Capítulo 35 - Somos Um.

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O dia tinha sido difícil, longo ... sem falar em toda essa mistura de sentimentos que tinha acontecido.
Naquele mesmo dia, passei no médico para ver o que era essa hemorragia que saia pelo o meu nariz a cada flash de lembrança.

Não demorei muito para ser atendido e por incrível que pareça nem o exame demorou para ficar pronto.
Por mim eu não teria ido ao hospital, mas a minha mãe insistiu muito e para não desaponta-la acabei cedendo a ideia.

O médico explicou que tudo que estava acontecendo comigo, os surtos, as dores fortes de cabeça acompanhadas da hemorragia, era uma reação do meu cérebro ao acidente.

De acordo com ele, meu cérebro estava tentando colocar de uma única só vez 2 anos de lambanças, que primeiro elas vieram como sonhos e agora em qualquer momento e qualquer coisa que me desperte algo que eu vivi, meu cérebro força a lembrança voltar para o lugar que ela deveria estar.

Minha mãe ficou ainda mais preocupada depois de saber disso, mas ele disse que estava tudo bem que em questão de dias ou meses, eu poderia ter as memórias mais importantes de volta, mas que se as hemorragias continuassem vindo em quantidade forte, era pra que eu voltasse o mais rápido possível ao hospital, pois algo poderia estar afetando o meu cérebro.

Depois de todas as explicações fomos liberados e eu pude finalmente ir pra casa.

Já era meia noite, eu tinha acabado de tomar um banho, colocar um moletom e desci para a cozinha, sem camiseta e me sentando na cadeira da ilha de centro.

Minha mãe terminava de preparar algo para comer.
Andava de um lado para o outro concentrada no que estava fazendo. Confesso que estranhei o seu silêncio.

- Está tudo bem? - Perguntei, batendo o garfo no prato algumas vezes.

- Estou ótima. - Ela disse, sem se virar pra mim.

- Você tem certeza? Não parece.
- Estou ótima, Callan.
- iiiih ... me chamou de Callan. Para a Dona Olga me chamar de Callan deve estar possessa. - Eu disse fazendo brincadeira e logo voltando ao meu tom de voz normal. - Eu fiz alguma coisa?

Minha mãe largou a colher dentro de uma panela, respirou fundo e me olhou, desligando a chama do fogão.

Ela arrastou a cadeira que estava na minha frente e se sentou, com o olhar bem sério e aquele tom alaranjado de apenas algumas luzes acessas na cozinha, me dava ainda mais medo de sua feição.

- Estou preocupada com você. - Ela disse.
- Por que? Não tem motivo. - Eu rebati.

- Não tem motivo, Callan? Você tem certeza? Depois de amanhã você está voltando para o Brasil ... voltando pro lugar onde aconteceu tudo isso com você e ainda mais com esses seus surtos de memória ...
- Mãe, está tudo bem.
- Não ... não está. Eu já disse que eu não aguentaria se algo acontecesse com você.
- Mas, nada vai acontecer ...
- Duvido ... já estou vendo tudo acontecer novamente quando você encontrar o ...

Ela se silenciou antes de terminar a frase e olhou dentro dos meus olhos, com os olhos tristes.

- O Renan? Você se refere a ele mãe?
- Você se lembrou?
- Em partes ... os flashes ... bem, eu sei que o homem sem rosto que aparece em meus sonhos, é o Renan.
- Sim ... certamente é ele.
- Por que você não me contou?
- Ele não queria isso ... ele disse que o melhor pra vocês seria você não lembrar dele.
- Tudo bem ... isso é um pedido dele, mas enquanto a mim? Vocês nunca pensaram como eu ficaria quando eu soubesse que eu tive um relacionamento com o Renan?
- Ele não foi bom pra você.

Eu respirei fundo e abaixei a cabeça, espremendo os meus lábios.

- ENTÃO PORQUE ESSA DROGA NÃO SAI DA MINHA CABEÇA? PORQUE DESDE QUE COMECEI A ME LEMBRAR DELE, EU NÃO PARO DE PENSAR NELE? EU MEREÇO SABER A VERDADE! - Esbravejei.

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