17. Chocolate Quente

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Depois de conversar com Adam e trocar os números de telefone, decidi voltar para a pista de dança e aproveitar as últimas músicas que a banda de Andy está tocando. Logo quando acaba, o chamo para dançar comigo.

— Vou comer alguma coisa, Bia. Você já experimentou algo do bar? — ele diz.

— Já sim, a batida alcoólica. — surpreso, opto por não explicar. — Tem sanduíches no carro, você quer? Aqui é tudo muito caro.

— Pode ser. — fica ao meu lado para me seguir. Ele pensa que estou brincando mas não estou.

Pedi para minha amiga a chave do carro e logo fomos até ele. Demoramos um pouco para encontrar onde estava estacionado mas ainda assim o encontramos.

— Espero que você não me sequestre e me leve para outra cidade. — ele diz se referindo ao breu da noite.

— Hoje não.

Abro a porta do banco de trás e ele faz o mesmo. Ficamos encarando um ao outro até alguém tomar a iniciativa de pegar os lanches.

Abro a caixa branca de isopor e delicadamente retiro um saquinho com lanches. Logo que pego o meu, o envelope de nossa aposta ficou amostra, despertando a curiosidade de Andy e até a minha.

— O que são esses envelopes? — chega perto para observar e, atentamente, pega um dos envelopes escritos "Thali para Bia". — São cartas?

— Não. — coloco os pés em cima do banco para me sentir mais confortável. — Escrevemos coisas que podem acontecer com a outra na festa e deixamos aí nesses envelopes. Prometemos não abrir e amanhã... — paro para pensar. — Hoje. — corrijo pois já passa da meia noite. — Iremos nos encontrar para ver quem acertou o quê. — explico detalhadamente.

Ele ri de nossa brincadeira.

— Posso ler? — pede.

Assenti e ele começou a desdobrar o envelope com cautela para não rasgar ou estragar.

Assim que aparentemente lê a primeira frase, Andy começa a sorrir e prestar bastante atenção no que estava lendo e associando cada palavra comigo. Dava para perceber em seu olhar o interesse ao ler as palavras.

— Para! Está me deixando curiosa! — questiono firmemente. — Ela disse sobre o que?

— Sobre... — ele para de falar assim que percebe não poder. — Esquece. Você quer ir para a minha casa?

— Que? — confusa, começo a rir.

— Pegar seu presente. — sorriu como se fosse óbvio.

Ele guarda o envelope onde estava e pega um lanche para si.

— Até que está muito bom. — fala como se estivesse avaliando algo sério ao morder.

— "Até que"? Não ouse falar isso do meu sanduíche. Ele está maravilhoso, ainda mais acompanhado de um iogurte. — brinco e pego a garrafa.

Está terrívelmente quente, horrível.

— Eca. — ele fica olhando a situação.

Nos encaramos e rimos juntos.

Saio do carro para voltar a festa e devolver a chave para Thalita. Andy me segue e, assim que entregamos, ele diz:

— Vem, vamos para casa. — tira de um dos bolsos a chave do seu carro.

Quando entramos automóvel, começo a me perguntar o que eu sei sobre ele e vejo o quanto não sei de nada.

— Você consegue misturar alimentos doces com salgados? — pergunto randomicamente.

— Consigo. — ele ri por estranhar a pergunta.

— Prefere ambientes claros ou escuros?

— Depende da ocasião. — olha de soslaio pra mim e sorri.

Balanço a cabeça em sinal de reprovação e olho o caminho pela janela.

Estacionou o carro e subimos de elevador.

— Estou morrendo de sede. — abriu a porta do apartamento dele e eu entrei logo atrás.

— Eu também.

— Eu sei fazer chocolate quente, quer? — fecha a porta e joga as chaves na mesinha de centro.

— Quero. — sorri, tirei a jaqueta e a coloquei em cima do sofá. O segui até a cozinha e me apoiei no balcão, observando ele preparar as coisas.

— Seu presente! — exclama ao ter esquecido. Andy sai da cozinha e pega uma pequena caixa embrulhada com papel de presente bonito e vermelho.

Ao me entregar, o agradeço novamente com um abraço. A abro com ansiedade e sabendo que ele teve carinho e cuidado se lembrando de mim. Sua energia me deixa contente e feliz.

— É um colar com um cristal de Ônix. Eu sabia que gostava de coisas assim e li em algum site que ele dá forças para alcançar nossas metas, ajuda a superar traumas e medos, afasta coisas tristes, algo assim. — explica e eu o seguro em minha mão. O colar é lindo e ao mesmo tempo delicado.

Afasto os cabelos para o lado e peço para ele colocar em mim. Abre o fecho e ajusta o tamanho para mim.

— É lindo. — sorrio feito boba enquanto tateio o cristal.

Olho em volta da cozinha e percebo a decoração alegre do ambiente, com cores vivas e... Uma geladeira laranja.

— Vamos começar a fazer? — pergunta e eu respondo que sim.

Preparamos os ovos na caneca e, em seguida, colocamos o leite e o achocolatado em pó. Nos divertimos enquanto arrumamos as coisas, fazendo piadas e acrescentando ingredientes aleatórios e doces só para ver se vai ficar bom. Conseguimos sujar boa parte da cozinha, portanto tivemos que deixar um tempo a mais o chocolate quente no fogo, afinal tínhamos que limpar toda a sujeira.

Meu celular começa a tocar do outro lado da sala, no sofá. Fico sem graça por ter que interromper as brincadeiras assim, mas logo passa quando vejo que é a Thalita.

— Oi? Tá tudo bem? — falo assim que atendo a ligação.

— Eu t... — ela murmura algo que não consigo entender, como se fosse outra língua ou algo assim. — Tá bom? — é a única coisa que consigo compreender. Thali começa a gritar do outro lado do telefone, comemorando alguma coisa e terrivelmente alegre. Fico confusa.

— Oi, Bia! É o Adam. — pelo visto ele tirou o telefone da minha amiga para falar comigo. — É o seguinte: sua amiga está bêbada e eu tô um pouco alterado, porém consciente ok? — dou risada com a sua preocupação em parecer estar bem para mim. Está óbvio que os dois não estão. — Ela tá pedindo pra você pedir para um tal de André vir nos buscar. — conclui a fala e eu ri.

— Andy. — corrijo e o mesmo que está na cozinha, vira a atenção para a mim por ter escutado seu nome. — Ei, meus amigos estão bêbados, será que você pode vir comigo buscar eles? — afasto-me do aparelho para falar. — É a Thalita e um cara. — explico.

Ele diz que sim e acaba rindo da situação assim como eu. Digo que estamos indo para Adam e ele desliga.

— Você já viu a Thalita bêbada? — Andy pergunta e eu até me surpreendo, porque de fato nunca vi ela assim.

— Não.

— Vai ser engraçado, então. — desliga o fogão e pega as chaves para voltarmos até a festa.

Começo a ficar constrangida com a situação enquanto estou dentro do carro. Meu vizinho é apenas meu vizinho e não tem nada a ver comigo, então não consigo pensar em nada que faça ele querer me ajudar ou se já somos amigos e eu não sei definir a quanto tempo.

Durante caminho de nosso prédio até onde estava acontecendo a festa anos 80, começo a pensar nos benefícios que a pedra Ônix vai me dar. Entre devaneios, penso na possibilidade de entrar em um relacionamento com o Adam, mas isso já não consigo distinguir se é culpa da bebida alcoólica que ingeri ou culpa do beijo que demos.

42 DaysWhere stories live. Discover now