can you give me something, please?

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[yani]

Dei um gole na taça de vinho e voltei a balançar meu corpo no ritmo da música que soava do meu alto-falante, levando todo meu estresse para longe, mesmo que temporariamente. Minha mente estava mergulhada em agonia desde que comecei a evitar certos assuntos com Chan para não correr o risco de terminar o que temos. Idiota, não é? Eu sei. Ele provavelmente seria compreensivo com qualquer preocupação que eu tivesse, mas minha carência havia se tornado outra, e eu sabia que Chan não podia me dar isso. E para piorar, eu passei a sentir ainda mais falta da presença dele, passei a dar mais atenção aos detalhes do rosto dele, mesmo que sempre me policiando para não o fazer. E para completar, passei a querer fazer parte da vida dele, conhecer os amigos, almoçar com ele no restaurante do campus. Literalmente passei a querer quebrar uma das principais regras que era de não se envolver tanto na vida do outro para evitar apego. Bom, tarde demais.

Assim que entrei na cozinha e abri a geladeira, percebi que havia esquecido de comprar o básico do mês para não morrer de fome. E já que eu tinha o dia livre, decidi que era uma boa hora para ir no mercado. As duas taças de vinho não fizeram efeito, então tudo bem. Peguei minha carteira dentro da bolsa e tranquei a porta, colocando as chaves no bolso traseiro do meu jeans.

***

Após pegar tudo que achei necessário, levei ao caixa e esperei a garota passar os produtos, enquanto eu ficava com a carteira em mãos. Me virei para a saída e encontrei Chan com as mãos enfiadas nos bolsos da calça e andava para lá e para cá do outro lado da rua, parecia estar esperando alguém. Suspirei e sorri largamente, já pensando no que falaria com ele assim que saísse daqui e subitamente tive pressa em pagar tudo de uma vez. Mas assim que eu terminei de organizar as sacolas e me preparei para sair, vi que Chan não estava mais sozinho. Uma garota o abraçava pela cintura e os dois compartilhavam o mesmo sorriso que eu há um minuto atrás, enquanto conversavam animadamente.

Minha visão ficou turva e meu corpo ficou fraco, fazendo o peso das sacolas me puxar para baixo. Ouvi a moça do caixa perguntar algo sobre o meu estado e eu apenas acenei positivamente, ainda em silêncio. Coloquei as sacolas no chão por um momento e fui ao corredor de bebidas, pegando uma garrafa de vinho, já que a que eu tinha em casa estava na metade e eu precisaria de mais para aguentar essa noite. Quando voltei ao caixa, felizmente os dois já não estavam mais ali.

Eu quis dar um tapa no pensamento que surgiu implorando para que aquilo fosse apenas uma alucinação causada pelas duas taças que eu já havia ingerido.

***

2:00 da manhã.
Meu corpo estava jogado no chão da sala, cansado de dançar e chorar, numa tentativa falha de amenizar aquela frustração que só parecia pesar mais dentro de mim. Lembrei da mensagem que enviei assim que cheguei em casa, dizendo que precisava vê-lo hoje, não importava o horário. Mas digitei isso sabendo que ele só viria no próprio horário, como se eu fosse uma programação na agenda dele.

Tomei banho, lavei o cabelo, hidratei minha pele, comi alguma coisa. Achei que cuidado pessoal me distrairia e me faria sentir mais importante naquele momento, e funcionou. Mas aí a campainha tocou e eu percebi duas coisas: 1) eu não estava preparada para encará-lo 2) eu ainda estava bêbada.

Ele estava lindo.
E o sorriso dele enquanto me admirava era tão lindo quanto.

- Obrigada por vir. - Me apoiei na porta, tentando disfarçar minha leve tontura.

- Desculpa por vir tão tarde - ele disse e entrou, me dando um beijo na bochecha.

Fechei a porta e fui até o centro da sala.

- Não é nenhuma surpresa pra mim. - Ri amargurada.

- Você tá bem, Yani?

- É melhor se eu for direto ao ponto? - perguntei e ele assentiu. - Eu não sei exatamente o que temos, mas eu não quero continuar. - Agradeci mentalmente porque minha voz saiu firme.

- O que disse?

- Eu te vi acompanhado hoje. E depois de pensar muito, decidi que é melhor pra mim se isso não continuar.

- Yani... - ele levantou e deu um passo em minha direção, mas parou quando me viu dar um passo para trás.

- Eu sinto muito por não ter deixado claro que as coisas estavam mudando pra mim. Mas eu prefiro superar esse sentimento do que continuar sendo uma zona de conforto pra você. - Tremi quando "zona de conforto" soou, como se eu tivesse levado um baque de realidade.

- Não tô entendendo. Como assim zona de conforto? Você nunca foi isso pra mim - ele disse, ofendido.

- Eu nunca exigi nada, Chan, eu nunca quis ser um "para sempre" na sua vida. Você mais do que ninguém sabe o quanto eu apoiei esse nosso envolvimento e o quanto foi ótimo enquanto durou. Mas eu preciso que você seja sincero comigo. - O nó que se formava na minha garganta se tornava cada vez maior. - O que você acha que eu sou? Um robô que está a sua disposição quando está sozinho e não há ninguém melhor para te entreter?

- Você nunca foi isso, Yani!

- Então me fala! - me exaltei. - Antes de transarmos mais uma vez, será que pode me deixar às claras? Eu não quero ser uma felicidade passageira, Chan. Por mais "nem aí" que eu pareça, já cheguei a um nível em que as perguntas na minha cabeça me fazem querer explodir!

- Eu achei que estava tudo tranquilo entre a gente. Conseguimos manter uma intimidade que não nos sufocava, isso não é bom?

Chan estava claramente confuso e assustado com a minha súbita atitude. Mas eu precisava ficar firme.

- Justamente! Você me levou na praia que marcou sua infância e atualmente é seu lugarzinho secreto de pensamentos! Meu Deus, tem coisa mais clichê do que isso? - Senti minha voz falhar, prendi meus cabelos desajeitadamente num coque abacaxi porque aparentemente toda aquela situação estava me dando um calor insuportável. - Você se sentia confortável para me contar suas histórias e suas preocupações, mas eu nunca fui suficiente para fazer parte da sua vida de verdade, não é?

- Yani...

- Mais uma vez, eu sei que foi um erro meu não te contar meus incômodos em relação a isso. Pra ser sincera eu nem sei quando isso começou a surgir dentro de mim. - Fechei os olhos e respirei fundo. - É uma pena ter que dizer isso, Chan, mas estamos em níveis diferentes, e eu preciso de um tempo sozinha pra ajustar isso.

[3rd]

Chan estava perplexo. Sua mente estava nublada e ele não entendia o que estava acontecendo naquela sala e nem aquela sensação estranha correndo em seu corpo. Alguns minutos se passaram até que ele percebesse que Yani não estava mais em sua frente, e o silêncio insuportável no lugar só aumentava o espaço para a bagunça em sua mente falar ainda mais alto. Tentou organizar os sentidos antes de caminhar até a saída, implorando para que acordasse assim que a porta batesse. Mas nada aconteceu.

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temporary bliss | bang chanWhere stories live. Discover now