Capítulo 3

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Nem acredito que esse dia é real. Eu estou no altar agora, ela está lá atrás das cortinas, posso vê-la daqui, está deslumbrante com seus cabelos ruivos ondulados e brilhantes olhos azuis. A emoção me toma e me lembro de como nossa história começou.

Eu a salvei, há dois anos. Ela ia ser estuprada, eu capturei os homens, salvei a moça e saciei minha sede, e no dia seguinte descobri que a minha empresa faria uma aliança com a empresa dela, as indústrias Haminton, ouvi esse nome a muito tempo atrás, eu perguntei se ela tinha irmãos ou primos, mas ela disse que não. Não havia perigo. Seu nome era Pandora Haminton, uma herdeira da fortuna de uma linhagem muito antiga, mais antiga do que ela poderia imaginar.

Mas ela não sabia disso e nem tinha culpa do erro de seus antepassados. Criei amizade com ela, pensei que se tivesse total acesso à sua empresa saberia localizar Penny, mas não achei nada sobre alguém com esse nome. Nenhum registro, nenhum fato histórico, nada. Era como se ele nunca tivesse existido. Pensei que se o encontrasse antes dele me encontrar poderia exterminá-lo. Mas não o achei em nenhum lugar do mundo.

Como não o havia encontrado, fiz faculdade de administração e contabilidade, consegui um emprego nessa empresa e segui minha vida. Nunca imaginei que eu fosse me apaixonar por alguém assim. No dia seguinte em que a salvei ela estava na mesma sala de reuniões em que eu estava, ela estava representando sua fábrica. E óbvio que ela se lembrou de mim, ao fim da reunião ela veio falar comigo em um canto.

- Olá, eu me lembro de você, me salvou ontem à noite, não sei o que você é ou como encurralou os dois marmanjos, mas obrigada! Me chamo Pandora Haminton! - Ela estendeu a mão.

- Bom, não precisa agradecer, eu apenas fiz o que considerei certo. Eu me chamo Jade Navin!

Esse foi o início de um triste fim, Jade ficou encantada com a beleza de Pandora, e Pandora com a de Jade. Elas viraram amigas, parceiras de negócios e em seguida amantes. Cinco anos se passaram desde o ocorrido, eram as melhores negociantes das duas indústrias, juntas levaram as empresas a outro patamar e ouso dizer ao infinito e além.

Foram condecorados como gerentes e na vida pessoal como noivas até o presente momento. A pele negra de Jade brilhava mais que o sol, ninguém sabia, mas ela tinha um feitiço muito antigo para não queimar, ela tinha a imortalidade das sereias, sempre que estava prestes a morrer, ou assim que morresse, se possuísse o amuleto perto de si este a fazia voltar à vida.

O casamento das duas foi lindo, em um mundo onde o preconceito ainda estava em alta, mesmo com todo o avanço tecnológico, parece que apenas o que evoluiam eram a vãs máquinas, os cérebros ainda pertenciam às épocas passadas.

Após o "Sim", após a festa e após o arroz ficar agarrado aos vestidos das duas elas partiram em uma viagem à França.

- Achei que estava louca, mas a França é um ótimo lugar para fazermos uma visita. - Disse Jade.

- Eu sei, por isso insisti tanto. - Disse Pandora sorrindo - Fiz ótimas reservas em um ótimo hotel perto de um cais.

A memória de Jade no tempo. Muitos anos atrás, muito antes de existirem máquinas ou mesmo calças jeans. E a sua intuição estava certa, o HH - Hotel Harrison ficava exatamente no que era a dezenas de dezenas de anos atrás a vila dos ciganos onde ela passou dois anos de sua vida.

- Olha que Hotel de luxo amor! - Disse Pandora após terem pego às chaves do quarto.

- Sim ele é esplêndido, você tem um ótimo gosto amor. - Jade falava meio desnorteada.

