Capítulo final

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    No domingo, como fazia de vez em quando, Borges foi visitar a família. Ficou algum tempo por ali, conversou com os netos pré-adolescentes, e ao encontrar-se com Gustavo, pediu que ele o procurasse em seu apartamento, pois precisava falar-lhe em particular.

    No final da semana seguinte, Gustavo foi procurar o pai. Conheceu Claudete, que saiu em seguida para que eles ficassem a sós, e tomou conhecimento do drama que o pai estava vivendo, inclusive a forma pela qual ele adquiriu a doença e a transmitiu à Claudete.

    _Pedi que viesse Gustavo, pois preciso do seu serviço como advogado. Moro com Claudete há mais de dois anos e é ela quem cuida de mim. Transmiti-lhe a doença e não queria deixa-la desamparada. Tenho esse apartamento em meu nome e quero passar para o nome dela. Ela é uma moça simples, trabalha para prover o próprio sustento. Todos os enfeites e eletrodomésticos que estão aqui, foram comprados por ela, que nunca tentou levar vantagem no nosso relacionamento. Infelizmente eu a contagiei e quero ajuda-la a se manter, quando eu me for e a doença a deixar incapacitada para o trabalho. Além de deixar-lhe o apartamento, quero deixar-lhe também uma pensão alimentícia, como fiz com sua mãe.

   _Não sei se vai ser possível papai, pois embora o senhor tenha se desquitado da mamãe, têm seus filhos, que são seus herdeiros e podem intervir. Todos teriam que estar de acordo para que essa transferência pudesse acontecer.

    _Não quero que ninguém saiba da minha doença, Gustavo, por isso o chamei aqui. Isso deve ficar somente entre nós.

    _Sem que eles tomem conhecimento papai, acho que não vão concordar.

    _Por que não Gustavo? Nunca lhes deixei faltar nada; todos vocês estão formados e têm sua própria vida; deixei tudo o que era nosso para sua mãe, inclusive o apartamento e o carro, além de uma boa pensão...

    _Mas é a lei, papai. Se meus irmãos souberem o que está acontecendo, é claro que eles atenderão seu pedido, além de lhe ampararem quando o senhor piorar.

    _Vê se dá um jeito de resolver isso sem que eles saibam, Gustavo. Os remédios são caros e eu não consigo fazer uma poupança para ela. Não é justo deixa-la contaminada e sem ter como se cuidar.

    _Vou ver se encontro alguma brecha na justiça para fazer o que me pede, papai. Volto assim que tiver uma resposta.

    Gustavo saiu e Borges ficou chorando. O que fez de sua vida? _perguntava-se. _O que ia acontecer com Detinha, completamente desamparada?

    No dia seguinte Borges foi com Claudete ao banco e transferiu tudo o que ainda restava na sua conta para a conta dela. Em seguida foi na firma em que trabalhava, pediu dispensa, e tudo o que recebeu ele colocou nessa conta, bem como o dinheiro da venda do seu próprio carro. Em breve ele não teria condições de dirigir, para que precisava de carro? Detinha o levaria ao médico sempre que fosse preciso.

    Quinze dias depois Gustavo voltou. Não trouxe boas notícias. Tinha consultado alguns colegas e até antigos professores, dizendo estar trabalhando para um cliente importante, porém a lei era irrevogável. Depois de dez anos de concubinato seria possível conseguir alguma coisa, mas dois anos era muito pouco. Com um dos professores ele comentou sobre a doença, mas ele apenas lastimou a situação da moça. Para obter uma pensão alimentícia enquanto ela sobrevivesse, teria que expô-la, provar a contaminação, e exigir dos familiares que a amparassem, porém, como o próprio professor lembrou, as leis do nosso país são tão morosas, que talvez ela morresse antes de conseguir algum auxílio.

    Borges chorou e Gustavo perguntou:

    _Nós soubemos que o senhor voltou a trabalhar. Junto com a aposentadoria, o senhor não conseguiu guardar nada com que possa amparar essa moça?

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⏰ Last updated: Mar 06, 2018 ⏰

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