*19*

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Abro os olhos e encaro o vazio. Isso não esta acontecendo.

O teto do meu quarto nunca me pareceu tão sem graça.

Me sinto vazia, não tem nem lagrimas para que eu derrube.

Pietro esta sentado na poltrona a poucos metros da minha cama. Serio, o fiel copo de whiskey em sua mão. Ele não diz nada, apenas me encara sem transmitir nenhuma emoção. Estou como ele.

Fria. Vazia. Sozinha.

Me recordo da ligação como se fosse uma lembrança distante. As palavras parecem irreais. Me sento e encaro minhas mãos em meu colo. Elas são pequenas, e apesar de todo o treinamento, delicadas, mesmo com tantos machucados. Mexo minhas mãos como uma criança, sem saber o que fazer. cada vez que as palavras se repetem em minha mente, tento calar minha própria voz. Não da certo.

Sinto tudo demais. A Macies dos meus lençóis contra minha pele. a dor na parte lateral da minha cabeça. O aperto em meu peito.

Isso é o pior.

Respiro fundo e fecho os olhos. É tudo um sonho. Nada disso esta acontecendo. Sinto meus olhos se encherem de lagrimas e me controlo. Não me permito chorar na frente dele mais uma vez.

-Você esta bem? - ele pergunta. Não repondo. É apenas um sonho. só isso.

Não é um maldito sonho. é a realidade. é a vida, a mafia.

Nascido com sangue e morte. Iniciado com sangue e morte. A unica saída é o sangue e a morte.

A morte é a unica coisa que nunca conseguiremos controlar. Que esta fora de controle em algumas ocasiões. A unica coisa que podemos ate evitar, mas uma hora ela chega, sempre chega.

Repito as palavras uma e duas e três e milhares de vezes em minha mente. Ele esta morto. Minha base, meu tudo, meu capo, meu pai.

Morto.

Tenho uma invasão para resolver, minha nomeação, o casamento, um enterro.

O enterro do meu pai. Hendrik Obenko morto.

Não deixe para dar valor a algo depois que a perder. O agora só pode ser vivido uma unica vez. e se você não aproveitar ,não terá uma segunda chance.

-Maria ? Voce esta bem?- o embuste pergunta mais uma vez. caralho, sera que não da pra entender que se eu não respondi da primeira vez, não vou responder agora?

viro minha cabeça lentamente em sua direção e não falo nada, apenas o encaro. Ele entende meu olhar. pelo menos uma vez ele faz isso.

ele se levanta e sai do meu quarto em silencio. fico deitada por mais alguns minutos antes de me levantar e trancar a porta. Minha .40 me encara na minha mesinha de cabeceira. eu poderia me juntar a eles tão facilmente. Mas deixar o imperio que meu pai construiu para um bando de abutres não me parece certo.

me encosto na porta e repasso a ligação mais uma vez, tentando achar algo que mostre que não era verdade.

"senhorita Obenko? Aqui é Fellix. Sou interno. seu pai esta morto. O corpo foi achado a 30 minutos com um tiro a queima roupa na testa. uma execução. Ele vai ser levado até voce em breve"

Meu interno no Kremlin nunca me passaria uma informação errada. Ou passaria?

Ligo para o celular de meu pai. Chama até cair na caixa postal.

Nós brigamos, ele pode muito bem estar fazendo graça e não querer me atender. ligo mais uma vez. nada. Respiro fundo ,mais uma vez. Estou fazendo isso demais nos últimos tempos. Engulo meu ranço e ligo para a Vadia que se denomina Rebecca. Apenas chama até cair na caixa postal. Se ele realmente se foi. É bom que ela também tenha ido. Porque se não, irei providenciar isso.

Filha da MáfiaWhere stories live. Discover now