Síndrome

O final

Green Day. Metallica. Oasis. Beatles. Nessa ordem, foram postos um a um os vinis de Michael na estante de Luke.

Nirvana. AC/DC. Bring Me The Horizon. My Chemical Romance. Nessa ordem, foram postas uma a uma as camisetas de Michael na gaveta de Luke.

E no final, no final, sobra apenas um papel dobrado no fundo da mochila. Luke o pega e lê atentamente.

Sidney, 17 de Novembro de 2012

Você está dormindo no banco do passageiro. E eu estou vendo o por do sol duma praia de Sidney. Green Day berrando no rádio. E eu estou pleno. E eu queria poder viver assim por anos e anos, mas eu não posso. Não posso viver ao seu lado, sabendo do que eu te fiz. Eu te estuprei, Luke. E eu sei que você está pensando que eu nao estava são, e que eu mudei. Sim, eu mudei, mas eu não posso viver com essa mágoa.

Você tem uma síndrome, Luke. Síndrome de Estocolmo. Você pode até nao saber, mas eu sei. E eu não seria capaz de viver ao seu lado sabendo que, não fosse por ela, você iria me achar nojento. Eu mesmo me acho nojento pelo que fiz com você e com outros.

Quando eu tinha 14 anos, comecei a vender drogas. Precisava arrumar meu próprio dinheiro. Essas camisetas e esses discos foram os primeiros que eu consegui comprar. Também ta aí a foto da primeira pessoa que eu trafiquei. Helen Sánchez. Esses quatro discos, as quatro camisetas, essa foto e um maço de cigarros manteram meus pés no chão por anos. O que me impedia de enlouquecer.

Mas agora, Luke, eu cansei de ter meus pés no chão. Eu vou voar. Se quiser saber como, eu ainda estou pensando, com algumas pílulas, cigarros, bebidas e a rota até um penhasco.

Luke, você deu asas a mim. Transformou um monstro em anjo. Eu amo você. Amo feito nunca amei ninguém. Até a vida seguinte se existir reencarnação, ou até o inferno, se ele existir.

Com amor,
Seu Mikey.