Âmago.

33.

estou a deriva
num barco furado
pedindo
s o c o r r o

esperando a guarda
costeira.
está afundando rápido
d e m a i s

não vai dar tempo.
então só queria dizer que:
se não for me
s a l v a r

me deixe afundar junto do barco
deixe que eu chegue ao fundo
porque se vinher me salvar vou
entender como uma falsa
e s p e r a n ç a.

eles não chegaram mas você veio sozinho.
fiquei feliz até ver que só veio se
certificar que eu me
a f o g u e

ficou olhando enquanto me debatia
e a água enchia meus pulmões
esperando meu corpo afundar na água
g e l a d a.

mas para sua surpresa eu recuperei o fôlego e comecei a nadar.
passei dias, meses, anos nadando de volta a areia da praia na esperança de me salvar de
v o c ê

e eu consegui.
parei em uma ilha deserta
onde só posso ouvir o som do meu coração acelerado e nada mais.
porque agora nada mais importa.
eu passei pelas
t e m p e s t a d e s.

pelo mar revolto e diria até que pelo
triângulo das bermudas, pelas noites frias e solitárias, pelas manhãs sem ânimo e as tardes sem
n i n g u é m.