V: CINCO

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PARA UMA MELHOR EXPERIÊNCIA, LEIA COM FUNDO PRETO

PARA UMA MELHOR EXPERIÊNCIA, LEIA COM FUNDO PRETO

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Logo em seguida as coisas ficaram estranhas. Primeiro, pude sentir o chão frio de ladrilhos, quando cai em um ataque de epilepsia. Meu corpo se contorcia irracionalmente, me fazendo quer gritar, mas não podia, minha voz não saía. Diana segurou meus braços com força, mas fora um ato inútil.

E, por segundos, veio o odor de podridão e carniça, e o branco do local já não existia mais, pois tudo o que se sucedeu foi a escuridão e a pancada na cabeça. Estava pagando meus pecados. Sem abrir os olhos, soube onde estava no instante em que pendi no gramado sereno. O campo de futebol do antigo colégio de cidade aonde havíamos morados a muito tempo. Me coloquei em pé diante das arquibancadas vazias e do céu noturno. Tudo estava em silêncio, exceto pelo estridulo do grilo não muito longe dali. 

Como? Minha mente sussurrou. Cada pequeno espaço, era real, não poderia ser apenas um sonho. Era uma loucura impossível.

 Então veio o terceiro.

― Breno? ― Ou ao menos o que um dia fora meu irmão. Aquilo não era ele. Os olhos eram apenas cavidades escuras, como um buraco negro que consumira sua alma, no lugar das mãos as garras longas e afiadas tão escuras quanto o céu da madrugada. ― Irmão?

Mas, já não era mais ele. E quando a coisa urrou, meu mundo parou, eu fechei os olhos e o ar já não era o suficiente.  

Corvos, corvos. Aonde você vai, Mauro? 

E o susto da voz áspera sussurrar meu nome, me fez reabrir os olhos. O teto de madeira pintado de um branco, já amarelo do manicômio, me tornou a respirar aliviado. Não fora real. E sem querer, chorei cansado enquanto Diana me abraçava ainda no chão do quarto. 

 ― Eu sei onde ele está. ― Disse baixinho. ― Eu sei onde Breno está.



― Como pode ter tanta certeza? ― Diana pediu com expressão séria enquanto íamos pedalando pelas ruas além de Niterói.

― Nos meus sonhos. Eu sempre estive lá, sempre soube onde era. Breno está naquela floresta.

― Mas você sabe que aquele lugar é patrimônio dos militares, não podemos invadir.

Parei a bicicleta.

― Diana ― falei com calma ―, não precisa ir, é meu irmão que está em jogo, sei que isso não pode não parecer nada, mas, foi por minha culpa que Breno sumiu, eu preciso tentar, mesmo que isso seja um tiro no escuro, não quero que acabe encrencada por minha culpa.

Para minha surpresa, a garota sorriu.

― Eu vou com você. Afinal, quem vai salvar o príncipe?

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