Capítulo 01

213 14 0
                                    

COMO VIM PARAR AQUI?

Pisco meus olhos diversas vezes, tudo é claro, e, mesmo sentindo um incomodo, forço a abri-los. Há poucos móveis no quarto, os lençóis brancos estão emaranhados em minhas pernas, mas minha cabeça começa a latejar. 

Passada a dor, percebo que estou completamente nua.

Aos poucos desperto, espreguiço primeiramente os braços, indo até as pontas dos dedos dos pés, após um longo bocejo. Sento-me na cama ainda com uma carga pesada de sono, e num segundo seguinte ouço um barulho, inclino-me um pouco para o lado e vejo o perfil de um homem, com uma calça jeans velha e de a camisa aberta, na cor azul. Seus pés estão em contato direto com chão de madeira, o óculos escorrega um pouco pelo nariz, enquanto o cheiro do café incendeia a casa inteira.

Coloco minha calça jeans, que estava toda embolada no chão, mas não tão surrada quanto daquele homem de pés grandes, mas ainda sim um jeans, decido ver meu estado matinal ainda ouvindo fortemente as batidas da música, que incentivam algo mais sórdido, ou censurável. Cada vez que meus olhos piscam, tenho um vislumbre das luzes de led, como as de motel e o neon, escorrendo pelos corpos suados.

Entro no banheiro, que fica dentro do quarto mesmo e jogo água fria pelo meu rosto que acaba escorrendo pelos meus seios desnudos, acompanho o rastro rápido da água e vejo o vermelhidão em um deles, um "chupão" no português claro.

Simplesmente não consigo acompanhar a cronologia dos fatos, vejo marcas pelo corpo, minha cabeça dói ao ainda ouvir sons e vislumbre de luzes, e eu destruída na cama de um estranho sentindo o gosto da vodca na boca. 

Ignoro as pistas e dou uma olhada rápida na bancada, – ao menos preciso escovar os dentes – mas não encontro nada por ali. Decido abrir a pequena gaveta, que para minha má sorte está emperrada, forço e acabo derrubando tudo no chão.

- Perfeito! – Sussurro para mim mesma.

Agacho-me para recolher as coisas que caíram no chão, como tesoura, elástico, camisinha, mas não encontro uma escova. Quando levanto-me, já vencida de que terei de usar a técnica mais ogra, vejo o homem me encarar através do reflexo do espelho, colado na grande parede.

Ele está encostado na lateral da porta, com um sorriso indecente e, a mecha que cai despretensiosamente pelo seu rosto, faz com que eu engula seco a saliva ao ter essa visão, sem aviso.

- Procurando por isto?

Viro-me e dou-lhe um sorriso amarelo.

- Obrigada. – E tomo a escova de sua mão.

Para minha surpresa não me senti acanhada em estar seminua na frente de um estranho.

Coloco a pasta nas cerdas da escova e ele continua lá, com o sorriso no rosto, sem dizer sequer uma palavra.

Continuo escovando os dentes e ele não tira os olhos de mim. Toma um gole de café, ajeita o óculos, que escorrega mais uma vez, mas seus olhos não perdem nada.

Os olhos castanhos estão tão compenetrados no que faço, que ele não percebeu – ou está fingindo cegueira. – que estou apenas de calça, que meu cabelo está um pouco desgranhado e que meus seios estão com o bico duro além de balançarem com o movimento.

Incomodada com a tensão, enxáguo a boca e disparo:

- Vai me dizer o que está acontecendo?

Ele me entrega a caneca fumegante de café e diz:

- Você é ainda mais linda quando acorda.

Assim como ele não reparou em mim, eu não tinha reparado em seu corpo atlético, até ele abrir a boca.

A pele bronzeada está levemente suada, a tatuagem um tanto indecente na barriga faz com que eu passe a língua entre os lábios, que estão secos. – Como pode se acabei de lavá-los?

- Como vim parar aqui?

- Quer tomar o café na cama? – Notando que a pergunta saiu bem sugestiva, ele logo corrige. – Pra conversar... sem pretensões. – E rende sua mão.

- Preciso de uma camiseta.

Ele tira a camisa e me entrega. Sem muitas opções visto, o cheiro é uma mistura suave de banho matinal com aroma de café, bem másculo.

Encostado no metal da cabeceira, após se sentar na cama, ele coça a barba, seus olhos passeiam, como se estivessem num safári, explorando e analisando cada parte – espécie.

- Vai me dizer seu nome?

- Tom... – A voz sai rouca e preguiçosa. – Antônio.

Tom, ou Antônio, sorri e mordisca o lábio inferior.

- E como eu vim parar aqui... – Olho para o comodo. – Tom? – Falo seu apelido de forma irônica.

Seu peito incha e Tom solta um sorriso sagaz.

- Não vai me dizer que não se lembra de nada... – Tom chega mais perto. – Mônica?

A ArquitetaOnde histórias criam vida. Descubra agora