A Cátedra vazia

18 2 0
                                    

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Não aguento mais existir.
Minha cabeça tem um peso enorme e mal posso carregá-la.
Mal posso conviver comigo mesmo,
Com todas essas pessoas que existem aqui dentro.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Não sei mais viver.
Todas as memórias me assustam.
Embora elas tragam a inocência, a alegria e a paz,
Sei o que está por trás,
Sei que a violência e a maldade se escondem atrás do véu da realidade.
A tristeza e o sofrimento se fazem presentes em todos os momentos.
Essa é a mais pura verdade.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Estou perdido.
Já não vejo mais razão na vida, para a própria existência,
Sei que não existe maniqueísmo, a felicidade não vale mais que a tristeza.
O amor e os prazeres servem apenas como distração.
O tempo corre e a entropia é suprema.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
A apatia se enraizou nas profundezas do meu ser.
Não há motivos para existir.
A resolução para o mistério da existência
Está muito além do que nossos olhos podem enxergar.
A verdade é oculta e sempre permanecerá.
O mistério é eterno.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Não há mais esperança, a lógica me corrói por dentro.
Sei que não há almas, nem energias restantes.
A vida é tudo o que há.
Destruo-me ao saber que a única vida que tenho fora jogada no lixo.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Tenho vergonha da minha própria estranheza
E anseio pela salvação do resto da minha vida.
Longe do meu egoísmo, gostaria que meu ser fosse excluído
E outra pessoa mais simpática e mais alegre, mais extrovertida e divertida,
Tomasse controle do meu corpo e fizesse minha vida valer à pena.
Pois eu sou o fracasso.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Não tenho um rosto, não tenho forma definida.
Sinto-me como uma sombra cinza inconstante,
Que não interage com nada e com ninguém.
Sinto-me imaterial. Inexistente. Eternamente sozinho.
Dê-me um abraço quente, Senhor.
Por favor, não me deixe com esse peso.
Digo-me e contradigo-me, pois sei que não há um Deus benevolente nos olhando de cima,
Não tenho dúvidas disso.
Mas esse fardo se tornou tão pesado que a tal ideia se tornou convidativa.
Delírio apenas. Entretanto, continuo conversando sozinho.
Preso em uma alucinação. Em minha doce esquizofrenia.
Por favor, não me deixe aqui.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Senhor, por favor, me ajude,
Já não consigo mais respirar.
Sinto-me afogado. Meus pulmões ardem.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Viver está sendo uma dor imensa.
Não sei mais parar de pensar e minha mente me atormenta.
Essa voz aqui dentro não pára um único segundo.
Mate esse demônio. Para que eu não possa mais sofrer simplesmente por existir.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Eu vejo, eu sinto, eu me lembro de tudo, eu consigo ouvir aquele sorriso;
Sentir aquele aperto quente, sentir a amizade, a companhia: a minha vida.
Aquelas brincadeiras... aquelas cantigas...
Você sabe do que estou falando.
Por que tudo isso se foi? Diga-me, por favor.
Foi culpa minha? Eu escolhi isso?
Não me deixe nesse silêncio, Senhor.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Por que eu sou tão triste?
Por que eu sou mau?
Salve-me de mim mesmo, Senhor.
Desligue-me dos aparelhos e faça-me deitar em um sono sem sonhos;
Escuro e vazio, sem culpa alguma, pois eu não pedi pra nascer.

Ó Senhor, por favor, livre-me do tormento eterno.
Seca minhas lágrimas e encha meus pulmões de ar,
Dê-me o sopro da vida novamente,
Ou arrasta-me para a inexistência;
Sem deixar-me dizer adeus.

Ó Senhor! Por favor,
Livre-me do tormento eterno.

Por favor.
Eu preciso de você para salvar-me de mim mesmo.

Canto da AlmaWhere stories live. Discover now