9 de outubro- parte 3

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  Anoitecia e Josh e eu ainda estávamos largados em silêncio sobre os lençóis bagunçados, digerindo sobre o ocorrido no banheiro. Eu não havia ficado irritado nem nada, mas pareci ter ficado de acordo com ele. Josh tinha um braço ao meu redor, me abraçando enquanto murmuravámos o que passasse em nossa cabeça no momento, sem muito preocupação em como soaria.
  - Eu sempre gostei do cheiro de gasolina- Disse.
  - Eu sempre gostei de como as pessoas deixam aparecer detalhes mínimos, mas que são vistos apenas por aqueles que prestam atenção- Falou.
  - Acho que sempre gostei de garotos, mas foi uma espécie de descoberta recente- Revelei, ouvindo ele se mexer desconfortável atrás de mim, ajeitando o corpo encaixado ao meu.
  Seu queixo se apoiou em meu ombro e seu rosto surgiu ao lado do meu.
  - Fui seu primeiro garoto? Sério?- Perguntou.
  - Como assim? Você já ficou com outro garoto além de mim?- Questionei, ingênuo.
  - Bem, outros garotos- Suspirei ao ouvir suas palavras, fingindo irritação- Você sabe, minha vida também existia antes de você e eu já era muito bem resolvido com o que eu queria- Falou, pousando a mão em minha cintura, centímetros de distância de meu quadril.
  - É óbvio que eu sei disso- Comentei, sorrindo de canto- Eu só queria fingir ciúmes. Bem, também já fiquei com outras pessoas antes de você- Assumi, sentindo ele rir.
  - Você é vingativo, garoto- Finalizou, beijando minha bochecha.
  Ele se revirou, olhando por sobre o ombro, vendo o manto negro da noite se arrastar sobre o último pedaço claro no céu. Seu cabelo se tornando mais escuro, o rosto parecendo enrijecer em um semblante sério. Eu gostava quando ele ficava assim, parecia tão adulto, tão avançado, confiante e altivo. Era como se fosse uma figura que exalava uma aura quente de liderança. Parecia outra pessoa apenas ao mudar a expressão, e isso era fascinante.
  Me espreguicei, me voltando para ele, encostando a testa em seu peito, sentindo seu cheiro, aspirando seu perfume. Suspirei aliviado de saber que eu o tinha para mim. Saber que eu estaria e estava com ele. Saber que vivi aquilo. Ele era um marco em mim, uma cicatriz na minha trajetória. Uma cicatriz que eu gostaria de expor a luz do sol, mostrando a clareza naquela marca. A beleza do passar da vida.
  - Sabe o que seria legal?- Ele disse ao ar, esperando que eu estivesse atento às suas palavras.
  - O quê?- Perguntei, analisando aquele brilho característico que aparecia em seus olhos quando uma ideia lhe vinha a mente.
  - Noite de fogueira- Disse, olhando para mim.
  Acenti, sorrindo de canto e avançando para lhe beijar aqueles lábios, sentindo ele afagar meu braço. Senti-os contra os meus, se movendo, quentes e gentis, contidos.
  - Tenhamos uma noite de fogueira, então- Falo, me erguendo da cama, enérgico.
  Josh se levanta, me seguindo com passos trôpegos e o cabelo bagunçado, as roupas amassadas, parte da bainha erguida, mostrando a linha que sumia para dentro do cós da calça. O rosto cansado e ao mesmo tempo motivante, como se mesmo após muita agitação ele estivesse pronto para mais uma rodada. Sempre pronto. Sempre preparado.
  - Vou falar com Jordan e Mads- Digo, saindo do quarto, pensando em como faríamos em uma fogueira lá fora.