Elas subiram até o quarto pelo elevador, quando chegaram ao quarto ficaram encantadas, o quarto era imenso, com uma cama box gigante e escrivaninhas com lanternas para a leitura, tinha um espelho da altura da parede, uma janela imensa e um banheiro com hidromassagem, mas Jade estava estranha. Pandora foi até Jade e deu um beijo em sua amada.

- Jade? Está tudo bem?

- Sim... Eu só... Não sei - Jade foi até a enorme janela do quarto e viu o cais e o mar após ele - Não me sinto bem nesse lugar.

- Talvez eu saiba o motivo.

Jade virou-se e Pandora a acertou com um soco inglês jogando-a no chão.

- Pandora... - Jade cospe sangue - Está louca?

Quando Jade tenta levantar é atingida de novo.

- Não quero te machucar...

- Oh, não? Mas é claro que quer - Pandora foi andando em direção à Jade - Faz parte da sua natureza monstruosa e animalesca! Você nada mais é que um monstro!

Jade chutou Pandora na barriga que cambaleia. Jade levanta, segura Pandora pelos cabelos e bate a cabeça dela no espelho, quando vê que esta cai ao chão corre para a porta, ela ia fugir para pedir ajuda, mas antes que pudesse chegar à porta sente uma pressão no peito, uma queimação nas costas que não só a paralisa, mas também a derruba, era um tiro.

- Oh Jade! Como pode ser tão inocente...

- Pandora... Por quê?

- Ora, porque é o legado da minha falecida família.

- Você é descendente do Penny Haminton! Por isso criou as indústrias Haminton, para localizar monstros que vivem entre humanos... - Jade se arrastava pelo tapete tentando alcançar sua mala ao pé da cama.

- Oh não querida. Eu sou Penny Haminton. Por acaso procura isso? - Ela levanta a mão exibindo o colar de Jade, um amuleto que ganhou de Lucinda, ele continha a imortalidade das sereias, o poder da cura e da ressurreição em um pequenino frasco que Lucinda ganhou de um outro amigo cigano.

- Por favor... Me dá isso Pandora... Se eu não estiver com ele em mãos... Vou morrer... - Jade se arrastava deixando para trás um rastro de sangue.

- Acho não entendeu... - Penny joga o colar dela pela janela e tira do bolso um próprio amuleto que o faz voltar a sua verdadeira forma masculina, um homem branco de olhos e cabelos negros e braços fortes - Não me chamo Pandora, sou o verdadeiro Penny. Ah, a magia dos mares é tão poderosa quanto a imortalidade das sereias, ela nos dá poderes extras, o consegui à anos fazendo o que sei fazer de melhor, caçando uma sereia. Mas você é o meu troféu, a última vampira de toda a história da existência dos monstros. - Ele levanta a cabeça de Jade pelo cabelo - Farei questão de pôr sua cabeça em meu escritório.

- Eu confiei em você... - Lágrimas correram em seu rosto - Vivemos juntos por três anos, trabalhamos juntos há cinco... Você disse que me amava...

Jade estava sem forças, ultrapassou eras, sobreviveu a tochas e facões, a cães e cassetetes, às duas grandes guerras e à todo o preconceito que sofreu por ser negra, mas não tinha força para lidar com a traição, ela de fato se apaixonara por Pandora, pela Pandora que havia dentro de Penny.

- Você disse que me amava...

- Ora querida... - Ele beijou Jade em sua testa - Sou um estrategista, e não seria o amor a maior estratégia de todas? - Penny sentou em cima do corpo de Jade.

Ele segurava em sua mão direita a mesma faca que usou para matar os pais de Jade.

- Eu realmente te amei enquanto era Pandora, mas agora sou Penny. - Ele perfurou o coração de Jade, ela morreu como seus pais, sufocou-se com a hemorragia e é em seguida virou pó.

- É uma pena, era tão linda.

O EstrategistaWhere stories live. Discover now