Médiuns Videntes

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   Os médiuns videntes são dotados da faculdade de ver os Espíritos. Alguns gozam dessa faculdade em estado normal, quando perfeitamente acordados, e conservam a lembrança precisa do que viram. Outros só a possuem em estado sonambúlico ou próximo do sonambulismo. É raro que esta faculdade seja permanente; resulta, quase sempre, de uma crise passageira. Podemos incluir, na categoria dos médiuns videntes, todas as pessoas dotadas de dupla vista. A possibilidade de ver os Espíritos quando sonhamos não deixa de ser uma espécie de mediunidade, mas não constitui, propriamente falando, a mediunidade de vidência.”.

    O médium vidente julga ver com os olhos, como os que são dotados de dupla vista; mas, na realidade, é a alma quem vê, razão pela qual eles tanto veem com os olhos fechados como com os olhos abertos. Consequentemente, um cego pode ver os Espíritos, da mesma forma que outro que tem visão normal. Seria interessante fazer-se um estudo sobre este último ponto, a fim de se verificar se esta faculdade é mais frequente nos cegos. Espíritos que na Terra foram cegos nos disseram que, quando vivos, tinham, pela alma, a percepção de certos objetos e que não se encontravam mergulhados em completa escuridão.

    É preciso distinguir as aparições acidentais e espontâneas da faculdade propriamente dita de ver os Espíritos. As primeiras são frequentes, sobretudo no momento da morte das pessoas que o vidente amou ou conheceu e que o vêm prevenir de que já não pertencem a este mundo. Há inúmeros exemplos de fatos deste gênero, sem falar das visões durante o sono. De outras vezes, são parentes ou amigos que, embora mortos há mais ou menos tempo, aparecem para avisar de um perigo, dar um conselho ou pedir um serviço. O serviço que o Espírito pode solicitar consiste, geralmente, na execução de uma coisa que não lhe foi possível fazer em vida ou o socorro das preces. Estas aparições constituem fatos isolados, que apresentam sempre um caráter individual e pessoal, e não efeito de uma faculdade propriamente dita. A faculdade consiste na possibilidade, se não permanente, pelo menos muito frequente, de ver qualquer Espírito que se apresente, ainda que seja absolutamente estranho ao vidente. É esta faculdade que constitui, propriamente falando, o médium vidente.

      Entre esses médiuns, existem aqueles que só veem os Espíritos evocados, cuja descrição podem fazer com minuciosa exatidão, com todas as suas particularidades, gestos, expressão da fisionomia, os traços do semblante, as roupas e até mesmo os sentimentos de que parecem animados. Há outros em quem a faculdade da vidência é ainda mais ampla: veem toda a população espiritual do ambiente, a se mover em todos os sentidos, como se estivesse cuidando de seus afazeres habituais.

      Certa noite assistimos à representação da ópera Obéron, em companhia de um médium vidente muito bom. Havia no salão grande número de lugares vazios, muitos dos quais, no entanto, estavam ocupados por Espíritos que pareciam participar do espetáculo. Alguns se colocavam junto de certos espectadores, dando a entender que escutavam as suas conversas. No palco se desenrolava outra cena: por trás dos atores muitos Espíritos, de humor jovial, se divertiam em arremedá-los, imitando seus gestos de modo grotesco; outros, mais sérios, pareciam inspirar os cantores e fazer esforços para lhes dar mais energia. Um deles se conservava sempre junto de uma das principais cantoras. Julgamos as suas intenções um tanto levianas e o evocamos após o término do ato. Ele nos atendeu ao chamado e reprovou com severidade o nosso julgamento temerário: “Não sou o que pensas: sou o seu Guia e seu Espírito protetor e estou encarregado de dirigi-la”. Depois de alguns minutos de uma palestra muito séria, ele nos deixou, dizendo: “Adeus; ela está em seu camarim; é preciso que eu vá vigiá-la”. Em seguida, evocamos o Espírito Weber, autor da ópera, e lhe perguntamos o que achava da execução de sua obra. “Não foi de todo má, mas foi fraca. Os atores se limitam a cantar. Faltou inspiração.” Depois acrescentou: “Espera, vou tentar dar-lhes um pouco do fogo sagrado”. Logo foi visto no palco, pairando acima dos atores. Partindo dele, uma espécie de eflúvio se derramava sobre os intérpretes, aumentando-lhes consideravelmente a energia.

Eis outro fato que prova a influência que os Espíritos exercem sobre os homens, sem que estes o percebam. Assistíamos, como naquela noite, a uma representação teatral, com outro médium vidente. Conversando com um Espírito espectador, disse-nos ele: “Estás vendo aquelas duas senhoras que estão sozinhas, naquele camarote de primeira classe? Pois bem! Posso fazer que deixem o salão”. Dizendo isso, o médium o viu ir colocar-se no camarote em questão e falar às duas. De repente as damas, que se mostravam muito atentas ao espetáculo, se entreolharam, parecendo consultar-se mutuamente. Depois se foram e não mais voltaram. O Espírito então nos fez um gesto cômico, para mostrar que cumprira a palavra. Não o tornamos a ver, para pedir-lhe maiores explicações. É assim que muitas vezes testemunhamos o papel que os Espíritos desempenham entre os vivos. Observamo-los em diversos lugares de reunião, em bailes, concertos, sermões, funerais, casamentos etc., e por toda parte os encontramos atiçando paixões más, soprando discórdias, provocando rixas e se regozijando com as suas proezas. Outros, ao contrário, combatiam essas influências perniciosas, porém, raramente eram ouvidos
A faculdade de ver os Espíritos pode, sem dúvida, desenvolver-se, mas é uma daquelas cujo desenvolvimento deve processar-se naturalmente, e não provocado, caso não se queira ser joguete da própria imaginação. Quando o gérmen de uma faculdade existe, ela se manifesta por si mesma.

Em princípio, devemos nos contentar com as que Deus nos concedeu, sem procurarmos o impossível. Quem quer ter demais, acaba correndo o risco de perder o que já tem.

      Quando dissemos que os casos de aparições espontâneas são frequentes (item 107), não quisemos dizer que sejam muito comuns. Quanto aos médiuns videntes propriamente ditos, ainda são mais raros e há muito que desconfiar dos que pretendem gozar dessa faculdade. É prudente só lhes dar crédito diante de provas positivas. Não nos referimos sequer aos que alimentam a ridícula ilusão de ver os Espíritos glóbulos, que descrevemos no item 108; falamos apenas dos que dizem ver os Espíritos de modo racional. Algumas pessoas, sem dúvida, podem enganar-se de boa-fé, mas outras também podem simular esta faculdade por amor-próprio ou por interesse. Neste caso, deve-se levar em conta principalmente o caráter, a moralidade e a sinceridade habituais; todavia, é sobretudo nas particularidades que se pode encontrar o meio mais seguro de controle das manifestações, já que existem.

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