela continua. – Por mais que tudo em você me apaixonasse, eu sabia que estava prestes a me machucar. E fui idiota o bastante pra persistir nesse erro. Sabe por que, Gabriel? Por que eu amo você! – ergue os braços, rendendo-se. A resposta que recebe dele é um sorriso contido, o que a deixa ainda mais confusa.

- Você me ama?

- Meu Deus! Eu sou uma piada pra você, não sou? – sente-se corar por completo. Havia acabado de se declarar àquele rapaz e se tornara digna de pena ao perceber o divertimento no olhar dele.

- Não! É claro que não! – tenta se explicar. – Luna... – começa a se aproximar.

- Fique longe de mim, Gabriel. – afasta-se bruscamente e sua expressão de repúdio o paralisa.

- Por favor, me escute. Eu não trouxe esse pingente de volta. Não fui eu.

- E quem foi? – desafia-o. Observa então o rapaz se sentar em uma das cadeiras, cansado.

- Clair. – suspira.

Clair. Clair esteve ali? Aquilo já era demais, Luna conclui. Clair, Tina, Sara... Era como se sua mente ficasse em branco, de maneira súbita. Não consegue pensar em nada, e não quer fazê-lo. Por isso, faz a única coisa da qual ainda é capaz: fugir. Foge de tudo que parece aprisioná-la. A moça simplesmente dá as costas ao belo par de olhos azuis e atravessa a porta.

A Estrada PartidaWhere stories live. Discover now