Prólogo

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Eu estava dormindo.

Em um dos raros momentos de silêncio que eu tinha quando estava em casa.

Não que aqui seja minha casa, não que eu tivesse alguma.

— Rhey!

Ignoro o estremecimento que passa pelo o meu corpo com menção do meu nome. Reconheço com uma fileta de raiva a voz que me interrompe. Hanter.

—  Rhey, Rakshasa esta te chamando, sabe que ele não gosta que demorem.

Me viro na cama para poder olhar para o mesmo. O ar da sala parece esquentar ao meu redor enquanto o encaro. Não é preciso me olhar no espelho para saber que meus olhos demonstram apenas uma coisa. Vazio.

—  Não me importo se ele gosta ou não. — Falo sonolento, minha voz saindo apática como de costume.

— Mais eu me importo, eu que serei cobrado se você não for. — Detectei um tom de raiva em sua voz.

Interessante. Era sempre divertido ver Hanter estourar e depois recuar.
Claro, eles sempre recuam.

O que ele achava? Que eu ia ficar com medo? Balanço a cabeça. Medo é uma emoção muito forte, uma que nunca senti, e não me via sentindo tão cedo.

Me levantei e vesti uma calça jeans com uma cor desgastada, mesmo eu tendo certeza que ela está nova.  Roupas de humanos, eu me acostumei a elas.

Passo por Hanter lançando-lhe um olhar vago de quem não quer ser seguido.

Ele ignorou como sempre.

— Tenho certeza que ele vai te dar uma missão, é tudo no que se fala nesse inferno. Eu espero ser seu parceiro dessa vez.

Agora ele estava animado. Com certeza não era nada divertido.

—  Eu não. — Digo direto.

— Ah sim, seriamente espero que seja eu, se ele mandar você ter um parceiro, pense em mim — Abriu um sorriso.

— Claro. —  Respondi cheio de sarcasmo. Eu odiava parceiros, ainda mais Hanter.

Parei em frente as grandes portas vermelhas que se estendiam do teto ao chão, desenhadas com linhas de fogo moldando as chamas do inferno.
Tudo era muito clichê por aqui.

Levantei a mão direita, roçando meus dedos sobre as linhas reluzentes, faiscando, queimando.

O cheiro de carne queimada inundou o ar e sentir Hanter se mexer desconfortavel parado atras de mim. Apenas pisquei lentamente, as chamas já não me incomodava mais, muito menos a dor. Retirei a mão quando as portas se abriram vendo a carne se regenerar no mesmo instante.

Ao passo de entrar o cheiro de sangue de coelho entrou pelas minhas narinas, olhei para Hanter que alcançou uma bolsa de sangue de um dos bolsos do colete.

Ele acenou para bolsa em forma de convite, mas recusei com uma careta. Eu odiava sangue de animal, era bem melhor o de humanos, alguns humanos.

Me virei e empurrei uma das portas, entrando na sala de Rakshasa, o cheiro de sangue podre me atingiu e a vontade de vomitar também, mais eu os afastei. Eu já havia entrado ali o suficiente de vezes para não ficar mais enjoado.

O tapete de veludo vermelho era exagero e se estendia até o altar de dois degraus a minha frente. As colunas caindo aos pedaços, a claridade do fogo saindo das fogueiras prostadas no meio do salão, o sangue jorrando das fontes e escorrendo sobre os ladrilhos do chão.

Os servos postados ao lado fizeram uma reverência ao meu me ver da qual eu ignorei.

Eu não gostava de entrar aqui, mais infelizmente vinha aqui quase todos os dias em que tinha que voltar para casa.

Me aproximo do trono de Rakshasa que se encontra no meio do altar.

Da mesma maneira de sempre ele esta bebendo. Um líquido vermelho grosso, do qual não tenho dúvida ser sangue balança em sua grande taça de cristal. Suas roupas mais parecem lençóis brancos de seda enrolados em volta de seu corpo enorme. Seus braços expostos pelo o tecido claro deixando sua pele avermelhada mais chamativa. Seus chifres estam decoradas com uma coroa de pedras reluzentes vermelhas. Talvez sejam de rubis, talvez sejam joias do inferno, ninguém sabe.

—  Rakshasa. — Eu disse parando em frente a ele nivelando um olhar vazio.

— Damon, tenho algo muito importante para lhe pedir. —  Diz sua voz arrastada, carregada de desprezo.

— Deve ser importante mesmo para incomodar meu sono. — Digo, dando um bocejo logo em seguida. Os servos se mexem desconfortável comigo. 

— Corro o risco de ser entregue a morte, isso parece importante para você? — Sua voz calma como sempre carrega um leve sarcasmo.

Penso por uns dois segundos sobre o assunto.

—  Na verdade não.

Ele abre um sorriso cheio de dentes.

—  Entendo, mais preciso de você nesse momento, Damon, a menina humana está em risco, as criaturas não me dão ouvidos e estão atacando ela.

Bocejo de novo.

— Ela não é minha responsabilidade.

— Agora é — Diz se levantando, o sorriso nunca deixando seus lábios. — Leve o híbrido bruxo com você, subam até a terra e a proteja.

— Você não pode me obrigar a fazer isso – Eu disse calmamente. Afinal, era minha semana de folga depois de meses em guerra.

Também não era um assunto do qual eu me interessaria em me envolver.

— Achei que já tínhamos conversado sobre isso. Eu não vou me intrometer nesse assunto.

— Damon.. — Ele começou a rosnar meu eu o interrompo.

— Não, eu não quero me envolver mais na vida dela, e você deveria ter cuidado para não me irritar ao continuar com esse assunto. Sou seu servo, mas não tenho um coração para me arrepender se acidentalmente acabar cortando o pescoço dela. — Termino lhe lançando um olhar frio, minha voz apática reverberando pelas paredes quentes.

Ele me olhou por alguns segundos seriamente antes de responder.

—  Você vai fazer isso Damon, por oito meses vai proteger a menina, e quando o prazo acabar eu vou te liberar de seus serviços comigo.

Um arrepio subiu por minha pele. Liberado? Para fazer o que eu quiser?

— Sim Damon.  — Disse Rakshasa lendo meus pensamentos.

— Aceito —  Eu me ouvi dizer cedo demais.

Não era como se eu pudesse recusar essa brecha. Se era algo tão importante a ponto de valer minha liberdade, eu não me importava.

— Ótimo, eu sabia que iria. — Disse ele voltando a se sentar. — Hanter está com tudo que vocês precisam saber sobre a garota em mãos, podem ir imediatamente e nos manteremos em contato.

Dei as costas á ele e caminhei em direção á porta.

— Damon.

Não me virei, não precisava.

— Não há deixe morrer. —  Ouvi sua voz, antes de bater á porta do lado de fora.

Hanter estava á minha espera com papéis na mão, e suas adagas penduradas no cinto em seu quadril, vestido em seu colete de combate.

— Então parceiro — Disse ele sorrindo — Quando vamos ?

—  Assim que eu me armar —  Eu disse sem ânimo.

—  Proteger uma humana? Bem novo, não?

Meu rosnado foi tudo que ele teve como resposta.

Sangue de DemônioМесто, где живут истории. Откройте их для себя