Comece pelos Olhos

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Comecei a minha análise pelo o que mais me chamara atenção; os grandes olhos que traziam um tom de brilho diferenciado, eu via-os - mesmo que o contrário tenha sido dito - como a noite mais estrelada.
Encantava-me cada segundo ao mesmo tempo que segurava um sentimento de pura ansiedade, talvez eu não tenha colocado essa posição por palavras, com a minha voz, mas o timbrar do meu coração falara naquele momento.

Depois desse pensamento um tão quanto claro quando se trata dos sentimentos, porém obscuro quando se trata da consequência desses sentimentos, pude contemplar com maior profundidade a luz do amanhecer; não era diferente dos outros dias, fazia um frio que deixava meu corpo trêmulo e com um esclarecimento, pois a serra que havia pelas janelas do meu quarto trazia uma sensação de plenitude.

Com os pés descalços peguei a toalha para meu banho matinal; a sensação que trazia a água quente junto com a leve brisa que saía da janela não podia se explicar com simples palavras, apenas fechar o olho e imaginar um momento de contato com o ambiente. Talvez não fosse uma manhã como todas as outras como eu pensara antes, talvez, seja simplesmente algo novo, afinal, as novas experiências consistem na rotina ou o que podemos fazer da nossa rotina? O leve questionamento levou-me à conclusão de que não há dias iguais enquanto se há a liberdade de viver e pensar, com isso pude abrir um leve sorriso de satisfação que parecia completar um quebra-cabeça de emoções.
Eu me sinto vivo a cada manhã que penso, a visão muda a cada sentimento que se procura.

Muitos dizem que talvez eu pense demasiadamente na vida; nunca consegui entender o que há de errado com tal afirmação, - pois vejo os olhos arregalados e confusos dos que afirmam tal sentença - o que será de todo ser-humano se não pensar nas consequências de não se pensar? E não apenas pensar demasiadamente, mas também viver tal pensamento em suas conclusões mais lógicas; apesar de eu mesmo explanar todos os dias isso em minha cabeça, nunca consegui dar a entender com simples palavras aos questionadores.

Vendo a hora desliguei o chuveiro que já estava um tão quanto quente, era notório que a brisa havia se passado; peguei minha roupa no armário e levei à sala para lá me trocar, arrumando-me pude notar no espelho pequenos traços dos meus olhos e boca que me faziam repensar meus sentimentos e humores, nunca tinha visto a luz refletir naqueles meus olhos castanhos de tal forma como refletiam aquele dia, talvez, seja a sensação dentro de mim que trazia a energia à eles; como será que as pessoas vêem minhas expressões faciais e como interpretam-nas? - indaguei-me com essa questão por essa manhã, mas não só, também perguntei-me - Como será que... o sorriso inabalável e os olhos negros dela me vêem?

Então acordei mentalmente - já era a hora de estar na escola - corria pela rua de casa em direção à escola balbuciando algo para mim mesmo como:

- Atrasado novamente Pold, sério isso?

Apesar dos meus esforços para chegar no horário, cheguei minutos atrasado, mais uma aula de história perdida. Lembro-me vagamente da matéria dada pelo Charles na última aula - isso é, a última que consegui comparecer. Charles não se cansava de responder todas nossas perguntas com ironia e de questionar o que fazemos na vida além de ficarmos presos diariamente em cima do sofá, na sua percepção, sendo engolidos pelo celular; mesmo com tantas críticas suas, nunca me assemelhei à esse tipo de jovem, é simplesmente estranho para mim imaginar uma pessoa com todas as forças no ápice perdendo horas, minutos e segundos com dedos na tela touch dos aparelhos nos diversos aplicativos e jogos. Perdido novamente nos pensamentos vejo também outra pessoa correndo com a mochila rosa choque e listras brancas com uma mão nos óculos para que o mesmo não caísse:

- Abram esse raio de portão, não sou obrigada a ficar aqui fora nessa chuva! - falava Cadence enquanto com o punho fechado movia sua mão para frente e para trás.

Eu conhecia Cadence desde pequena, sempre foi muito inteligente e sempre buscou o melhor de si nos estudos, trazia consigo uma grande alegria em alguns momentos e uma profunda tristeza em outros, penso que naquele momento ela não notou muito minha presença pelo seu nervosismo ao tentar entrar, sempre vi suas emoções bem afloradas, e não digo por mal, também sou assim, e por isso considero-lhe uma grande pessoa em minha vida; após seu ataque, Cadence com olhos arregalados notou minha presença e abriu um leve sorriso com seu aparelho:

- Ah, oi Pold! Chegou atrasado novamente?

- Não estás na posição de me julgar, - disse eu com um tom irônico, e continuei com uma voz um pouco mais séria - acho que realmente Charles vai nos matar...

- Pois bem, primeiramente, tenho todas as posições de julgar-lhe, é a primeira vez que faltei no ano, e segundo, foi pelo atraso da Violet, hoje ela dormiu lá em casa e tive que esperar ela se arrumar.

Pude sentir minha boca ficando seca ao ouvir o nome dela; Violet era a prima de Cadence, e talvez a imagem que mais atormentava meus pensamentos noturnos e matinais.v

A Menina dos Olhos da NoiteWhere stories live. Discover now