1 - PEDRO

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   Um garoto corria feito um louco pela areia da praia quase deserta. Ele estava sem camisa, e seu corpo magro e definido chamaria a atenção de várias pessoas, se houvessem pessoas para apreciar a vista. Ele estava descalço também e só usava uma bermuda folgada cinza e uma mochila azul de ginástica. Um típico garoto classe B na sociedade litorânea.

    Todos seus pertences estavam dentro dessa mochila. Ao chegar na borda da praia ele parou ofegante e a abriu. Tirou uma regata branca, um par de havaianas azuis e seu celular. Viu a hora e praguejou sozinho. 

Ele estava atrasado para uma entrevista.

   Como eu sei de tudo isso?

   Prazer, meu nome é Pedro. O garoto atrasado. Essa é a minha história. Uma história que começa com um sabor de café com leite e termina com um gosto amargo (mas gostoso) de uma boa dose de rum com coca-cola. Sejam bem vindos.
 

***


Olhei novamente a mensagem no celular.

"Harara calçados.

Boa tarde Pedro Silas,

"Você poderia comparecer hoje às 15:00? Na nossa empresa?"

    Retomei minha caminhada apressado. Quem marcava uma entrevista tão em cima da hora? Rapidamente respondi um breve "Claro, estarei aí".

(Droga, droga, droga!)

    Eu precisava muito desse emprego! Eu e minha mãe viviamos sozinho numa cidade ainda desconhecida (e não muito barata)e eu precisava ajudar nas contas. Além do fato dela me cobrar isso sempre que podia.

    - Pedro - ela vivia dizendo - Eu preciso da sua ajuda, filho, você já fez 18 anos, começou uma faculdade que não é nada barata, e nossa mudança me custou um bocado de dinheiro. Preciso realmente da sua ajuda.

(Eu sei mãe,eu sei)

   É realmente eu tinha procurado! Entreguei currículos em lojas e escritórios. Enviei por e mail... O que mais eu podia fazer? O país estava em crise,oras!! A culpa não era minha.

   Então eu alternava em uma escala de 12x36. Um dia eu ia procurar emprego e no outro eu saia pra conhecer alguma praia. Obviamente pra minha digníssima mãe minha procura era em tempo integral. Mas como dizem "o que os olhos não vêem o coração não sente",certo?

   Hoje era um dia de ir pra praia. Por uma conhecidencia do destino (só que não) os dias de ir pra praia caíam nos dias de trabalho dela. Sim, ela trabalhava numa escala de 12x36...de verdade. Acordei pouco depois que ela saiu, coloquei uma roupa de verão qualquer e fui vadiar.

   Meu amigo da faculdade tinha comentado sobre umas praias da hora numa cidade vizinha e eu estava lá, de boa, sentado numas pedras e curtindo a natureza quando recebi a mensagem da entrevista.

"Realmente aquela praia do Guarujá era linda" Pensei já no ponto de ônibus. "Água clarinha, um povo bonito...Bem como o Serginho tinha falado."

    Meu pensamento sonhador deu lugar ao desespero.

   "Puts!! Tô no Guarujá! Até voltar pra casa já estaria atrasado pra entrevista. Certeza!"

    Olhei para a avenida mas nem sinal do ônibus. Me lembrei que nesse momento, se não tivessem me mandado essa mensagem, eu provavelmente estaria ficando com uma mulata que estava tomando sol perto de mim mais cedo.

Crônicas De Léo - Vol 1: PedroWhere stories live. Discover now