Capítulo 15

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Protegida pelo silêncio das quatro paredes, em meu quarto, começo a recordar os acontecimentos das últimas horas.

A racionalidade grita para que eu foque meus pensamentos nas ações rebeldes, no que pode ser tão grave a ponto de ser um segredo até para mim. Porém meu coração está acelerado demais para concentrar-se em qualquer coisa além da lembrança do que aconteceu no jardim.

Percebo que não vou dormir tão cedo.

Queria extravasar todos esses sentimentos confusos por meio das cordas do violino. Mas acordar metade do castelo não é uma boa ideia.

Talvez um livro me ajude a relaxar. Entretanto todos os que compõem a pequena estante do meu quarto já foram lidos diversas vezes; preciso de algo novo, que realmente prenda minha atenção.

Decido descer até a biblioteca.

Quando abro as portas e adentro no local um barulho relativamente alto ecoa pelo cômodo. Procuro rapidamente o interruptor e quando a luz ilumina as prateleiras deparo-me com Dylan caído no chão, coberto por livros.

-A...al...alteza!

Ele se levanta, faz uma reverência apressada e começa a recolher os livros.

-O que faz aqui a essa hora? Também estava com insônia?

-Exatamente! Mas já estou voltando ao meu quarto. - Ele começa a caminhar em direção a porta, que é onde estou.

-Sua lanterna. - aponto para o instrumento metálico que permanece no chão.

-Ah, sim. Já ia me esquecendo.

-Não vai levar nenhum livro?

-Na verdade eu vim devolver alguns que estavam comigo.

Olho para os títulos que ele empilhou na mesa de leitura próxima da janela e algo me causa bastante estranhamento.

- Você leu todos esses livros?  É verdadeiramente  "fã" de Gregory Illéa não?

-Na verdade eu estava  devolvendo uma trilogia de livros de ficção científica. Já ia voltar ao meu quarto, no escuro, porque minha lanterna acabou a bateria e eu não me lembrava onde fica o interruptor. No entanto tropecei no pé da mesa e acabei derrubando tudo isso. - Ele aponta os diários de Gregory - Acredito que seja Frederick que gosta  mais desse tipo de livro, provavelmente estão reservados aqui para que ele possa estuda-los.

- Sua explicação foi bastante razoável Sr.Adams. Aliás, se ainda estiver sem sono ,podemos  pedir um chá e jogar um pouco mais de conversa fora.

- Certamente perder alguns minutos de sono ao lado de alguém como a senhorita será uma honra!

Suas palavras são "tudo" que eu esperava ouvir, ele está entre os que querem me agradar, vou lhe dar uma chance.

Dylan tem uma voz agradável, uma aparência encantadora e uma simpatia considerável.

Dentro de poucos minutos estamos sentados na sala de jantar do castelo - a sós - saboreando o chá de uma  erva qualquer  acompanhado de biscoitos de leite que derretem na boca.

Estou de frente para o garoto sentado na cadeira ao lado da minha. Ele  possui um olhar sedutor e não para de sorrir enquanto conta as histórias que renderam suas manchetes mais polêmicas. Sinceramente, parecem-me as famosas "histórias de pescador", pois notícias como as que ele está  narrando agora teriam cruzado os portões do Palácio se fossem verdadeiras.

-(...) É impressão minha ou a senhorita está duvidando dos acontecimentos aqui mencionados?

-Digamos que é como dizem, muito sabiamente, os mais velhos: "quem conta um conto aumenta um ponto".

Faço aspas com os dedos e ele começa a gargalhar quando modifico minha voz na tentativa de assumir um tom que sugira elevada maturidade.

- Confesso que tentei tornar os fatos reais com os quais trabalho um pouco mais interessantes. Porém a causa era nobre, queria arrancar um sorriso desses teus lábios. - Suas mãos correm suavemente por meus cabelos e posso sentir sua respiração acelerada.

Nesse momento percebo que há uma proximidade assustadora entre nós. Como me deixei levar à tão longe por duas vezes numa única noite?

Por sorte dessa vez consigo me afastar a tempo.

- Dylan, essa foi certamente uma conversa muito  prazerosa e divertida mas creio que já está na hora de voltar ao meu quarto. Boa noite!

- Boa noite, alteza !

*********

Saí em busca de algo que me destraísse das tantas preocupações que têm tomado conta da minha mente. O resultado não podia ser pior,  uma inocente ida na biblioteca só me trouxe mais problemas.

Os olhos e cabelos escuros, assim como todo o rosto bem desenhado de Dylan são tudo que consigo enxergar, independentemente do fato de minhas pálpebras estarem abertas ou fechadas.

Realmente eu não imaginava que um grupo de rapazes desconhecidos poderia me provocar tantas emoções diferentes.

Meu coração não deveria ficar batendo acelerado desse jeito. Depois da desilusão com Derick eu prometi a mim mesma que ele estava fechado, de uma vez para sempre.

Preciso treinar minha capacidade de alto-controle, não posso me permitir emoções assim. Se o fizer sei que vou cair nesse abismo da desilusão  novamente, porque nenhum homem é confiável. Mesmo que necessite de toda força que há dentro de mim, não vou deixar esse coração ingênuo resolver o meu futuro.

A escolha do selecionado ideal será feita por meio de um "acordo" entre o povo de Illéa e meu cérebro. Tenho fé que essa parceria trará a estabilidade de volta ao reino.

E assim vejo que mais um dia se aproxima, meus olhos estão pesados de cansaço  mas a mente permanece agitada. Porém enquanto observo os primeiros raios de sol atravessando as cortinas o sono enfim me vence.

Infelizmente isso acontece pouco mais de duas horas antes de uma voz doce vir chamar meu nome próxima ao meu ouvido. Ao me dar conta de quem se trata fico imediatamente assustada.

-Mãe?!- Sento-me apressadamente e ela sorri de um jeito que deveria me tranquilizar mas acaba despertando um pânico ainda maior.- O que hove?

-Eu pretendia dizer um  "bom dia!" em primeiro lugar, porém vou direto ao ponto. A Seleção mais uma vez está sendo usada como método de distração, há rebeldes e há um preconceito acentuado referente a antiga questão das castas. Contudo sua Seleção acaba de se tornar definitivamente  uma versão moderna da minha.

- Acho que não entendi...

Me calo instantaneamente ao ver a foto de capa do jornal da manhã. Lá estamos, Nicholas e eu. Nos beijando como dois apaixonados.


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