Um reencontro Único

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"Por que demorou tanto?"

A pergunta de Mikleo soou longe, e se não estivessem num abraço podia jurar que havia sido o vento quem tinha se pronunciado. O carinho nas madeixas brancas azuladas não parou, seguido de um sorrisinho do Serafim. Sorey sabia lhe deixar calmo mesmo após situações tensas como ninguém.

"Eu tinha que ter certeza que a malevolência não nos afetaria..." A voz que sempre era empolgada respondeu baixinho, não achando que tivesse necessidade de usar tão deliberadamente naquele momento.

"Hm..." A resposta foi rápida, e o abraço foi desfeito pelo próprio.

"O que foi?" Um olhar curioso era suficiente para entregar a confusão no ato sendo desfeito: Mikleo sempre amara seus abraços, por mais sufocantes que conseguissem ser às vezes.

"Eu sinto que não está certo." Pronunciou as palavras brincando com a mão sem luva do Pastor. "Digo, não nessa escuridão."

"Ah." E lembrou-se que ainda estavam na ruína que tinham ido desbravar após seu reencontro. Era escura, e por isso mais cedo Sorey havia tropeçado e caído escorregando em cima de um monte de barro. Suja também.

"Vamos procurar uma saída. Já deve estar escuro lá fora..." Começou a caminhar para uma passagem, virando em outra em seguida. O moreno apenas deixava-se ser guiado, como quem confiava sua vida no outro homem, e realmente confiava.

Passaram por mais algumas portas e aberturas, uma mais escura que a outra, até estarem em um salão levemente iluminado por uma rachadura grande em sua estrutura. Concordaram num aceno de cabeça em se transformar, e logo Sorey voou em direção à abertura. Assim que estavam fora, um sol poente agraciou-lhes em toda sua essência, Mikleo voltando ao seu corpo original, e se sentaram no parapeito do que era o teto por onde haviam escapulido.

"Por mais que eu adore explorar ruínas com você, acho que nos apressamos dessa vez. Faz tempo que você não fica em sua forma humana, afinal." Comentou sem perceber o tom brincalhão que acompanhava as palavras. No fim, era tudo para não ficarem sem assunto.

"Está insinuando que eu esqueci como se anda numa ruína?" Inflou as bochechas rápido, inopinadamente, em seguida cruzando os braços e tentando manter sua expressão mais chateada possível, esta qual se desfez no comentário a seguir do amigo.

"Se a carapuça serviu..." E soltou um riso junto do outro, recebendo um soco fraco em seu ombro. "Nossa, que forte." Zombou ao continuar as brincadeiras.

"Nossa, que feioso." Arremedou, dando-lhe a língua a mostra. "Tenho certeza que continuo bem forte."

"Sei... Que tal um treino depois?" Resolveu ignorar os primeiros dizeres com uma rolada dos olhos, transferindo sua atenção para outro tópico que não aparentasse ser o contrário do que era dito.

"Por que não agora?" Sugeriu num sorriso amável, daqueles que Mikleo sentira falta por algumas décadas.

"Estou aproveitando do pôr do sol, não vê, bobão?" Gesticulou para que ele prestasse atenção no puser, como fazia. No entanto só o fazia para que não sorrisse que nem o bobão que havia chamado Sorey, a cada olhadela que este o transferia.

"Bobão. Continua com os xingamentos leves. Seu corpo pode até se tornar de um adulto, mas a alma é de criança." Olhou de relance ao sol poente, mas voltou em questão de instantes seu olhar novamente ao amigo de longa data.

"O que tem contra? Pensei que coisas negativas como xingamentos não complementassem seu gosto. Afinal, você passou anos presos por causa de coisas negativas..." E novamente desviara o assunto, sem perceber dessa vez, mas para um que o deixava inquieto. Ah, como sentira saudade de Sorey naquele meio tempo.

"Pare de me relembrar da minha soneca a longo prazo." Brigou-o enquanto balançava as pernas no ar. "Vamos falar de você e suas experiências na minha ausência, que tal? É um assunto muito mais interessante."

"Desculpa, é que... Bem, eu senti saudade. Todos nós sentimos." Coçou a nuca rápido. Não era a mesma sensação que era com o cabelo curto que usava na 'adolescência'.

