Jesus Christian

I - Seja quem você é, ame quem você é

Christian estava com os cotovelos e os joelhos apoiados sobre a cama. O corpo todo suado arrepiava-se com a brisa que entrava pela fresta aberta na janela. Sua respiração fora de ritmo e o coração acelerado eram apenas um efeito do prazer que sentia. Mantinha os dentes cerrados e as mãos agarrando com força o lençol de seda de cor creme.

Atrás dele, Carl, seu segurança e também melhor amigo mantinha-se em pé, firme, forte, ereto como uma estátua. A pele da cor do ébano no corpo definido destacava-o pela luz que invadia o aposento passando pelas cortinas brancas. Segurava o companheiro pela cintura com firmeza, ambos em sincronia, movimentos contínuos e precisos, algo que apenas duas pessoas com muitos anos de convivência poderiam fazer em harmonia.

Quando chegaram ao clímax, Christian lançou o corpo para frente, caindo esticado entre os lençóis da enorme cama de casal. Carl respirou fundo, o suor escorrendo pela testa, todo o corpo brilhando. O segurança foi até a janela e abriu as cortinas. À sua frente havia uma sacada e além dela o Union Park. Um ponto impossível para qualquer paparazzo o flagrar completamente nu, a menos que o mesmo voasse.

Na cama, Chris alcançara o controle de uma enorme TV 4K disposta na parede e a ligara em um canal qualquer. Ironicamente havia um noticiário onde o padre Simmon Lexter falava sobre projetos da igreja com um repórter.

—Nós precisamos nos preocupar constantemente com os menos afortunados – explicava o homem andando com o repórter por uma calçada, onde ao fundo eram mostrados pedintes sentados, deitados, fumando, bebendo ou dormindo – Precisamos nos lembrar daqueles que não tem onde dormir, o que comer, o que beber e se vestir. Lembrarmos daqueles que não tem oportunidades e nem condições de viver com dignidade ou conforto. Porque todos somos filhos d'Ele e todos temos esses direitos. E é parte do que nos foi ordenado amar e cuidar dos próximos, pois aos olhos d'Ele somos todos irmão, somos todos seus filhos.

Christian sentou-se na cama, ainda nu. Apontou o controle novamente e colocou a TV em modo mudo. Suspirou com expressão de descaso enquanto Carl aproximava-se e sentava à margem. Chris ficara encarando o sujeito, Carl tinha o corpo sarado, definido por horas de academia diariamente. Havia sido militar antes de tornar-se segurança particular nas empresas Lennox. Era belo e grande em todos os aspectos e isso apenas causava mais admiração no sujeito para quem trabalhava.

—Me pergunto o que se passa por sua cabeça quando me olha assim – disse o segurança.

—Não queira saber tudo que se passa pela minha cabeça, amigo, mas nesse momento posso lhe afirmar que estou admirando como você é perfeito. Você é muito bom no que faz, em tudo o que faz – respondeu Christian.

Carl esboçou um sorriso e se levantou.

—Aposto que diz isso para todos com quem sai – comentou sem parecer se importar.

—Certamente digo – rebateu o sujeito na cama, sorrindo – Mas se lhe conforta saber, nesse momento estou sendo mais sincero que em nenhum outro. Você me conhece a vida toda, sabe dizer quando estou mentindo.

—Sim, eu sei, e fico feliz que não haja segredos entre nós.

Chris voltou a olhar para a TV, onde o padre ainda era entrevistado.

—Não quero ser tão hipócrita quanto todos aqueles que me rodeiam. Esse homem – disse referindo-se ao Padre Lexter – é o segundo maior hipócrita que conheço. Todas as vezes que sou forçado a mentir, me sinto a pior pessoa desse mundo, me lembro deles e que sou só um peão no jogo que eles orquestram.

—Tomando as suas próprias palavras – disse Carl – se lhe conforta saber, você não é apenas um peão de Joseph e Lexter. Você é uma pessoa maravilhosa, lindo e inteligente e sabe o que quer e faz o que quer. Os fins justificam os meios, meu amigo, seja quem você é, ame quem você é, nada importa mais que isso.