Capítulo 7-"O QUE DEUS UNIU, SOMENTE OUTRA MULHER PODERÁ SEPARAR."

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O salão que eu frequentava desde que decidira atender aos apelos do meu marido e parar de cortar os meus cabelos (ele adorava os meus cabelos longos...eu odiava) mais parecia uma delegacia de mulheres.

_Disse a ele que estava muito cansada e que queria dormir. Ele veio com aquele papo de que "quem não tem competência, abre pra concorrência", que eu tinha que cumprir minhas obrigações de esposa e blábláblá. De saco cheio, pus dois travesseiros enormes debaixo do meu traseiro, arranquei a calcinha e disse a ele "usa"._começou a loura tingida que fazia as unhas num canto do salão.

Duas idosas que estavam pintando os cabelos não disfarçaram a contrariedade daquele assunto e naqueles termos serem tratados em um tom de voz que atingia a todas.

_E ele? Aposto que morreu de vergonha e te deixou em paz._quis saber a manicure.

_Quem me dera, minha filha! Acordei um tempo depois e ele ainda estava lá tentando tirar água de pedra, acredita? Só parou de tentar me animar quando eu ameacei de usar a Lei Maria da Penha alegando estupro!

_Jesus Cristo!_uma das senhoras idosas deixou escapar.

Cansada de ouvir aqueles assuntos que envolviam sempre uma tragédia familiar, eu me sentei logo numa cadeira vazia, indicada por uma das cabeleireiras, após me anunciar para a balconista na portaria.

Logo veio uma das funcionárias me atender e, antes que eu a observasse uma segunda vez, ela quase gritou:

_Ei! Eu te conheço!

_Acredito que sim._respondi_Eu sempre venho aqui.

_Não, menina...não daqui! Esta é a minha primeira semana. Você não é a Alice da turma 305? Colégio Marina da Glória Bintecourt?

Olhei aquele mulherão (1,80m, mulata Globeleza, olhos grandes, lábios carnudos, sorriso contagiante e muito simpática) e fiquei me forçando para lembrar quem poderia ser ela.

Já haviam se passado 20 anos e eu realmente estava impressionada por aquela garota linda ainda se lembrar de mim. Eu, uma aluna apagada, pele extremamente branca, olhos meio repuxados ("Mãe, a senhora foi buscar a Alice no Japão?", brincavam meus irmãos), 1,65, que tivera que aceitar o apelido de "japinha" logo no primário.

Me assustei quando ela voltou a falar entusiasmada:

_Fatinha...turma 306! A gente jogava Handball juntas, não se lembra? Eu era da turma da Lúcia Helena, aquela que foi garota estudante e logo depois engravidou do Marcelo...um que foi expulso por vender maconha no banheiro...claro que você se lembra! Eu sempre ficava no gol, quando jogávamos futebol!

Tive uma leve lembrança de uma menininha raquítica, cabelos muito curtos trançados no gol adversário ao nosso. Não me lembro de  termos trocado meia dúzia de palavras na época.

_Claro que me lembro...lembro de você sim.

"Da época em que você era feia...não esse mulherão de parar o trânsito!", quase não me contive.

Ela fez o que todos os cabeleireiros sempre faziam comigo que era pegar os meus cabelos e começar a elogiá-los, falar que, caso eu quisesse vendê-los algum dia, poderiam arranjar um comprador e tal.

_Cicatriz nova, Matilde?_uma das atendentes falou do outro lado do salão, chamando a atenção de todo mundo.

Uma mulher morena e gordinha, usando um vestido verde e lilás horroroso acabara de entrar no salão com um curativo ao lado da sobrancelha esquerda.

O CHAMADO DO ARCO-ÍRIS-Contos eróticos para gays e lésbicas-Armando Scoth LeeOnde histórias criam vida. Descubra agora