Capítulo 8

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"Meu querido Ethan,

Senti-me extasiada com sua detalhada descrição sobre sua noite no Royal Opera House. É como se eu mesma estivesse lá, sentada ao seu lado, desfrutando da voz angelical de Cecelia Roso. Dizem que a sua avó foi uma das mais requisitadas cantoras de ópera de sua época, e que a jovem segue pelo mesmo caminho. Deve ter sido uma noite encantadora!
Tenho sonhado constantemente com a próxima temporada. Finalmente poderei vivenciar todas as coisas belas que me confidencia. Estaremos juntos depois de anos, não é primoroso?
Acho que gostará de saber que tenho praticado religiosamente com meu professor de dança. Ele diz que eu tenho facilidade em aprender e pareço estar flutuando pelo salão, como uma Taraxacum officinale lançada ao vento.
Eu ainda tenho seu nome no meu cartão de dança. E espero que seu desejo de me tirar para dançar não tenha se extinguido..."

(Carta escrita por Agatha Crane, em 03 de março de 1867. Correspondência entregue.)

"Cara Senhorita Roso,

Devo parabenizá-la pela apresentação majestosa da noite anterior. A sua voz possui uma espécie de encantamento do qual eu não estou imune, percebo.

Espero ser agraciado com sua presença novamente em breve..."

(Missiva escrita por Ethan Denbrook, entregue juntamente com um buquê de cem rosas vermelhas, em 19 de abril de 1867.)

"Minha preciosa Agatha,

Peço que me perdoe minha demora. Assuntos importantes tem requisitado minha atenção ultimamente. Esta temporada tem se revelado um sopro de divertimento. Quem poderia prever que Londres deixaria de ser deveras aborrecida?
Ontem mesmo estive participando de uma corrida de cavalos. O meu puro-sangue chegou em segundo. No entanto, não posso dizer que fiquei decepcionado. O cavalo ganhador pertence a lorde Rockingham, e é a criatura mais extraordinária que já existiu. Eu fiz uma escandalosa oferta pelo animal, mas o homem se mostrou irredutível. Mesmo assim, pretendo lhe fazer uma oferta maior.
Realmente, devo admitir que a senhoria Roso tem feito um expressivo sucesso em Londres nos últimos meses. Suas apresentações tem sido os eventos mais requisitados.
Preciso me despedir agora. Já é quase de manhã e eu ainda não dormir. Tenha em mente, minha querida, que nada mudou. Teremos nossa dança e....

(Carta escrita por Ethan Denbrook, em julho de 1867. Correspondência entregue.)




– Atchiiiiiin! – o corpo de Ethan estremeceu por completo com o espirro.
O som esganiçado chegou aos ouvidos de Agatha como se o próprio Ludw van Beethoven estivesse lhe concedendo um concerto particular. A culpa era unicamente dele, considerou ela, ao lembrar que aquele homem arrogante havia se recusado a admitir que a água do lago estavacongelante e seguir o conselho de Lorde Tilghman de voltar à casa para se aquecer.
A jovem ouviu o barulho sôfrego de mais três espirros em sequência.
Bem, talvez não tivesse sido unicamente culpa dele. No entanto, se ele tivesse...
Seus pensamentos foram interrompidos por mais uma crise de espirros.
Imbuída por seu dever cristão, Agatha parou e olhou para Ethan, que a seguia a poucos metros de distância. Ela limitou-se a observá-lo. Ele ainda sustentava sua compostura aristocrática, como se o sangue nobre que corria por suas veias lhe conferisse imunidade às enfermidades que assolavam a humanidade.
– Sugiro que entre, milorde. – ponderou a jovem. – Peça a algum criado que prepare chá para aquecê-lo, antes que adoeça de vez.
Ethan olhou por cima dos ombros de Agatha, seu semblante impassível.
– Estou comovido com a sua preocupação, senhorita Crane.
Por mais que nada em seu rosto, ou em sua voz, denunciasse a verdadeira natureza de suas emoções naquele instante, a jovem foi invadida pela certeza desconcertante que Ethan Denbrook estava sendo sarcástico. De fato, ela nunca supôs, nem por um ínfimo segundo, que ele acreditaria em sua inocência no episódio do lago. E era isso que mais lhe enfurecia, por que ele não a confrontava? Ela era tão insignificante assim?
– Eu e minha família temos por hábito zelar pelo bem estar de nossas visitas. – ela salientou, esboçando o sorriso mais dócil e ingênuo que Londres já viu.
Agatha esperou esperançosa por uma réplica mordaz.  Contudo, Lorde Ethan curvou em uma mesura rígida e afastou-se, deixando-a sozinha.

**
– Eu creio que você saiba o motivo pelo qual o chamei aqui. – disse Oliver Crane. Então se levantou da cadeira e foi até o aparador servir mais um copo de brandy.   
O jovem assentiu.
- Sua filha. - declarou, áspero.
- Sim, parece que Agatha vem agindo de forma... Hum... Vejamos... excêntrica.
Se lorde Ethan Denbrook possuísse um senso de humor menos seletivo, teria tudo daquele eufemismo descarado. No entanto, por respeito ao senhor Crane, a quem muito estimava, não disse quanto ao comportamento inadequado, bárbaro, infantil e inconcebível de sua filha.
- Eu peço sinceras desculpas, em nome de Agatha. Geralmente, ela é uma garota adorável. - continuou Oliver -Nós a amamos, evidentemente. E não é sequer pelo fato de que somos obrigados à amá-la. Nós realmente gostamos dela.
- Eu aprendi que a correção é uma forma de amor, Sr. Crane. Não quero questionar a educação que o Senhor aplica em sua casa, mas pelo bem da senhorita Crane, tenho que dizer que dificilmente ela conseguiria um bom casamento portando-se como pude presenciar  esta semana.
Oliver pigarreou para evitar soltar impropérios diante de seu convidado. Por um lado, tinha que concordar com o jovem. Agatha não vinha se comportando de maneira digna. Mas o real cerne da questão continuava esmurrando o seu cérebro, lhe causando sérias dores de cabeça nos últimos dias.
- Deixe-me perguntar uma coisa. - quando Ethan fez que sim com a cabeça, ele prosseguiu. - Qual é a sua opinião sobre a minha senhora?
A pergunta surpreendeu Ethan. Num minuto, falavam sobre os maus modos de Agatha, e no seguinte, ele estava sendo questionado sobre  Isabella Crane.
- Sua esposa é uma mulher admirável, senhor. Dona de um comportamento irrepreensível. - afirmou ele. E estava sendo sincero.
O Senhor Crane o observou por um momento e então soltou um estrondosa gargalhada.
- Escute, meu jovem. Tenho uma história para te contar.

Como enlouquecer um condeWhere stories live. Discover now