Capítulo 1

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- Droga! Droga! Drogaaa! Odeio quando isso acontece!

A coitada da mesa sentiu toda minha frustração recebendo um belo de um soco. Soco esse que fez eu me arrepender no segundo seguinte dessa explosão de raiva que me dominou. Fiquei com minha mão doendo absurdamente e ainda derrubei o copo com água na mesa. Mil vezes droga!!!

- Lúciaaaa! Corre aqui. Traz um pano. Rápido!

Lúcia vem correndo esbaforida com o pano nas mãos. – O que aconteceu Clarinha? Que bagunça que você fez! Algum problema? – Lúcia fala enquanto enxuga a água da mesa.

- Sim e não, Lúcia. Só estou frustrada. Desde ontem estou tentando escrever a resenha daquele livro e não estou conseguindo. Veja, nem uma linha sequer eu consegui escrever! Odeio quando travo assim. Meu prazo para entregar a resenha é amanhã e nem consegui gravar o vídeo ainda.

- Calma, você vai conseguir. Por que você não toma um banho enquanto preparo um café para você? Um banho quente vai te relaxar e o café vai ajudar a se concentrar melhor.

Como sempre, Lúcia consegue me acalmar e decido seguir seus conselhos. – Ah Lúcia, o que seria de minha vida sem você? Obrigada. – Me despeço com um beijo na bochecha da mulher que há tanto tempo cuida de minha família e vou tomar banho.

Ligo o chuveiro na temperatura mais quente disponível e me deixo envolver pelo calor acolhedor da água escaldante que cai em meu corpo. Fecho os olhos e deixo meus pensamentos voarem enquanto relaxo com o barulho da água. Meu peito está apertado e não consigo mais me controlar. O choro represado irrompe com toda força e lágrimas doloridas se misturam com a água que escorre por meu rosto. Aquele livro me fez lembrar de momentos que há muito fiz questão de esquecer. Já foi bem difícil a leitura dele, mas eu não esperava que essas lembranças me fizessem sonhar novamente com André. E esse é o motivo de não estar conseguindo escrever a resenha.

Nesses momentos eu me odeio. Me odeio por ainda me importar, por ainda sentir a dor e por ainda não acreditar que André tenha sido capaz de fazer o que fez. Meus pensamentos viajam e me levam até o exato instante em que coloquei os olhos em meu primeiro e único amor.

11 de junho de 1995

Era um domingo a tarde. Fazia pouco mais de um mês que eu havia mudado de casa. Estava morando em um bairro considerado "afastado da cidade" por ser ainda pouco habitado. Até que o local era muito bom. Lembro que era uma rua sem saída e os moradores se uniram para fechá-la colocando uma guarita com segurança na portaria. Se não fosse morador, precisava de autorização para entrar. Ficou com cara de condomínio fechado. Era um bairro relativamente perigoso por ter poucas casas e grande risco de assaltos, mas nossa rua era segura. Também lembro que me sentia muito incomodada com a mudança, com 14 anos eu já havia mudado 6 vezes de casa, não aguentava mais. Me sentia como uma nômade e o mais difícil era deixar para trás os amigos. Não tínhamos a facilidade de acesso à internet que temos hoje em dia...

Na época torci muito para meus pais fincarem raízes no local, pois foi lá que conheci Vanessa, minha melhor amiga até hoje, e foi justamente na casa dela que conheci André. Tínhamos o hábito de ficar sentada na calçada de uma de nossas casas nos finais de semana, jogando conversa fora. Nesse dia fatídico avisei para minha mãe que estava indo ficar um pouco com Vanessa - que morava na casa de frente à minha - conversando na calçada. Saí de casa e assim que fechei o portão vi Pedro, o irmão mais velho de minha amiga, que estava com alguns amigos na calçada conversando. Perguntei a ele se Vanessa estava, como sempre morrendo de vergonha... As pessoas não acreditam, mas na época eu era extremamente tímida e tinha sérios problemas com isso. Um deles era ficar vermelha igual um pimentão quando estava nervosa e foi justamente isso o que aconteceu.

Minha ResiliênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora