5º Capítulo

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              Escrito por: LouiseAkaboshi
                       
— Olá, Rodrigo.

Não é possível.

Diante dos meus olhos embaçados e sonolentos está uma Ana bem diferente do usual. Com um vestido simples e casual, que não chega aos seus joelhos, alças finas, deixando seus braços e parte do colo descobertos.

Reforço minha atenção sobre ela, como forma de ter certeza que a minha ressaca não está me fazendo ver coisas. Mas para a minha grande infelicidade não há dúvida alguma. De um jeito como nunca a imaginei ver antes, natural e serena, está a mulher que tem sido ultimamente uma das grandes razões de todo o meu conflito e noites mal dormidas.

— Ana...

Digo mais para mim do que para ela. Poderia prometer ali não beber tanto como fiz na noite passada, mas será apenas mais uma promessa que não posso cumprir.

— Está tudo bem? — doce e melodiosa a voz que adentra meus ouvidos, naquele timbre que te faz ter a certeza que não há mentiras ou más intenções, somente uma profunda e verdadeira preocupação. Preocupação essa que rompe a barreira das palavras e chega até seu rosto delicado. Noto um pequeno vinco entre suas sobrancelhas, suas feições levemente encucadas com o meu estado.

E não seria para menos. Considerando que dormi no sofá da sala, vestindo a mesma roupa a mais horas do que o recomendado e certamente com uma cara que não é das melhores, Ana está mais do que certa em estar intrigada.

— Sim, estou... — piscando repetidas vezes, tentando me acostumar com a luz forte e extremamente clara que vem do corredor, coço o rosto, sentindo a barba crescente devido à minha desmotivação exarcebada pinicar a ponta dos meus dedos.

— Não parece estar tudo bem, suas olheiras e a sua cara amassada dizem exatamente o contrário — seus olhos são curiosos e atentos demais, gerando um leve incômodo em mim que luta por manter uma distância confortável.

— Uma noite mal dormida apenas, nada que um banho e um dia de descanso não ajude — dando de ombros, soo o mais natural que o reflexo de todo o álcool em minhas veias permite, o que não a convence, caso contrário, não teria cruzados os braços na altura dos seios e jogado o peso para uma perna só, na pose que com certeza faz mais sentindo com o que estou acostumado no dia a dia.

— Precisa fazer melhor do que isso — engenhosa e confiante não chegam nem perto de descrevê-la, a mulher exprime em tudo o que faz uma autossuficiência e segurança que colocam qualquer um no chinelo. De todos os homens que trabalhei na vida, nenhum se equipara com a dedicação, conhecimento e entrega que Ana tem.

Fato esse que alimenta ainda mais o peso sobre mim. Caso ela fosse apenas alguém que se baseasse apenas nas palavras, eu não sentiria tanta curiosidade sobre tudo que a envolve. Mas a questão dela beirar a perfeição em tudo é enlouquecedor.

Tirando o destempero momentâneo na primeira vez que nos vimos, nunca mais a vi sendo grossa ou arrogante, pelo menos não comigo. Claro que alguns desavisados do trabalho que não cumprem prazos e são desleixados não têm a mesma sorte.

— Não vou sair daqui enquanto não disser a verdade, e acredite ou não, sou muito boa nisso — acrescenta sem medo algum, deixando claro que não moverá um músculo enquanto a minha resposta não lhe parecer verídica. Solto um leve resmungo com a sua postura, ô mulher que não larga o osso por nada.

— Qual verdade? A sua ou a minha?

Minha réplica a faz menear as sobrancelhas e exprimir um sorrissinho de lado. Mesmo figurativamente, posso sentir as setas inflamadas que seus olhos mandam diretamente para mim.

De Volta ao PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora