Capitolo Ventisei

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— Tem algo a mais que eu não saiba? — perguntei, desconfiada.
— Vamos, Justin, conte a ela o que descobriu.
Olhei para o meu namorado pensando no que ele poderia estar me escondendo. Sabia que ouviria algo ruim e eu não sei se aguentaria isso depois de ter ficado tão animada pela primeira vez em dias.
— Você tem certeza? — perguntei.
— Mona Lisa, você não...
— Apenas me diga, como você descobriu — o interrompi.
Não sabia qual sentimento era predominante naquele momento, não sei se estava com raiva ou se estava imensamente triste por ser traída. Antes eu esperava algo assim vindo dela, mas para mim eram apenas ameaças bobas, nada muito importante. Mas me fazer ser expulsa da escola, manchar a minha imagem com meu pai e me afastar das pessoas que gosto foi baixo demais. Minhas mãos não paravam de tremer, mal toquei no lanche que me foi servido.
Justin olhou para o Eddie como se o repreendesse. Sei que os dois não eram muito próximos, mas compartilham a mesma família e isso deve fazê-los serem ligados automaticamente, sem precisar de muita intimidade para que um soubesse ler os sinais corporais do outro.
— Minha mãe. Ela andou pesquisando sobre você quando disse informações sobre sua vida no jantar na casa do Eddie. Eu deveria ter prestado mais atenção, ela não quer que eu me afaste do objetivo dela de trabalhar na empresa... A Isabel, ela me tirou desse foco. Teve medo que você fizesse o mesmo. — Justin colocou sua mão por cima da minha. — Sinto muito.
— Você não está contando tudo. — Balancei a cabeça, afastando sua mão. — Sua mãe não deve ter feito muito esforço para convencer a Ana, não é mesmo? E você sabe disso.
Ele não me respondeu. Seu silêncio foi o suficiente para saber que eu estava certa e que talvez fosse pior que isso, porque ele estava me evitando olhar nos olhos. Sabia que era doloroso para mim e estava tentando amenizar a minha dor.
— Em breve irei para a Califórnia. Justin, se você não me contar tudo, terei que adiantar essa viagem.
— Eu conversei com a Ana e ela confessou tudo. Não queria você por perto porque tem ciúmes.
— Ciúmes — resmunguei. Tudo não passava disso, de uma garota mimada e ciumenta. — Preciso ir ao banheiro — avisei, depois de me levantar de repente.
Os dois não me disseram nada, fiquei feliz por isso. Queria um tempo a sós e por isso andei o mais depressa possível ao banheiro feminino da lanchonete.
Lavei meu rosto incontáveis vezes, queria ter certeza de que não veria minhas lágrimas, por mais que eu negasse estar chorando e sim lavando o rosto. Uma mulher entrou no banheiro e franziu a testa na minha direção, mas logo depois de retocar o batom saiu.
Eu deveria ter desconfiado. Era bom demais ela estar tão boazinha comigo depois de fazer provocações e ameaças, mas eu não quis enxergar isso porque acreditava que era parte da família. É como se eu vivesse em um campo minado e toda pessoa nova que conheço espero não explodir alguma surpresa para mim, porque eu já estou cansada disso.
Lavei meu rosto pela última vez e decidi que não iria estragar a estadia do Eddie por aqui. Isso eu resolveria quando estivesse na Califórnia. E até lá tenho muito tempo para planejar como farei isso.
Voltei para a mesa e disse que não queria mais tocar no assunto, precisava me distrair e ter Eddie e Justin comigo me deixava muito feliz e eles realmente me distraíram dos problemas.
Eddie empurrou suas batatas gentilmente na minha direção. Deu um pequeno sorriso.
— Coma, ajuda a parar de pensar nisso. Não vamos deixar que ela arruíne nosso fim de semana.
Retribui seu sorriso e assenti. Ele tinha razão, Eddie finalmente está aqui e partirá em breve, tenho que aproveitar o tempo que tenho. As coisas estão complicadas e foi bom me sentir confortada por alguém além do Justin.
Quando fui me deitar, no final da noite após ficar com o maxilar dolorido de tanto rir das histórias de Eddie e Justin sobre a infância deles, percebi que não estava mais sozinha.
Minha mãe se foi, meu pai não é o melhor dos pais e não tenho irmãos (Anna já está longe disso), mas tenho amigos incríveis. Consegui amigos maravilhosos quando mais precisei. Ao invés de chorar por uma decepção na minha vida, as lágrimas que caíram no meu travesseiro foram de pura alegria por realmente me sentir querida e confortável por ter a quem contar quando preciso rir.
Acho que eu não passei muito tempo da minha vida rindo desse jeito, nem mesmo chorando de felicidade.
Encarei a tela do meu celular e arrastei o dedo pela tela na lista telefônica. Por mais que aqui esteja tarde para uma ligação, sei que na Califórnia ainda não é hora de dormir.
— Mona Lisa?
— Eu sinto muito, Susan — disse.
Ouvi um riso baixo do outro lado da linha.
— Você não precisa se desculpar, sua bobinha.
— Sinto tanto a sua falta. Eu deveria ter ligado antes e...
— Não, eu que deveria ter ligado. Me envolvi tanto com as coisas do grêmio que estou completamente desligada... ah, Mona, deve está sendo tão difícil pra você e eu fui uma péssima amiga.
— E como está sendo o seu reinado? — perguntei, divertida.
Não havia mais ressentimentos entre nós. Quase ri por pensar que não estava nem um pouco brava por ela não ter me procurado antes, me sentia tão culpada por tudo que não consegui dividir a culpa com ela. Mesmo que Eddie tenha me contado quase tudo o que deveria saber sobre a escola, não impedi que Susan me contasse tudo novamente. Era bom ouvir sua voz outra vez.
— E o Drake?
A pergunta fez Susan pausar por alguns segundos. Ela hesitou antes de me responder:
— Ele vai bem.
— Susan, você está me escondendo algo.
Ela suspirou tão pesado que ouvi chiados.
— Eu não sei o que está acontecendo com ele. Sinto que tem me evitado, acho que está com problemas na família e desde que você se foi e eu ganhei a presidência... Eu sou uma péssima amiga.
— Não, você não é — disse, sabendo que ela não era culpada por ele omitir certas coisas dela. — Ele está indo à escola?
— Está, mas anda tão abatido ultimamente. Acho que ele tem bebido com mais frequência.
Não era o que esperava ouvir, por isso tentei aos poucos mudar de assunto. A última coisa que eu precisava era me sentir mal novamente.
Essa coisa de amizade realmente funciona. Depois de passar algumas horas com Eddie e Justin e logo depois conversar com Susan, tive a melhor noite de sono desde que cheguei à Nova York. Era como se eu tivesse quitado minhas dívidas e me sentisse mais leve por isso.

MONA LISA {JB} ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora