CAPÍTULO UM

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Capítulo 1

Por Lilian Alcântara.

Morar em Nova York é praticamente uma aventura, um desafio, na verdade. Eu amo essa cidade, amo as pessoas correndo de um lado para o outro para pôr em prática o seu dia a dia e o trânsito louco e cheio de desse lugar. Desde que me formei, me estabeleci aqui e aqui mesmo fiz carreira. Meu nome é Lilian Alcântara, e trabalho como psicóloga em um dos maiores hospitais de NY, o Mount Sinai e isso já tem dois anos. Dois maravilhosos anos longe do meu amado Brasil. E saber que mudei todo o rumo da minha vida devido a um mal-entendido. Por consequência de uma atitude mal pensada, ou uma má ideia, perdi a pessoa que mais amava nesse mundo e neste dia, meus sonhos de uma vida a dois foram por água a baixo, nossos planos para o futuro, tudo ficou lá naquele quarto de um alojamento de faculdade no Brasil. De lá, trouxe comigo apenas a dor da separação e a saudade de dias felizes, que eu bem sei, não votaram mais.

— Bom dia, doutora Lilian! — Sou desperta dos meus devaneios por minha secretária, que invade o meu consultório. — A senhora tem cinco consultas marcadas para essa manhã. — Karen avisa, forçando-me a jogar para bem longe esses pensamentos tristes e torturantes.

— Obrigada, Karen! — Abro o meu melhor sorriso. — Pode trazer alguns formulários para mim, por favor? Eu vou até à copa tomar um café antes de iniciar as consultas do dia — aviso.

— Claro, doutora! Ah, o doutor Peter ligou — informa enquanto põe algumas pastas sobre a minha mesa. — Disse que precisava falar com você. — Solto um suspiro sentindo-me frustrada. Sei bem o que ele quer falar comigo. Faz alguns meses que Peter Maison insiste em me convidar para um jantar, sem falar nos flertes cada vez que cruzamos pelos corredores do hospital. Ele está interessado em um relacionamento, mas, ainda não me sinto preparada para um. Mesmo depois de tanto tempo, as feridas ainda estão abertas e ainda dói muito.

—Tudo bem, Karen, depois falo com ele, obrigada! — falo me levantando da cadeira e vou direto para a copa. Sirvo-me de uma xícara de café com bastante leite e fumegante do jeito que eu gosto, e volto para minha sala. Queria muito poder dar lhe uma chance. Peter é um cara legal, é divertido, atencioso e muito inteligente. Contudo, o meu coração ficou preso a um certo jovem no Brasil e por mais que eu tente seguir com a minha vida, e acredite, eu tentei, eu não consigo. Entro na minha sala e com meus blocos de anotações em mãos, atendo minha primeira consulta do dia. — Bom dia, Richard! — falo, oferecendo a minha mão para que ele a aperte. — Como está se sentindo hoje? — pergunto de modo profissional, observando-o sentar-se à minha frente cabisbaixo e como sempre, mexendo em seus dedos em um gesto nervoso.

Richard é um jovem de apenas dezoito anos, que carrega o trauma da morte de seus pais em um trágico acidente de carro. Atualmente ele mora com seus avós paternos em num bairro nobre de NY. Faz três meses que ele é meu paciente e estamos gradualmente derrubando algumas barreiras emocionais, e a base de alguns medicamentos e de exercícios, estamos vencendo sua depressão também.

— Me sinto melhor hoje! — responde depois de um tempo em silencio, sem erguer a sua cabeça e me lança um sorriso acanhado. No entanto, ele ainda não me olha nos olhos. — Conheci uma pessoa. — Revela e isso prende a minha atenção. Confesso que estou muito feliz por ele e posso garantir que é um bom sinal...

O turno da manhã foi bem tranquilo, se comparado o ontem. Tive apenas cinco pacientes e todos adolescentes, sempre precisando que alguém os ouça e lhes dê uma direção para seguir, um sentido novo para suas vidas. Amo minha profissão e acredito que essa paixão existe porque gosto de ajudar as pessoas. Desde que meu irmão foi abandonado por sua noiva as vésperas do seu casamento, e ainda descobriu que a megera havia abortado o seu filho em uma clínica clandestina, deixando-o desolado e sem vida por longos três anos, decidi que queria ser uma psicóloga, que queria ajudar as pessoas que tivessem problemas psicológicos e assim também poder ajuda-lo. Ele teve muita sorte em encontrar Ana Júlia, minha atual cunhada em um momento tão complicado da sua vida. Ana é uma mulher linda, meiga e determinada e também a mulher que lhe devolveu tudo o que Camilly Donato havia lhe roubado sem nem uma piedade. Sorrio ao lembrar da família linda e maravilhosa que eles formaram e que tive que deixar no Brasil, meus pais, meu irmão e meus sobrinhos. Eles são as únicas pessoas que fazem valer a pena voltar para o meu país algum dia... No entanto, só voltarei se eles realmente precisassem de mim.

4.  Sempre Juntos - APENAS DEGUSTAÇÃO.Onde histórias criam vida. Descubra agora