"Eu também senti. Quer dizer, eu dormi por bastante tempo, então tecnicamente não senti tanta quanto você, mas ainda assim... Acordar sem ter você me batendo com um livro, como na época em que vivíamos em Elisya, foi bastante estranho. Confesso que foi um baque... mas estar aqui conversando com um você mais velho é um baque ainda maior. Você ficou muito diferente!" E novamente inflou as bochechas, algo típico do moreno.

"Sei." Soltou um riso pela confissão do amigo, a qual não envelhecera nem um dia sequer, e continuava em sua estatura adolescente. Apenas o cabelo havia crescido, assim como o seu, mas por uma razão desconhecida. "Eu queria ter estado exatamente no local onde você acordou, não minto. Já estaria com meu livro em mãos."

"Ei! Eu não quis dizer que gosto disso, bobão!" E imitou o xingamento que o outro usara mais cedo, continuando o assunto original. "De qualquer forma, eu tenho de perguntar: Todos vocês mudaram tanto assim?"

"Neco, nem um tico. Eu fui o único a dar uma 'crescida', já que ainda era um adolescente na época. Acredita que até Edna é mais velha que eu? E continua pequena."

"Se ela te ouvisse agora, já estaria provavelmente morto, ou ao menos com uma dor na cabeça causada por um guarda-sol." E ambos riram ao se lembrar da personalidade peculiar que a garota possuía. "Mas realmente seria bom se ela estivesse aqui, sabe? Não só Edna; Lailah, Alisha, Zaveid, Rose, Dezel..." Soltou um suspiro ao se lembrar que Dezel havia abandonado aquele plano tempos antes de seu dormir. "Seria um ótimo pôr do sol para se assistir."

"Tão poético." Brincou com ele sobre suas últimas palavras, afim de fazê-lo não ter as memórias do falecimento do Serafim de volta à sua mente. "Alisha foi uma ótima rainha e Rose sua ótima esposa," deu uma pausa rápida para ver os olhos chocados sobre a descoberta da relação de ambas, continuando em seguida: "O céu as recebeu com muita vontade, eu tenho certeza." E Sorey balançou a cabeça, confirmando que entendia o que as palavras queriam dizer.

Ficaram um tempo naquele silêncio respeitoso, o Pastor usufruindo do luto demorado. As estrelas logo surgiam receptivas no céu, a lua roubando o lugar do sol que assistiram por alguns minutos.

"Ei, seus gostos não mudaram depois disso tudo, certo?" Mikleo quebrara o silêncio numa vã curiosidade sobre o amigo.

"Não até onde eu saiba." Pôs o dedo indicador e polegar entre o queixo, pensando por alguns segundos. "Não, realmente o tempo parou pra mim. Por quê?"

O Serafim sorriu-o sapeca antes de se inclinar para o homem a quem podia chamar de dorminhoco como num apelido, selando-lhe os lábios com os seus.

De início Sorey se assustou com a ação, no entanto fora só por alguns segundos. Entendia o que o outro queria dizer, pois aquilo não requeriam-lhe palavras para ser explicado. O selar ficara em alguns poucos segundos, e fora mais um beijo de cumprimento que qualquer coisa. Em verdade, havia sido um beijo de permissão, como se Mikleo precisasse daquilo para acarinhar o homem quem tinha se declarado romanticamente para si horas antes de cair em seu sono de um período.

E os beijos a seguir foram mais retratados em outros sentimentos; saudade, paixão adolescente, conhecimento, respeito, amor. Ambos tinham noção de que se aquele gracejo adolescente havia continuado mesmo após anos, não era apenas um gracejo, como pensaram.

Sorrisos eram-se dados dentre os múltiplos ósculos, quais os donos na ação nunca queriam parar. Eram muitas emoções para se definir...

Pensamentos do que ocorreria a seguir nunca chegavam às mentes carregadas dos garotos agora homens, e ficaram minutos preciosos repetindo a ação, sem qualquer malícia a mais do que o desejo de ter o espírito daquele que ama por perto.

"Eu só queria ter certeza que você não esqueceu disso..." Mikleo sussurrou-lhe quando as testas estavam encostadas, ambos coração à mil, um leve rubor acariciando lhes as bochechas.

"Eu apenas demorei; não perdi a memória, bobão."

O sol e as estrelas são para (nós) todosWhere stories live. Discover now