***

  Jordan estava na sala, deitado sobre o sofá e olhando de forma vazia para o teto e Mads estava em uma poltrona, quase inerte, olhando suas unhas de forma distraída. Era uma cena que gritava "tédio!" e expressava um desânimo até para mim. Observei o garoto, vendo como estava quase caindo de sono, tentando se concentrar na luz. Era degradante.
  - Oi!- Exclamei- Vamos fazer uma noite da fogueira, topam?
  Mads ergueu o olhar, como se tivesse sido ligada na tomada novamente, a vida tomando conta de si como pela manhã. Ela sorriu e os olhos reluziram.
  - Claro, claro- Afirmou.
  - Qualquer coisa que não me faça querer dormir!- Falou Jordan, pulando do sofá, se encaminhando para a porta- Vou arranjar lenha, galhos ou qualquer coisa assim para a fogueira.
  Ele saiu praia adentro, a porta batendo às suas costas. Madison agarrou minha mão, me obrigando a olhar em seu rosto que esbanjava uma luminescência e brilho que eu nunca havia visto antes. Euforia.
  - O que foi?- Perguntei, vendo seu sorriso se abrir mais e mais- Me conta, Madison!
  A menina respirou fundo, olhando para o corredor, vendo se não havia ninguém ali, olhou para porta, depois para mim novamente.
  - Eu gosto dele- Revelou- Eu gosto do Jordan.
  - Como assim "gosta"?- Interroguei confuso- Como pessoa? Como uma personalidade forte? Como uma atração de verão? Como um ótimo projeto de transformação total?
  - Como garoto!- Exclamou, tentando soar baixo, mesmo que tenha saído mais alto que deveria.
  - Mas que tipo de gostar seria?- Continuei, certo de que ela estava apenas um pouco eufórica com este sentimento inicial- Paixonite? Uma simples queda? Uma forte atração sexual? Sentimentos? Por favor, não me diga que são sentimentos de amor.
  Ela segurou o riso, tapando a boca com a mão, tentando não se debulhar na típica histeria que é o primeiro passo inicial dentro de uma parcela de amor.
  - Eu acho que...- Ela olhou para o ar, pensativa- Talvez seja o início de um sentimento, quase que como ter um espinho no dedo que você não consegue tirar- Comparou.
  Então eu soube, descobri do que realmente se tratava. Havia passado por isso, um tempo atrás quando comecei a falar com Josh no parque. Todo aquele tempo olhando para ele fora como passar um tempo na beirada de um penhasco, e com a primeira troca de palavras, me senti despencar dele, caindo e afundando no ar, a sensação de frio na barriga. Algo inexplicável até você notar que só possui uma conclusão plausível: Sentimentos verdadeiros. O pior tipo de todos. O tipo que te faz seguir cegamente a sensação, às vezes por caminhos bons, às vezes ruins. O tipo que quando encontra você não vai embora com facilidade. Era como uma maldição, que podia se tornar uma bênção, mas que também podia ser um tormento, uma sina. Aquilo havia encontrado Madison.
  Sorri de canto para minha irmã, alisando seu cabelo e puxando ela para perto pela nuca, para um abraço rápido, sussurrando:
  - Deixe este espinho no dedo- Lhe segredei- E deixe ele agir. Não se esqueça: Não há espinho que não possamos tirar, mas uns doem mais que outros- Avisei, fraternal.
  Ela afirmou, olhando por sobre meu ombro, uma sombra rápida se projetando em seu rosto. Me virei, vendo Josh prostrado atrás de mim, o cenho franzido e as mãos pendendo ao lado do corpo.
  - Por que estão falando de espinhos?- Questionou, fora de contexto.
  - Não é nada- Falei, rindo. Puxando Madison pela mão em direção ao quarto- Preciso ajudar a Madison a se vestir.
  Ele coçou a cabeça e me encarou, processando.
  - Ela já não está crescida o suficiente para fazer isto sozinha?- Perguntou, vindo atrás de mim.
  - Por que se importa?- Lhe cortei, impedindo questionamentos- Precisamos falar a sós, Josh, entendeu agora?- Ele acentiu- Ótimo. Agora, por que não vai ajudar seu irmão com a preparação da fogueira lá fora? Quando eu e Mads sairmos levo o resto das coisas, toalhas para pôr na areia, bebidas, etc, okay?- Coloquei, direto e claro.
  - Sim- Concordou, dando de costas e saindo.
  Me voltei para Madison, que assistia poucos passos atrás.
  - Ele é um pouco lento, não?- Brincou.
  - Um pouco?- Rebati, troncando risos e me dirigindo para o quarto com ela. Digerindo a ideia dela e Jordan, mesmo que ainda não passasse de apenas uma ideia, algo não começado, mas já sendo planejado, sem certeza ou razão. Apenas movido pela reciprocidade do sentimento verdadeiro.

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