Capítulo 11 - A vinda dos meus avós

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   Quando o dia começou, eu acordei já cansada. Estava um dia horrível e muito frio. Tudo o que eu queria era poder ficar na cama por mais algumas horas sonhando. Não estava com fome, não estava com vontade de escrever, de ler, de ter aula de piano, não estava com vontade de levantar e experimentar o que aquele dia iria querer de mim. Eu só queria um dia de paz e descanso.

   Quando percebi que chegara o primeiro dia do Hannukkah e ninguém estava trabalhando em casa. Aproveitei um tempo pra sentar e conversar com minha mãe.

   Ela parecia triste e cansada. Eu queria me desculpar por ser tão chata e por dar a ela tanto trabalho. Eu queria dizer a ela que estava tudo ia ficar bem e que ela não precisava se preocupar com nada. Eu abracei ela e deixei que ela descansasse.

   Fui pra cozinha e pedi que minha tia me ajudasse a cozinhar latkes e arrumar a mesa com a menorah. Nós só não encontravámos a Torah.

   Meus avós chegaram pra nos visitar, foi uma surpresa. Aquilo deixou minha mãe melhor. Nós almoçamos todos juntos pela primeira vez depois de vários anos. Mas eu estava com uma impressão ruim. Não daquele dia, mas talvez do que poderia acontecer logo. Fui á cozinha e tomei uma água enquanto esperava a sobremesa ficar pronta. Eles estavam todos conversando sobre o que cada um havia feito no tempo que ficamos separados. Contamos charadas e depois cantamos músicas enquanto eu tocava o piano.

   Quando chegou a noite, eu peguei Menorah e a Torah e levei a mesa. Nós acendemos as velas e fizemos a oração. Vovô e vovó entregaram algumas lembrancinhas para cada um de nós e nos deram um cartão com uma frase bonita de Hannukkah. Depois, escutamos músicas clássicas no rádio antes das notícias.

   Hitler já havia chegado a Bélgica e depois da noite dos cristais, muitas pessoas morreram. Agora os guardas aguardavam uma maior chegada de pessoas aos campos de concentração. Me levantei e olhei por uma pequena fresta na janela. Vi poucas pessoas caminhando por ali naquela escuridão sombria com rostos tristes e corpos exaustos.

   Me sentei ao lado de minha família novamente e agradeci a Deus junto a eles por estarmos juntos em casa, em segurança, com as velas nos aquecendo e ao som do rádio. As notícias podiam não ser muito agradáveis, mas não estavamos reclamando e nem chorando, estavamos bem. Naquela noite, rezamos por todas as vítimas que sofriam nas mãos dos nazistas. Desamparados, perdidos, com fome e sem família.

   Eu estava com sono e avisei a minha mãe que iria dormir. Dei boa noite a todos e fui pro meu quarto. De repente o sorriso sumiu de meu rosto. Pensamentos ruins vieram a minha cabeça sem nenhum motivo. Eu me sentia preocupada com algo, mas não sabia o que era exatamente. Comecei a sentir uma azia e uma dor de cabeça terrível. Não sabia o que era aquilo. Fechei meus olhos e comecei a pensar em coisas boas. Tentei dormir sonhando com que houvessem mais dias como aquele.

   No dia posterior, meus avós infelizmente tiveram que ir embora logo depois do almoço. Eu queria poder ir com eles.

Meu quarto estava uma bagunça. Eu tive preguiça de mantê-lo arrumado todos esses dias, mas hoje senti uma pequena disposição. Olhei para a minha escrivaninha e meu diário estava lá. Me lembrei de que havia esquecido de escrever sobre o dia de ontem. Então eu o abri, peguei minha caneta, quando respirei ofegante e ouvi alguém batendo na porta. No princípio achei que podia ser só o correio vindo para entregar uma carta, mas percebi que a casa ficou silenciosa depois que as batidas pararam. Fui na sala para ver o que estava acontecendo.

Meu corpo ficou quente, senti minha cabeça rodar e aquele pressentimento ruim voltou junto com a azia, e agora eu sabia o porquê. Foi bom tudo enquanto durou.

Amor ProibidoOù les histoires vivent. Découvrez maintenant