12- Uma Garrafa de Picles

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"O que faz por aqui?" Encolheu os ombros num gesto surpreso ao ver Elias. Ele sentou-se no banco e posou seus cotovelos na mesa enraizada no jardim do campus universitário. Apesar da brisa fria de outono, o sol brilhava sem misericórdia, e o céu estava limpo.

"Nada de mais, apenas visitava a faculdade de medicina. Tem umas ofertas interessantes." Mostrou os seus marfins retos e brancos num sorriso que contagiava.

"Espera aí! Vais te inscrever?" Selsebil arregalou os olhos e mostrava-se feliz por ele.

"Não sei. Pode ser tarde demais, não tenho nada preparado." Deu de ombros.

"Pois prepare tudo. Não deixe para amanha, Elias, isso é maravilhoso." Juntou as mãos sobre seus lábios, ainda tentava acreditar.

"O que faz por aqui?" Elias questionou por sua vez. "Pensei que estivesse de ferias."

"Tinha de ver umas cadeiras extracurriculares para o próximo semestre, receber meu certificado da língua francesa. Tenho que marcar hora com a coordenadora do curso também."

"Sei. Que saco, que terei de voltar para essa toda lengalenga." Elias reclamou. Sentia-se outro por finalmente ter vontade de fazer algo útil com a sua vida, mais uma vez. Faz muito tempo que não tinha vontade de nada, ele sabia bem o que ainda lhe mantinha ali.

"depois vai valer a pena." Selsebil garantiu. Ele não tinha certeza. Talvez se ele tivesse tomado juízo mais cedo, como fora advertido em varias ocasiões.

"Estas a fazer algum trabalho da faculdade?" Perguntou curioso ao ver o quão ela olhava para o ecrã do laptop enquanto falava com ele.

"Nada disso." Espreitou do canto do olho. Sentiu vergonha de falar, mas logo se abriu "Stalking." Confessou e virou o ecrã do seu laptop para Elias.

"É o tal do assistente do diabo?" Piscou o olho.

"Não. Salman." Riu-se acanhada.

"Não me disse como foi o jantar ontem."

"Maravilhoso. Ele foi me buscar com uma rosa na mão, foi tao cavalheiro. Tudo tao perfeito. Conversamos tanto." Disse entusiasmada.

"Esta apaixonada?" Perguntou, mas, Selsebil so deu de ombros.

"Ele tem todas as qualidades que um homem tem de ter para mim." Ficou pensativa. "Mas-"

Seu olhar foi desviado de imediato para a figura que puxava uma bicicleta. Tinha uma pasta atravessada ao peito e auriculares nos ouvidos. Queria que a visse, mas ao mesmo tempo não queria. Tinha curiosidade de saber se ainda ia sorrir para ela, e agir como da ultima vez, talvez havia intendido mal. Elias olhou para onde ela olhava e deu um sorriso abafado. "Esse." Apontou um dedo sobre o ombro. "-tenho certeza que é o assistente do Diabo."

Selsebil apenas sorriu e tentava disfarçar o olhar, ate que ele a viu e hesitou um pouco ao levantar a mão para o cumprimentar. Assis a observou longamente, e de longe ela não podia ver a tristeza no olhar dele naquele momento, mas apenas conseguiu abrir um sorriso e continuou a andar. Queria saber quem era o homem que estava com ela. Sentiu-se negligenciado.

Selsebil acordou do transe quando seu telemóvel começou a tocar. "Fátima, me ligando?" Elias riu pelo facto de Selsebil achar estranho. "Finalmente recordou-se que tem uma amiga."

"Nunca liga?"

"Eu sei de tudo que acontece na vida dela. Mas duvido que saiba algo da minha. Sempre o centro das atenções." Suspirou e atendeu a chamada.

"Oi!" Cumprimentou.

"Oi, ligaste?"

"Sim, queria contar sobre o jantar ontem, mas parecias não estar muito interessada." A moça disse, sem papas na língua.

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