SAFIRA

XIV

Querido alguém,

Já começa a ficar tarde demais e tu sabes disso. Não me refiro a horas, mas sim a tempo. Ao tempo em que tu estás a demorar para aceitar que ele te deixou.
Por muito que tu aches que não existe um ponto final na vossa história, ele está lá. Bem grande, à espera que o aceites e não o tentes apagar como sempre o fizeste e não conseguiste, porque ele... Aquele que tu amas, aquele por quem deste tudo, quebraste barreiras e arrancaste estrelas do céu para o ver sorrir... Ele deixou-te.

Deixou-te com a maior simplicidade de todas como se nunca tivesses existido; como se fosses um boneco ou algo descartável.

Já fica tarde para admitires que não estás assim tão bem quanto dizes estar; já fica tarde para o deixares ir de vez, porque por muito ausente que ele esteja em corpo, na tua mente ele permanece. Os momentos, os choros, as discussões e os carinhos.

Já é tarde, e não é por serem três horas da manhã e tu estejas por aí a chorar pelos cantos da casa e a lembrares-te de tudo e mais alguma coisa. É tarde porque tu não te acreditas que ele foi. Não te acreditas que todas aquelas palavras foram ditas em vão e tu insistes. Insistes na dor, mendigas amor e tentas tê-lo de volta, sem nunca te importares contigo. Sem nunca quereres saber de ti e só pensares que ele é o mais importante.

É tarde e tu estás a martirizar-te e a perguntar o que podes mudar para o voltar a ter: será que foi falta de amor teu? Será que foi ausência dele? Será que deverias de ter dito mais, mostrado mais, quebrado mais barreiras?

Querido alguém que estás a ler isto, tarde ou cedo, dia ou noite, lembra-te que o amor maior que podes ter na tua vida é o teu mesmo. Lembra-te que ele partiu, acredita que ele partiu e te deixou por mais desamparada que estejas. Mas lembra-te também, que um dia tudo aquilo que deste vai ser repescado por ti. Alguém te vai amar de verdade sem precisares de mendigar por amor, porque os afetos acontecem, não se pedem.