Faróis

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- Ele é gatinho! Não vai beijar ele?

- Não. Ele aparenta ser um tanto entediante – Mateus fechou os olhos como quem estivesse cochilando – Ele veio conversar comigo antes... Não curti muito.

- Bem, eu não me importo com o papo, só com o beijo – Marta deu uma piscadela para seu amigo e partiu em direção ao garoto.

Marta era uma garota alta para a idade que tinha, com cabelos castanhos claros e ondulados que caíam até metade das suas costas, olhos claros e cílios encantadoramente grandes. Sua boca graciosa acompanhava um queixo fino e um nariz levemente empinado. Vestia uma saia preta e lisa um pouco acima dos joelhos e a parte de cima apresentava um decote generoso.

O ritmo frenético da música daquela boate acompanhava perfeitamente o dançar das luzes. A vibração em massa das pessoas tornava aquela festa extremamente contagiosa. A garota se aproximou lentamente do garoto sem desviar o seu olhar sexy e intimidador. Quando chegou perto o suficiente, entrelaçou seus braços ao pescoço do menino e o ritmo do seu corpo. Ele era um tanto lento para ela, o que não era ruim, pois Marta adorava assumir um papel mais dominante.

O suave beijo de Marta com o doce proveniente do seu batom estonteava o garoto fazendo-o delirar. Depois de algumas mordidas e roçares de língua, a garota desceu as mãos pelo corpo do menino até a altura de seu peito e, com uma troca de sorrisos, Marta o empurrou suavemente para trás e deu de costas saindo a procura de alguns amigos para dançar.

Mateus se direcionou para a área de fumantes, pois estava se sentindo mal com tantas pessoas dançando e pulando ao seu redor. Ao chegar lá, Carlos e Jackson estavam conversando sobre algo relacionado com drogas escondidas. Não dava para entender muito bem, pois falavam baixo com cuidado para que ninguém mais escutasse.

O garoto se escorou na parede ao lado de seus amigos, os quais se sentiram obrigados a perguntar se ele estava bem. Acenou positivamente com a cabeça e fechou um pouco os olhos dizendo que estava apenas cansado.

- Mateus ainda está se fazendo de difícil? – Perguntou Marta ao encontrar os garotos do lado de fora – Tem muitos garotos bonitos aqui querendo dar um beijo nessa boquinha – Disse fazendo beiços com seus lábios.

- E você, quantas bocas já beijou essa noite?

- Eu parei de contar quando passei de sete – disse a garota a Jack que estava fumando seu terceiro cigarro – Vocês são sempre tão antissociais. Pagam para entrar em uma festa, mas ficam aqui fora sem fazer absolutamente nada, é tão chato. Se Diego estivesse aqui ele estaria dançando comigo!

- A qual é! Você sabe que não sabemos dançar.

- Ninguém nasce sabendo, Carlos. Mas se entrar comigo, juro que faço você se soltar.

- Não... Eu preciso...

- Disso? – Disse puxando uma sacola com um pouco de maconha – Você não precisa delas para se soltar, é um bloqueio psicológico. Mas não vou te impedir se quiser usar.

♠♣♦

Diego estava deitado em sua cama com os pés escorados na parece azul marinho de seu quarto, o que deixava o local bem escuro durante a noite. Em seus ouvidos, os fones soavam alto uma música aleatória com um ritmo acelerado o suficiente para balançar o pé para cima e para baixo. Seus fones eram negros, assim como seus cabelos que caíam até a altura de suas sobrancelhas – também negras e grossas.

Aquela noite estava anormalmente quente, principalmente para a região fria aonde morava. Suas pernas estavam nuas, vestia apenas uma camiseta comprida e uma cueca vermelha. Seu celular estava sobre sua barriga. Diego trocou de música com um movimento do dedão e, logo em seguida, o aparelho vibrou notificando que ele havia recebido uma mensagem.

"Marta: Queria você aqui!!!"

Com um sorriso torto, o garoto respondeu que sentia muito por não ter saído com eles. Durante o dia ele se sentiu muito mal, suou frio em alguns momentos do dia e sua cabeça doía repentinamente. Isso não era um bom sinal, Diego sabia que essas sensações proviam de sua sensitividade e que algo não muito bom iria acontecer. Por isso resolveu ficar em casa, pois se sentia mais seguro.

♠♣♦

Mais para o final da festa, Marta estava vestindo um casado de Jack e indo para casa, junto com os dois garotos. Embora nenhum deles estivesse realmente bem para irem para casa a pé, decidiram arriscar.

Um raio irrompeu o céu, cortando toda a cidade com uma enorme faixa branca e um barulho alto e amedrontador. O clima abafado daquela cidade acusava que no dia seguinte haveria um demorado temporal.

O vento começou a soprar mais farte, empurrando folhas e restos de lixo das ruas para o alto. No final daquela rua estreita era possível ver dois faróis de um carro, que ainda não se podia identificar, se aproximando aos poucos.

- Eu preciso da minha cama!

Marta resmungou, seus passos já estavam fracos, seus sapatos estavam pendurados na ponta de seus longos dedos e seus pés já estavam implorando por um banho.

Jack caminhava sempre olhando para o chão, com as mãos no bolso e passos silenciosos. Embora não gostasse muito da vibe das festas, gostava da presença de seus amigos e por esse motivo ele participava.

- Eu também – concordou.

A cada vez que as luzes se aproximavam mais elas pareciam confusas, difícil de entender o que estava acontecendo, principalmente porque os três ainda estavam sofrendo efeitos da cannabis.

Mateus, no entanto, conseguiu carona para voltar e já estava se arrumando para dormir. Antes disso, mandou uma mensagem para os amigos a fim de saber se já haviam chegado e se estavam todos bem. Carlos já estava respondendo que estavam a caminho de casa logo iriam chegar. Enquanto digitava, o motor de um carro velho ficava cada vez mais alto, e as luzes cada vez mais fortes.

- Acho que aquele cara está bêbado!

Não era possível ver o rosto do motorista devido à escuridão da noite. O carro fazia zig-zagues pela pista e os faróis estavam acesos no "alto". Carlos, Marta e Jackson sentiram um frio na espinha e correram para longe do carro descontrolado. Exceto Carlos, o qual sentia suas pernas pesadas e o medo o domava de foram que não conseguia se mexer. Imóvel, assistiu os ameaçadores faróis viram ao seu encontro.

Um grito feminino ecoou em seus ouvidos despertando-o do transe. Porém era tarde demais: o farol direito do carro bateu em seu joelho. Nocauteado, caiu no chão logo após seu corpo dar um giro devido ao impacto do automóvel. Sua cabeça acertou o asfalto com força e logo em seguida apagou. O medo e a adrenalina não permitiram que sentisse dor.

O motorista não parou para prestar socorro, apenas seguiu andando em alta velocidade para sabe-se lá aonde.

Diego acordou de seu sono profundo com o coração acelerado e algumas gotas de suor escorrendo de sua testa.

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⏰ Last updated: Jan 03, 2018 ⏰

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