A Menina dos Olhos da Noite

Continue pela Voz

Entretanto tal tormento que ela me causava, não era o do tipo que trazia dores ao meu corpo e ao meu psicológico, pois na verdade, trazia uma paz diferenciada ao ouvir a sua voz, pela primeira vez que eu ouvira não pude diferenciar o mais afinado violino e a mais ensaiada opera ao momento de paz que tive ao ouvir doces palavras que saíam dos seus lábios pequenos e rosados; momento que maior só encontra no Divino Pai, pois o mesmo criara o amor como o aspecto mais puro de um ser, um pequeno reflexo seu, que não representa toda sua essência, mas nos leva ao que estabeleceste, que é a união. Penso que Cadence percebeu minha aparência e como eu me deleitei nos pensamentos ao ouvir sobre Violet; Cadence já sabia de meu histórico de conversas com a mesma, e não gostava da ideia de eu alimentar tais pensamentos em uma falsa esperança; como um banho de água fria disse ela:

- Ela já está chegando, o namorado dela parou-a no caminho para conversar e disse que ele mesmo levaria-a de carro.

Sim, soou como um banho de água fria, toda a minha expressão boba havia se deixado e dado espaço ao racional novamente.

Durante esse tempo que está me conhecendo, caro leitor, você verá que nem sempre minhas emoções são claramente definidas; sim, creio que foi possível ver um pouco das características do meu pensar e agir anteriormente. Ainda peço que tenha um pouco de paciência com a minha pessoa, que procura o lógico no ilógico e o racional no sentimentalismo. Dado ressalvas, é possível que eu tenha deixado clara o que eu falarei para Cadence agora:

- Eu realmente não ligo para o namorado dela ou para ela, não precisa me dizer a vida toda deles. - dizia eu enquanto minhas mãos apertavam uma a outra e meus pés iam para um lado e para o outro com uma certa desordem.

Cadence sempre foi perceptiva aos meus movimentos e ansiedades, ela me conhecia como ninguém, por isso, com toda essa cena que fiz, ela apenas abriu um sorriso típico da própria, onde com uma leve inclinação da boca, cruza seus braços ao mesmo tempo:

- Tudo bem Pold, você tem razão.

Quando uma pessoa está em um certo tempo em sua vida, é visível que ela te entende em meio a olhares e gestos, essa pessoa é importante em momentos únicos, e não só, qualquer momento perto dessa pessoa se torna único e especial. Quando temos um porto-seguro no Eterno Rei e nós mesmos é a chave, porém, quando há também alguém para fortalecer esse porto seguro, as coisas sempre se tornam diferenciadas. Como um líquido que flui de um lado para o outro é essa relação. Não há palavras que podem definir melhor uma relação do que um líquido.

Cadence e eu somos líquidos, um líquido um tão quão heterogêneo, porém um líquido.

Em meio aos devaneios, e a troca de olhares meus e dela sem se esquecer do sorriso, o portão se abriu com um timbre grosso dizendo:

- Tudo bem Cadence, pelo menos dessa vez você não subiu no portão, obrigado pela espera de ambos, e desculpe por deixar-vos na chuva.

Coloquei minhas mãos nos bolsos da minha blusa, mesmo com tanto frio, pude fechar meus olhos novamente por um momento naquela chuva e sentir o cheiro do dia, o cheiro que não pode faltar a cada atividade que se começa, busquei um refúgio mental ao olhar o dia nublado e perceber que...

Um alto ruído vinha da rua, um som tão alto que abri meus olhos estupefato e virei-me.

Era o carro do namorado de Violet, onde ambos chegavam atrasados para a escola.