Capítulo 1

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    Borges e Mariana formavam um casal de classe média alta. Tinham quatro filhos: Gustavo, Marina, Rogério e Ângela, e se davam muito bem. Executivo de uma companhia de seguros, Borges tinha se realizado através do trabalho constante e de sua perspicácia no ramo, tendo sido elevado à condição de gerente geral. Exigente com seus funcionários, ele era muito bem visto pelos donos da empresa, que confiavam plenamente em si.

    Em casa tudo corria bem. As crianças eram cuidadas pela mãe, que não trabalhava fora, e ele provia todas as necessidades do lar. Quando os filhos começaram a estudar, o sonho dos pais era vê-los formados, independentes, pois Borges vinha de uma família pobre e havia se formado em administração de empresas à custa de muitos sacrifícios. Mariana, cujos pais não tinham posses, trabalhava no comércio a fim de suprir suas próprias necessidades e ajudar em casa.

    Conheceram-se num restaurante popular durante o intervalo para o almoço. Tornaram-se amigos, depois veio o namoro, o noivado e o casamento. Começaram a vida como a maioria dos casais: casa alugada, ambos trabalhando, porém quando Mariana ficou grávida, Borges já tinha um bom salário e ela parou de trabalhar. Borges foi crescendo dentro da empresa, enquanto os outros filhos foram chegando, e ele comprou uma casa modesta, mais tarde trocada por um bom apartamento num bairro nobre.

    Tiveram preocupações com os filhos na adolescência, como a maioria dos pais, mas veio a fase adulta e ambos sossegaram o coração. Gustavo formou-se em advocacia e casou-se muito cedo. Marina era formada em ortodontia: exercia sua profissão e morava sozinha. Rogério havia se formado em medicina clínica; estava se especializando em ortopedia e morava com os pais. Ângela estava terminando o curso de administração de empresas e em breve se formaria.

    Borges estava se preparando para a aposentadoria e fazia planos com a esposa; pretendiam viajar, relaxar, aproveitar o tempo perdido com a criação dos filhos, curtir a vida que ainda lhes restava, quando Gustavo ficou viúvo e Mariana teve que ajuda-lo a cuidar do filho recém-nascido; a nora havia falecido no parto. Gustavo contratou uma babá para cuidar do menino e o deixou na casa dos pais.

    Borges se sensibilizou com a desdita do filho, esteve a seu lado ajudando-o a superar a pior fase, mas quando Gustavo retomou sua vida, deixando o menino com eles, Borges sentiu sua privacidade ser invadida. Ele e Mariana tinham criado e educado os filhos sozinhos, e no instante em que, com todos eles adultos, pretendiam aproveitar o que lhes restava de vida, Gustavo lhes tirava esse prazer. Poderia ter deixado o bebê com a sogra, que lhe havia pedido, mas ele disse confiar mais em sua mãe; além de privar a sogra de um contato maior com o neto, que lhe recordava a filha amada, ainda fazia com que eles tivessem que mudar seus planos. Gustavo agia como se fosse solteiro; a mãe criava o filho com a ajuda da babá, enquanto ele namorava à vontade.

    Não bastasse essa contrariedade, Marina, moça muito bonita, com modos bem femininos, inteligente e amorosa com os pais, um dia revelou-lhes que era lésbica. Foi para ter privacidade que ela resolveu morar sozinha, disse-lhes. O desgosto tirou-lhes a alegria de viver. Custariam muito a se recuperar, se é que um dia aprenderiam a conviver com tal situação.

    A vida para eles parecia ter perdido o sentido, tal o tamanho do choque, quando Ângela, moça culta, inteligente e totalmente independente, sem sequer lhes pedir autorização, casou-se logo após a formatura; estava grávida!

    O que mais a vida lhe reservava? _Borges se perguntava.

    Um dia, tomando uma cerveja com um amigo após o trabalho, Borges se demorou um pouco mais, e ao voltar para casa encontrou o neto dormindo com a avó em sua cama. Para não acordá-los, Borges foi dormir no quarto que era do Gustavo e isso acabou virando rotina. Gustavo Júnior, de apenas um ano, exigia e a avó lhe fazia a vontade!

OS PERIGOS DA LUXÚRIAWhere stories live. Discover now