Capítulo I

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   Estava eu sentada no sofá assistindo na velha televisão lá de casa a melhor série da vida Htgawm, How to get away with Murder para os leigos, quando eu ouvi a tal carta passar embaixo da porta. Eu logo fui pegar antes que a minha mãe visse e começasse a dizer que nem pra pegar as contas na porta eu sirvo, dei um grito de obrigada para o Seu Osvaldo, porteiro do prédio, e peguei os papéis.

No momento seguinte já comecei a estranhar a aquela carta diferente que tinha vindo. Quem manda carta hoje em dia? As únicas cartas que chegam aqui em casa são os boletos e as contas. Sempre alguma coisa para pagar nesse meu Brasilzão.

Foi aí que eu me lembrei – O internato!!!!!! – gritei começando a correr pela casa tentando abrir aquele maldito papel para ver se eu tinha entrado no prestigiado Internato Santa Cristina no interior de São Paulo, fazendo minha mãe e meu pai saírem correndo do quarto para constatar que a filha deles estava realmente enlouquecendo.

Depois de muitos gritos e explicações nós três juntos abrimos a carta.

- Eu passei! – gritei e olhei para as caras de tristeza e felicidade dos meus pais.

- Eu não acredito que a minha bebê vai embora pra sempre... – A minha mãe falou com uma voz triste.

- Eu não acredito que a minha pequena passou e vai nos deixar. – Falou meu pai me olhando com um sorriso triste.

- Eu vou poder ficar com o quarto dela? O meu ta muito cheio com os brinquedos, eu posso mudar o dela pra um quarto de jogos, o PS4 fica em uma parede, os brinquedos na outra parede... – Meu irmão de sete anos, isso mesmo essa criatura tem sete, que tinha surgido das trevas no meio da sala desandou a falar sem parar.

No mesmo segundo olhamos feio para o Eduardo, o maravilhoso irmão que estava chatiadíssimo com a minha mudança, e ele calou a boca e voltou para o quarto resmungando sobre como seria bom se ele fosse filho único. Eu sei que ele me ama.

- Gente eu não vou embora pra sempre – falei olhando para a minha mãe - Nem vou deixar vocês – falei olhando para o meu pai – Eu vou para o interior de São Paulo, do nosso estado, estudar. Se vocês quiserem me ver é só avisar que eu pego um ônibus e venho eu não vou estar em cárcere lá não tá.

Meu pai riu da minha piadinha sem graça e a minha mãe me olhou feio, talvez o mau humor esteja grande mesmo.

- Você tem que nos prometer que vai fazer isso Rafaela, senão eu vou lá e te trago pelos cabelos para voltar a morar com a gente. – Pior que eu não duvidava em nada que ela realmente fizesse isso. – Você promete Rafaela?

- Prometo Mamãe...

Golpe baixo usar mamãe pra falar eu sei, mas foi o que eu disse quando olhava para a Dona Valéria e o Seu Márcio, enquanto eles me olhavam com olhos ameaçadores e grandes.

Depois dessa grande conversa e grandes explicações sobre como eu seria uma ótima aluna e uma maravilhosa pessoa e que eu não iria fugir para ficar bebendo em festas de veteranos, dando pra todo mundo e fumando maconha, eu fui para o meu quarto ver se conseguiria dormir mesmo com toda a animação que eu sentia. Após umas duas horas, sim eu durmo de tarde, escutei o barulho do meu celular onde a galera estava me convidando para ver um filme no shopping aqui perto.

Como na vida eu iria contar pra eles que eu ia me mudar? Ou talvez eles não ligassem, não para eles vão ligar, gostam de você, eu acho.

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Um tempo depois, chegando ao shopping com meus únicos 20 reais que tinha achado na minha carteira já que a minha mãe se recusou a me dar dinheiro. Como assim, né? Sim, isso mesmo ela quer que a filha dela passe fome.

Internato Santa CristinaWhere stories live. Discover now