Capitulo I

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     Ainda era dia, o sol do anoitecer invadia pela janela do quarto de Alice, as cortinas de veludo vermelho estavam calmas, sem nenhuma agitação causado pelo vento marítimo do mediterrâneo, Alice estava nervosa, com uma breve tremedeira em suas mãos, em uma semana seu pai iria se eleger a prefeito de Lisboa, ela não queria aquilo, ela sabia que se ele fosse eleito ela jamais iria poder voltar as ruas, jamais poderia sair do palácio real, ela tinha que fazer algo, ou tudo estaria prestes a desabar. 

Com um movimento rápido Alice saltou de sua cama, calçou suas sapatilhas e partiu rumo ao quarto de seu pai. 

Alberto era um homem de renome por Lisboa, filho de banqueiros e de sobrenome nobre, a cidade toda conhecia a linhagem Carvalho, não havia uma só pessoa que não soubesse quem fora Fernando Carvalho, o maior e mais renomeado banqueiro de toda Portugal, ganhando até do prefeito da época a chave da cidade...

A menina andou pelos corredores de sua casa as paredes de gesso branco eram perfeitas, sem nenhuma falha, os quadros, as decorações, claramente uma linhagem da burguesia, Alice sabia que não pertencia a isso, ela não nasceu para ser uma princesa. Chegando na porta do quarto de seus pais Alice percebeu que algo não estava nos conformes, a porta estava entreaberta com um forte aroma de álcool e frutas cítricas, o vinho da adega especial de seu pai, bebida visada em Lisboa, ela estranhou... fazia já tempo que seu pai não bebia, vitima do desgaste do figado, e quase veio a falecer, Alberto era jovem ainda, não tinha passado dos 43 anos, robusto e um pouco acima do peso, com fortes traços do stress, algumas rugas em seu rosto mas nada que não fizesse perder o charme de um Carvalho, seus olhos verdes era o destaque da família, os cabelos negros como a noite de Portugal, Alice vinha com os mesmos atributos passados pela família, um pouco mais cuidadosa no paladar, sendo assim considerada a unica vegana da família Carvalho, criticada pelos tios e avós mas nunca deixou ser abalada pelo sentimentalismo.

Alice entrou no quarto, sem nem mesmo pedindo permissão, sabia que iria ser cobrado pela falta de educação mas não fazia questão de esquecer, em passos curtos e silenciosos caminhou em frente, o forte odor de álcool só aumentava enquanto adentrava o cômodo, assim que entrou avistou o causador de tal cheiro, o quarto estava devastado por garrafas e poças de vinho, o tapete branco de veludo já não era mais branco, adotando a cor bordô da bebida, as garrafas vazias estavam ocupando mais espaço no quarto que as mobílias, Alice estava em choque com tudo aquilo que via em sua frente, não era algo novo para ela que seu pai tivesse uma recaída pelo alcoolismo mas nunca fora tão forte como dessa vez. Alberto estava estirado no chão, desmaiado mas vivo, uma garrafa de vinho estava na sua mão direita, e a outra com o punho cerrado, Alice não reconhecia mais seu pai, como ele pode ter ficado nessa situação? logo ele, o futuro prefeito. 

— Pai, o senhor está bem? 

Alice se aproxima do seu pai, ainda inconsciente, deitado no chão e com o sobretudo de linho imundo de poeira e bebida. 

A garota checa ao seu redor, tudo esta bagunçado, a cadeira do seu escritório está caída,  os documentos da sua mesa espalhados pelo chão do quarto, nada está certo, tudo está fora do comum. Alice repara em um caderno aberto na mesa de seu pai, ela se lembra de ter visto ele escrevendo e esbravejando palavras inapropriadas enquanto rabiscava violentamente várias páginas.

Alice se aproxima da mesa e olha a primeira página do caderno, a folha estava manchada pelo tempo uma coloração escura e outra bordô, gotas de vinho, ela lê a primeira linha. 

'' Hoje entramos em decadência, aos senhores, Leopoldo, Isaque e Gustavo só me resta forças para dizer que infelizmente falhamos em nosso plano, as cotas já jaz esgotadas de nossos fundos, em breve estaremos perdidos... '' 

Oque ele quis dizer com essas palavras? 

Alice se aproxima de seu pai, bate em seu rosto mas é ineficaz, ele não acorda. 

Só resta uma coisa a ser feita, a menina pega um copo que estava por incrível que pareça limpo de cima da mesa de seu pai, e parte em disparada ao banheiro do quarto, enche-o com água e volta para o homem, barba por fazer e cabelos compridos, quanto tempo ele esteve apagado? 

Alice despeja a água no rosto de seu pai, rapidamente ele esfrega o rosto e abre seus olhos, olheiras roxas em baixo de seus olhos, feições de cansaço eram de fato o incrível de um homem tão venerado na região. 

— A-Alice? 

A menina deu um passo para trás como quem não estivesse confortável com o fato de acordar um homem bêbado em seu profundo sono.

— Sim pai, sou eu, oque o senhor faz deitado no chão? 

Seu pai tenta se levantar, porém em vão, ele cai novamente como um saco de batatas cai da estante. 

Alice estende sua mão para ajuda-lo.

— Obrigado filha, você sabe que eu amo você, não sabe? 

Ela sabia sim, porém faz muito tempo em que os dois tiveram um momento juntos, como pai e filha. 

— Sim pai, eu também amo o senhor. 

Alberto esboça um sorriso, ainda afetado pelo álcool ele consegue se por em pé, seu sobretudo estava imundo, seu halito fedia a vinho conservado pelo tempo. Alice não sabia como agir diante de tal forma.

A menina ainda estava desconfiada do que havia lido no caderno, quem era aquelas pessoas? será que ela deveria perguntar? Será que seu pai estava falido? Só o tempo teria respostas para essas perguntas...  

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⏰ Last updated: Feb 17, 2018 ⏰

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