- Capítulo 16 -

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Pisquei devagar, engolindo em seco, dobrando o papel e fechando minha mão em punho.

- Muito bem - inclinei a cabeça e dei um sorrisinho, me direcionando ao homem de meia-idade parado na minha frente. - Diga a Sua Alteza que irei ao seu encontro dentro de alguns minutos - o serviçal assentiu e se retirou dali.

Me despedi rapidamente de minhas criadas e saí.

Eu não iria encontrá-lo exatamente naquele momento. Sabia que estava sendo um ato imbecil e infantil, talvez até uma questão de orgulho besta, e que o mais sensato seria conversarmos sobre aquilo que me deixava inquieta desde o dia anterior, porém minha vontade me mandava esfriar a cabeça antes de pensar em algo. E é claro que o melhor jeito de fazer isso era andar e pensar; ou talvez só andar, mesmo. Mas andar onde? O jardim não era uma opção tão viável por motivos de: Kaden. O castelo em si não era a melhor das opções, já que teriam muitas pessoas andando nele e poderiam pensar que eu era alguma maluca ou algo assim. Não que o que as pessoas pensassem de mim importasse tanto assim, mas a esta altura da Seleção, tudo contava. A Elite estava se aproximando e caso Kaden fosse influenciado pelas pessoas de alguma forma, tanto do interior do castelo tanto de fora, eu gostaria que as influências que diziam coisas sobre mim fossem boas, ou ao menos razoáveis.

Deus, eu estava me importando demais com isso! Eu gostava de Kaden nesse ponto e até mais, mas me doía saber que ele não sentia isso também.

Esfriar a cabeça, se lembra, Melina? Isso mesmo.

Andei até meu quarto, com o propósito de tirar aquele vestido e colocar outra roupa.

Chegando lá coloquei uma calça leggin preta, uma blusa vinho muito escura de mangas longas que deixava uma tira de um dedo da minha barriga aparecendo e coloquei um coturno preto. Desmanchei o lindo penteado que Lola fizera e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo alto. Sem joias nem nada. No lugar que eu pretendia ir era praticamente impossível não ser notada com alguma coisa brilhante. E, nesse caso, era literalmente uma questão de vida ou morte que eu não fosse notada.

Andar esfria a cabeça... mas por que não juntar o útil ao agradável?

Pois era exatamente isso que eu iria fazer.

Eu estava me encaminhando diretamente para a toca dos lobos, covil, ninho de cobras, ou seja lá como você quiser chamar. Mas o fato é que eu estava indo para o subsolo do castelo. Mais conhecido por mim como provável sede da NRS.

Tudo bem, isso era uma coisa ridícula.

Infelizmente só percebi esse fato quanto estava descendo pela portinhola do jardim com uma lanterna pequena na mão, depois de pegar um caminho o mais longe possível da árvore em que Kaden estava.

Realmente, era uma besteira tremenda, constatei assim que coloquei os pés no chão. Fechei as portas pequenas com muito cuidado para não fazer barulho.

Uma sensação de que eu já tinha vivido aquilo antes se espalhou por mim, mas só balancei a cabeça e acendi a lanterna. Comecei a andar com passadas curtas e com o coração acelerado. Ah, meu Deus. Isso era uma péssima ideia.

Respirei fundo algumas vezes e comecei a andar novamente. Eu esperava do fundo do meu coração não encontrar ninguém. Virei em um corredor e me deparei com uma fileira de quatro celas. E a primeira era exatamente a mesma em que eu havia ficado. Olhei bem e meus rabiscos continuavam ali, porém tristemente, Susen não. Inspirei fundo, assim como fiz da primeira vez que estivera ali, e aquele cheiro era completamente inconfundível. Minhas ideias de que minha mãe estava viva voltaram à tona na minha cabeça. Pois bem, era para isto que eu estava ali.

Ouvi algumas vozes, sussurros, na verdade, praticamente inaudíveis. Segui reto pelo corredor e os sons foram aumentando, mas eu mal podia saber do que se tratava a conversa e muito menos de quem eram as vozes.

A OitoWhere stories live. Discover now