One-shot 2 (parte I)

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A fila de carros se estendia diante de Rebecca como se não houvesse fim. Caía uma tarde quente e abafada, e mesmo com os vidros abaixados, não corria uma brisa sequer para amenizar o calor. Rebecca já havia tentado ligar o ar condicionado do carro, mas não funcionara. Ela atirou a cabeça para trás, e pousou as mãos no volante. Virou o pulso apenas o suficiente para ver o horário. Quase cinco horas. Ela havia prometido à John que chegaria até no máximo três e meia da tarde, e que ele poderia ir trabalhar depois disso, sem problemas.

Problemas... eles estavam enfrentando problemas ultimamente. Rebecca fechou os olhos e suspirou profundamente. Tudo parecia ir bem, até ela voltar a trabalhar. No inicio, ela ia apenas meio turno, e John trabalhava no turno inverso, uma vez que eles não queriam deixar Romeo com estranhos. Mas estava difícil conciliar as duas coisas, porque as atividades de Rebecca nunca foram de apenas um turno, ela trabalhava integralmente desde que havia começado na Universidade, e sabia, Layla estava fazendo o máximo que podia para ajudá-la.

Sendo assim, às vésperas da Semana Acadêmica, ela não pôde negar quando Layla pediu que ela ficasse mais um pouco para ajudar nos preparativos. John já havia ligado cinco vezes, ela não havia atendido nem uma de suas ligações.

Rebecca suspirou profundamente mais uma vez, e abriu os olhos tristes ao se lembrar da briga da noite passada.

John insistia que ela parasse de trabalhar, ao menos enquanto Romeo era pequeno, propondo que ela retomasse depois, com mais tranquilidade, mas Rebecca estava irredutível, ela jamais ficaria dependente de John, e jamais deixaria de trabalhar para se tornar uma dona de casa. O que fazia com que ela formasse um nó na garganta era pensar em Romeo, o seu pequeno milagre.

Ela não estava conseguindo ser professora, dona de casa e mãe, tudo ao mesmo tempo. E ela não queria, de maneira nenhuma, que seu bebê sofresse as consequências disso. Tinha consciência de que as brigas com John estavam cada vez mais frequentes, e ela não queria isso, jamais quisera. Então, por que ela tinha de ser tão orgulhosa?...

Ela olhou o telefone no console, e pegou-o. Discou o primeiro número que apareceu, e John atendeu.

-Becca, está tudo bem?

Rebecca apertou os olhos. John estava preocupado com ela, e ela ali, fazendo a difícil, sem atender seus telefonemas. Engolindo em seco, ela se esforçou para dizer:

-Sim, tudo bem.

-Onde você esteve a tarde toda?- a voz de John tinha uma ponta de acusação, o que deixou Rebecca na defensiva.

-Onde mais John? Na Universidade, é claro! – ela estava sendo ríspida, mais uma vez. Deu-se conta já na metade da frase, não tinha mais volta.

-Tudo bem! – ele disse magoado – Foi só uma pergunta, você me disse que estaria aqui até no máximo três e meia, são mais de cinco horas. Deixei um de meus melhores clientes esperando....

-Você não pode fazer um esforço para ficar alguns momentos a mais com nosso filho, John?! É pedir demais?!

-Becca...

-Ou você vai me dizer que EU, ou ELE estamos atrapalhando os seus negócios?- Explodiu ela, a raiva a cegando.

-Becca...

-Oh John, faça-me o favor! Eu faço tudo! Tudo nessa casa! Só peço para que você fique... alô? – o telefone estava mudo, ele havia desligado.

Coberta de fúria, Rebecca deu um murro no volante. Ela voltou a discar, mas o telefone estava desligado. Os carros começaram a se movimentar lentamente, e ela agradeceu por isso. Queria ir para casa, o mais depressa possível.

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