Epílogo: Marrom

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Eu nasci com minha primeira letra, então desde que me conheço por gente, eu possuia de um I marrom.

Ainda assim, ela não durou tanto. Quando ainda estava em meu treinamento de heroi, quando achei que finalmente tinha achado a pessoa com quem combinava letras e alma, ela começou a degradamente ir desaparecendo.

Eu percebi isso, primeiramente, no dia em que aqueles três se entenderam. Foi algo romântico, não nego; beijos, abraços e várias expressões de choque pelo trio de garotos a compartilhar sentimentos e marcas de nascença. Então, quando Midoriya, Todoroki e Bakugou não escondiam de mais ninguém no dormitório sua relação poligâmica, foi que notei seu desaparecimento.

Minha primeira marca se situava ao lado de meu pomo de vênus, então vê-la era uma dificuldade e tanta. E tão rápida como desapareceu ela voltou, talvez anos depois, num formato mais próprio de T vermelho. E a primeira pessoa que a viu foi meu atual noivo, Iida Tenya, após termos realizado uma de nossas noites de amor.

No começo, ambos estranhamos; não era segredo entre nós que eu havia perdido minha marca, assim como não era segredo o formato de O perto de sua intimidade. Foi então que num laco de esperança, minha face banhada em vergonha, que pedi para ver o traçar de meu amado.

Naquele dia próprio, Tenya me pediu em casamento. Nós já namorávamos há anos, éramos formados e herois com certa experiência, então aceitei logo de cara.

Eu tive o prazer de poder convidar todos meus amigos de classe para a cerimônia, e já na festa Izuku e eu, ao conversar sobre os tempos de escola, decidimos que faríamos uma reunião de turma. Afinal, já se haviam passado sete anos desde a nossa formatura.
Foi na segunda reunião que Deku nos jogou a notícia do ano: ele e seus dois maridos iriam adotar uma criança. Filhos não eram novidades em nosso círculo — já que Kyouka e Momo já haviam tido o seu dois anos atrás —, porém surpreendeu a todos nós, que não éramos muito crentes desde o ensino médio que essa relação tripla poderia durar.

"Ela se chama Chikyuu¹, e é a coisa mais fofa que existe", Midoriya nos contava excitadamente. "E, Ochako-san, você consegue imaginar qual a individualidade dela?" Aquela pergunta certamente me pegou de surpresa, pois não imaginaria que de todas as pessoas, ele fosse direcioná-la logo a mim. Porém logo entendi: "Ela manipula a densidade de objetos, e quando ativa seu poder, a temperatura do mesmo cai. Quando desativa, sobe. É como se fosse uma mistura sua e de Shoucchan, não?!"

Eu fiquei em choque. Izuku tinha me contado há algum tempo suas teorias de que na verdade nós dois que éramos designados a ficar juntos, no entanto o destino nos separou. Não que reclamemos; nossas vidas seguem ótimas com ou sem relacionamentos íntimos entre nós.

"Eu quero que você e Tenya-san sejam padrinhos dela, tanto porque acho que isso ajudaria no desenvolvimento de poder quanto em sua personalidade. Afinal, ela teria os melhores exemplos de amizade no mundo heroico que uma criança pode ter. O que me diz?"

"Eu... " Olhei para meu marido, que estava tão incrédulo quanto eu. Recebi um confirmar de cabeça deste, e sequer notei quando lágrimas invadiram meus dizeres. "Você me estima muito. Com certeza seremos padrinhos da Chikyuu!" ao mesmo tempo em que declarei, senti um abraço; Mido-chan havia se levantado e dividia as lágrimas de felicidade comigo num apertado enlace. Logo mais ele me soltou, porém, pois tinha medo de machucar minha barriga de algumas semanas. Que bobinho que este Símbolo da Paz consegue ser.

E desde então, eu só consigo imaginar quão sortuda minha enteada é. Seja por ter nascido com uma peculiaridade fascinante, seja por ser criada num ambiente cheio de herois — desde seus responsáveis legais até seus padrinhos e tios —, seja por ser filha do trio que que ao mesmo tempo em que punha medo a vilões, despertava compaixão nas pessoas. O Símbolo da Paz já não era só Deku; era Shouto e era GroundZero², os três juntos como o destino pregou-lhes uma peça para serem.

E foi-se assim até o fim de meus dias, com aquele amor banhado em poligamia sendo uma inspiração para mais de uma geração inteira.

Notas do autor:

Eu sei que demorei a postar, e peço desculpas por isso. A vida simplesmente anda uma loucura, e sinceramente, este capítulo teria demorado mais um pouco se não fosse pela inspiração que um leitor emplacou em mim com um comentário.

¹: Chikyuu significa 'Terra', como no planeta em que vivemos. O trocadilho cai muito bem com o OC, principalmente na opinião do hetaliano aqui. Marukaite chikyuu!

²: Esse codinome de heroi foi tirado de hipóteses do reddit (com base no que o autor comentou em extras, do que seria o nome de heroi de Bakugou). Link no comentário.

Obrigado pela paciência e por me acompanharem até aqui. Vou tentar voltar em breve!

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