Parte II

255 34 18
                                    

Por volta do mês de Agosto, logo após a volta às aulas, Breno já estava de saco cheio da situação. As férias haviam sido boas, duas semanas tranquilas de descanso. Tranquilas se descartarmos a tentativa de visita do seu pai que quase acabou com acionamento da polícia. Fora isso, Diana, Breno e Simone, a mãe dele, haviam maratonado Riverdale e uma série rápida de desastres de confeitaria na Netflix que havia rendido boas risadas e momentos memoráveis. Mas a situação com Diana era o que estava realmente incomodando Breno. Era como se tivessem ligado um botão e de repente guardar para si mesmo o que sentia por ela estivesse ficando impossível. Sufocante. A última vez que havia conversado sobre isso com os amigos fazia meses, mas desde então parecia que havia uma bolha crescendo dentro de si e se manter neutro diante das histórias dela estava ficando cada vez mais difícil.

Por um tempo ela havia dado uma pausa nas ficadas com os garotos aleatórios. Breno não conseguia, nem fazia questão de tentar acompanhar e memorizar os nomes. Nem todos eram da escola. Na verdade, a maioria não era e ele nem sequer conhecia. Mas ela havia se afastado após um desses rapazes, nesse caso da escola, ter ficado meio obcecado por ela. Ele queria que ela ficasse com ele, namorasse e inclusive pediu que ela se afastasse de Breno até ele se convencer, erroneamente - e ela nem sabia de onde ele havia tirado isso - que Breno era gay. Certo de que ele só poderia ser gay por figurar entre um dos pouquíssimos garotos que nunca tinham ficado com ela mesmo estando tão próximo, ele relaxou e resolveu permitir que ela mantivesse sua amizade. Diana riu na sua cara diante da possibilidade de alguém pensar que tinha qualquer direito de permitir ou não quem entrava ou saía da vida dela. Ela deu aquele relacionamento, que nem havia começado, como encerrado e preferiu ficar um tempo somente curtindo o recesso, o melhor amigo e a mãe maravilhosa que ele tinha. E então, em uma noite quente, pouco depois da volta às aulas, ela entrou sorrateiramente em seu quarto para contar de um novo caso e ali, naquele momento, Bruno decidiu que bastava.

- Eu estava com o Júlio, do cursinho de Inglês. - Ela sussurrou e esperou a reação que nunca chegaria. Mas pra sua surpresa, chegou.

- Eu gostaria de te pedir que parasse de vir aqui me contar essas coisas. - Breno falou após pegar fôlego, olhando para o teto na mesma posição que sempre ficavam.

- Por que? - Ela perguntou um pouco surpresa com a mudança na rotina.

- Porque me incomoda. Porque eu tô farto de ouvir essas histórias em detalhes que não me interessam e não me fazem bem. - Fechou os olhos esperando que a amiga explodisse a qualquer momento mediante sua grosseria.

- Por que? - Ela perguntou, calmamente, contrariando suas expectativas.

- Pare de perguntar porquês. Eu não quero explicar, só peço que pare, por favor.

- Você está com raiva de mim? - Ela sussurrou novamente e embora fosse algo que ela buscasse causar nele há muitos meses, talvez há alguns anos, o pensamento de finalmente ter conseguido fazia seu coração comprimir.

- Por que eu teria raiva de você? - Pela primeira vez Breno soltou o lençol que ele estava apertando com força do seu lado vazio da cama.

- Você está com raiva de mim. Com vergonha também. - Ela completou triste.

- Didi, eu não... eu jamais.. você não sabe absolutamente nada sobre meus sentimentos. - Ele disse, mas se arrependeu. Aquela afirmação dava margem pra muita interpretação.

- Então me fala. Me conta sobre seus sentimentos. - Ela virou pra ele na cama e segurou a frente da sua blusa com um pouco de raiva. - Eu estou cansada, Breno. Estou cansada de me abrir com você em todos os detalhes e não receber absolutamente nada em troca.

- Eu tenho medo. - Ele tentou soltar a mão dela da sua blusa, mas não tirou a sua mão da dela. - Eu tenho medo de te machucar e de me machucar também.

Cala a Boca & Me Beija [CONTO COMPLETO]Where stories live. Discover now