Dona Ivone

2 0 0
                                    


— Deu setenta reais, senhora.

— Obrigada, querido! – disse Dona Ivone pegando as três sacolinhas cheias de bugigangas que comprara no mercado. Sempre bem-humorada e com sorriso no rosto, acenava e cumprimentava todos os conhecidos à sua volta.

Com passinhos leves e rápido, Dona Ivone correu rapidamente em direção ao seu carro, jogando as sacolas nos bancos traseiros e retirando seu gigante chapéu rosa da cabeça. Seus cabelos platinados e finos eram impecáveis para a idade que tinha, suas unhas sempre estavam pintadas de vermelho e usava longos colares no pescoço com pesados pingentes das mais variadas gemas.

Sentou-se no banco do motorista e deu uma retocada em seu batom. Uma senhora muito charmosa e elegante é a definição perfeita para ela. Ao seu lado, seu neto mais velho estava com um olhar frio e seus pensamentos divagavam tão longe que ela nem percebia o que acontecia ao seu redor. Sua expressão vazia acusava que algo estava errado e isso se confirmava ao ver que suas mãos estavam algemadas em um enorme peso que ficava no chão do automóvel.

— Eu sei, querido. Não é nada agradável, mas você sabe que é perigoso e que pode se manifestar a qualquer momento... – Dona Irene colocou sua mão enrugada ao queixo do neto de forma que pudesse virar seu rosto para que ficassem cara a cara – Eu já estive em seu lugar. Você precisa permanecer forte e não deixar ele vencer!

Real-SurrealWhere stories live. Discover now