CAPÍTULO 4 - PESADELOS

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A luz da varanda estava acesa, sinal que Patrícia já estava em casa. A chuva ficara mais forte enquanto eu passava o resto da tarde na biblioteca da cidade. Procurei por jornais antigos e a bibliotecária ficou feliz em ver a geringonça que nunca era usada, enfim, em uso.

Não sabia ao certo o que estava procurando, mas sempre que lia o número cinquenta em alguma matéria meu coração dava um solavanco querendo sair pela minha garganta. Busquei manchetes que pareciam promissoras, mas demorei muito até achar alguma que não fosse apenas um trote para minha pesquisa.

Estava quase desistindo quando vi uma manchete. Em letras de caixa alta, negras e desbotadas, no papel amarelado eu lia o sobrenome da minha professora de matemática. Meus olhos quase saltaram pelas órbitas e senti um surto de ansiedade e medo correr pelas minhas veias. A reportagem falava sobre o casamento entre Millie Brown e um tal de Alan. O documento estava datado de vinte anos atrás.

Encostei as costas na cadeira e suspirei. Grande coisa eu conseguir achar a publicação do casamento da Millie. Se bem que eu não sabia que ela era casada, parecia que morava sozinha naquela mansão gigantesca. Voltei a ler e então senti uma vertigem fraca. Millie casou-se grávida. Para a época isso era um escândalo.

Pisquei várias vezes, relendo a frase que me informava isso. Depois me senti mal por estar xeretando a vida daquela mulher tão gentil. Para me desculpar, pensei nas minhas intenções. Eu não queria usar isso contra a professora, de maneira alguma, muito pelo contrário, senti uma onda de afeição por ela, pois ela deveria ter sido muito julgada pelo povo supersticioso de Salem.

Também havia uma foto, onde Millie estava vestida com um vestido branco, nada muito chamativo, apesar da fortuna que sempre tivera e um homem alto, de cabelos grisalhos me olhava com uma expressão satisfeita e feliz, como se nada no mundo fosse melhor do que estar ao lado dela.

Avaliei a imagem e busquei os rostos dos convidados. Sem dificuldade, percebi o professor Abrasimov entre os convidados atrás dos noivos, assoviei baixo ao perceber que ele não mudara nada, talvez o cabelo, que estava um pouco mais comprido do que quando o conheci. Isso me fez pensar em quantos anos tinha Vladmir.

Quando entrei em casa, encharcada, ouvi Patrícia no telefone. Eu ainda não sabia se ela estava falando comigo ou se ainda estava me dando um gelo como nesta manhã. Mesmo assim, passei por ela pela cozinha e sorri e acenei. Ela viu minhas roupas pingando e revirou os olhos, mas depois sorriu.

Eu subi as escadas de dois em dois degraus e fui para o banheiro tomar uma ducha quente. Enquanto o calor envolvia meu corpo e eu convulsionava fortemente e tremia como uma desesperada, minha mente disparou para meu mistério.

Sentia que estava ficando obcecada com essa história. Também sabia que isso não era saudável e muito menos seguro. Sorri ao pensar na vida do meu professor de biologia como um vespeiro que eu, propositalmente, ia chacoalhar.

Depois de limpa, dentes escovados, cabelos amarrados e vestida com meu pijama de unicórnio fui para meu quarto e liguei meu notebook. A internet em Salem era agonizante. Só para abrir a primeira página no navegador demorou uma eternidade e eu decidi ir tomar um copo de leite enquanto a máquina trabalhava. Quando voltei havia muitos anúncios e propagandas escondendo a tela, fechei todos eles rapidamente e meus dedos pairaram sobre as teclas, eu pensativa.

Primeiro digitei Vladmir Abrasimov, mas nenhum resultado foi encontrado. Estranho. Então, digitei Millie Brown na minha ferramenta de pesquisa favorita. Demorou uma eternidade até carregar todos os resultados, eu girei a bolinha do mouse rapidamente enquanto meus olhos não piscavam para a tela, procurando algo satisfatório.

A Maldição de Salemحيث تعيش القصص. اكتشف الآن